sexta-feira, 15 de junho de 2012

PERGUNTAS QUE NÃO FORAM FEITAS

Por Carlos Chagas.
Claro que não era o foco da CPI do Cachoeira, muito  menos o palco para análise da performance administrativa do depoente, mas melhor ficariam deputados e senadores se ao invés de indagar sobre as relações de  Agnelo Queirós com Carlinhos Cachoeira,  tivessem perguntado porque a capital do país virou  um completo caos.
Ninguém duvidou  da negativa do  governador  sobre qualquer  relacionamento com o bicheiro, que também   jamais viu, tratando-se todas as acusações contra ele  de simples  tertúlias  políticas. Ele ficaria em dificuldades, porém, caso perguntado sobre a falência do sistema público de saúde, a falta de médicos e de vagas nos hospitais, a insegurança  do cidadão que fica na rua depois do pôr do sol, os sucessivos seqüestros relâmpago, a balbúrdia verificada no trânsito, as ruas e avenidas esburacadas, as escolas onde chove dentro e o abandono das cidades satélites. E muita coisa a mais,  demonstrando o desgoverno atual, não obstante o auto-elogio feito de corpo presente pelo governador.  
Desafortunadamente, o objeto da CPI referia-se às atividades de Carlinhos Cachoeira, desta vez no Distrito Federal. Quem sabe no futuro venha a ser constituído outro grupo investigativo capaz de dar à sociedade as respostas que não recebe faz muito...
O  PARAÍSO DA BANDIDAGEM.
Decisões da Justiça não se discutem. Cumprem-se. Carlinhos Cachoeira será posto em liberdade caso o pleno do Tribunal Regional Federal da Primeira Região confirme o voto do desembargador Fernando Tourinho Neto, anulando as escutas telefônicas da Operação Montecarlo, da Polícia Federal.  O argumento do  meretíssimo é de que o juiz federal encarregado do processo não justificou suficientemente o uso  da escuta telefônica. Assim, concedeu habeas-corpus para a anulação das provas contra o bicheiro, suspendendo a ação penal.
Haverá que aguardar o pronunciamento da corte, mas, convenhamos, a libertação de Cachoeira vai contra tudo o que ainda resta de crédito das instituições democráticas. A anulação, se concedida por inteiro, colocará em risco o funcionamento da própria CPI e do inquérito contra o senador Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado. Será o paraíso da bandidagem.
SEM EXPLICAÇÃO.
Do depoimento do governador de Goiás, Marconi Perilo, ficaram duas dúvidas: por que negou-se  abrir mão de seu sigilo bancário, fiscal  e telefônico? Tem algo a esconder?
Da mesma forma, se a operação de venda de sua mansão em Goiânia transcorreu sem participação de Carlinhos Cachoeira, por que o bicheiro morava no local, onde inclusive foi preso? Mera coincidência?
EXAGEROS.
Getúlio Vargas matou-se na manhã de  24 de agosto de 1954. Naquela mesma tarde um de seus algozes, Carlos Lacerda, deu entrevista às emissoras de rádio sugerindo a mudança do nome da tradicional Avenida Presidente Vargas para Avenida Castro Alves, no Rio.  Uma infeliz proposta que não pegou. Até hoje prevalece a natureza das coisas, ou seja, a Avenida Presidente Vargas continua lá, porque só se apaga o passado nas ditaduras, mesmo quando da inversão de  situações e partidos  políticos no poder. 
Filinto Muller foi figura malvista por ter chefiado a Polícia Federal nos tempos da ditadura do Estado Novo. Não escaparia de uma Comissão da Verdade caso criada naqueles idos. Depois virou senador, tendo apoiado o regime militar de 1964 com rara diligência. Morreu num desastre de avião, em Paris.  Para homenageá-lo, bem ou mal, colegas senadores deram seu nome a uma das novas alas do Senado.
Agora querem trocar a  designação da ala. Trata-se de outra bobagem.  Se a moda pega, quem garante que o que for mudado hoje não será restabelecido amanhã?

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