Por Carlos Chagas.
Agora, faltando três dias para o início do julgamento, prepara-se o país para assistir a maior concentração de grandes advogados por metro quadrado, no plenário do Supremo Tribunal Federal, a partir de quinta-feira. Defenderão os 38 réus do mensalão utilizando o brilho de suas longas e profícuas trajetórias dedicadas ao Direito. Parece impossível supô-los todos derrotados na inglória tarefa de patrocinar bandidos, estabelecendo-se entre eles amarga tertúlia, já que a absolvição de uns redundará na condenação de outros. Se um dia esses causídicos de excepcional renome pensaram atuar juntos, faz tempo que abandonaram o sonho. Do dia 2 em diante, será cada um por si, sob os holofotes da mais alta corte nacional de justiça. Equivale a dizer, sem possibilidade de recorrerem ao artifício de recursos, protelações e filigranas jurídicos, já que as sentenças do Supremo são irrecorríveis e definitivas.
Depois das cinco horas de acusação a cargo do Procurador Geral da República, nos dias subseqüentes cada advogado dos 38 réus disporá de uma hora para a defesa. Nenhum deles parece inclinado ao improviso, todos estarão passando o fim de semana debruçados em seus arrazoados e até diante do espelho. Ainda que venham a falar sem recorrer a textos lidos, saberão exatamente o momento de promover cada um dos gestos de efeito. Conhecem o lugar das vírgulas e o momento da meteórica e emocional interrupção em suas intervenções.
Para os advogados estarão voltadas as atenções do país inteiro, uma excelente oportunidade para se ilustrarem os estudantes de Direito. O último canto daqueles que não conseguirem a absolvição de seus clientes será acompanhá-los do plenário até a cadeia da Polícia Federal. Pelo rito tradicional, mesmo não devendo comparecer ao julgamento, os mensaleiros que forem condenados precisarão estar presentes no plenário para ouvir de viva voz a extensão de suas penas. A menos que alguns já se encontrem fora do Brasil ou em vias de escafeder-se.
NÃO HÁ COMO QUEBRAR O SILÊNCIO.
Quanto à CPI do Cachoeira, retomará seus trabalhos esta semana sem ter ainda resolvido o grande enigma: como fazer falar os depoentes que venham a alegar o direito constitucional de ficar calados? Nem Carlinhos Cachoeira e Marconi Perillo, se forem convocados outra vez, nem Fernando Cavendish nem quantos pretendam valer-se da prerrogativa de não produzir provas contra eles mesmos.
Parece sombrio o futuro da CPI, caso suas atividades limitem-se ao exame das degravações de telefonemas que a Polícia Federal promoveu. Sempre poderão realizar-se diligências, investigações e coleta de provas documentais contra a quadrilha, mas deputados e senadores não são delegados de polícia, carecendo de qualidades para obter material corriqueiro nas delegacias.
A solução para não ver libertados e felizes os responsáveis pelos escândalos chefiados pelo bicheiro está em mãos da Justiça Federal, à qual caberá condenar os culpados, desde que encontradas provas de seus crimes.
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