domingo, 29 de julho de 2012

O AMARGO DEVER DOS ADVOGADOS


Por Carlos Chagas.
Agora, faltando três dias para o início do julgamento,  prepara-se o país para assistir a maior concentração de grandes advogados por metro quadrado, no plenário do Supremo Tribunal Federal, a partir de quinta-feira.  Defenderão os 38 réus do mensalão utilizando o brilho de suas longas e profícuas  trajetórias dedicadas ao Direito. Parece impossível supô-los todos  derrotados na inglória tarefa de patrocinar  bandidos, estabelecendo-se entre eles amarga tertúlia, já que a absolvição de  uns redundará na condenação  de outros. Se um dia esses causídicos de excepcional renome pensaram atuar juntos, faz tempo que abandonaram o sonho. Do dia 2 em diante,  será cada um por si, sob os holofotes da mais alta corte nacional de justiça. Equivale a dizer, sem possibilidade de recorrerem ao artifício de recursos, protelações e filigranas jurídicos, já que as sentenças do Supremo são irrecorríveis e definitivas.
Depois das cinco horas de acusação a cargo do Procurador Geral da República, nos dias subseqüentes cada advogado dos 38 réus disporá de uma hora para a defesa. Nenhum deles parece inclinado ao improviso, todos estarão passando o fim de semana  debruçados em seus arrazoados e até diante do espelho.  Ainda que venham a falar sem recorrer a textos  lidos, saberão exatamente o momento de promover cada um dos gestos de efeito. Conhecem o lugar das vírgulas e o momento da  meteórica e emocional interrupção em  suas intervenções.
Para os advogados estarão voltadas as atenções do país inteiro,  uma excelente oportunidade para se ilustrarem os estudantes de Direito. O último canto daqueles que não conseguirem a absolvição de seus clientes será acompanhá-los do plenário  até a cadeia da Polícia Federal.  Pelo rito tradicional, mesmo não devendo  comparecer  ao julgamento,  os mensaleiros  que forem condenados precisarão estar presentes  no plenário  para ouvir de viva voz  a extensão de suas penas. A menos que alguns já se encontrem fora do Brasil ou em vias de escafeder-se.
NÃO HÁ COMO QUEBRAR O SILÊNCIO.
Quanto à CPI do Cachoeira, retomará seus trabalhos esta semana sem ter ainda resolvido o grande enigma: como fazer falar os depoentes que  venham a alegar o direito constitucional de ficar calados? Nem Carlinhos Cachoeira e Marconi Perillo,  se forem  convocados outra vez, nem Fernando Cavendish nem quantos pretendam valer-se da prerrogativa de não produzir provas contra eles mesmos.
Parece sombrio o futuro da CPI, caso suas atividades  limitem-se ao exame das  degravações de telefonemas  que a Polícia Federal promoveu. Sempre poderão realizar-se diligências, investigações  e coleta de provas documentais contra a quadrilha, mas deputados e senadores não são delegados de polícia, carecendo de qualidades para obter material corriqueiro nas delegacias. 
A solução para não ver libertados   e felizes os responsáveis pelos escândalos chefiados pelo bicheiro está em mãos da Justiça Federal, à qual caberá condenar  os culpados, desde que encontradas provas de seus crimes.

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