quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

QUEM VIVER, VERÁ ! ! !

Governo promete corte recorde para frear inflação.
Bloqueio de R$ 50 bi, porém, é insuficiente para atingir meta de economia do ano.
Setores do Orçamento afetados não foram divulgados; ministra afirma que área social e PAC serão poupados.
GUSTAVO PATU
VALDO CRUZ
MÁRIO SÉRGIO LIMA
Pressionado pela piora das expectativas para a inflação, o governo reduziu a previsão de crescimento econômico e precipitou o anúncio de um bloqueio recorde de gastos de R$ 50 bilhões, mesmo sem ter concluído estudos sobre que setores e programas serão atingidos.
No entanto, o ajuste -ou a "consolidação fiscal", eufemismo inaugurado pelo ministro Guido Mantega (Fazenda)- anunciado ontem é insuficiente para atingir a meta de superavit primário, ou seja, da parcela da receita destinada ao abatimento da dívida pública.
Análise dos poucos dados e projeções divulgadas pelo governo mostra que o corte produziria neste ano superavit equivalente a 2,9% do Produto Interno Bruto, abaixo da meta de 3,1% descumprida desde 2009.
Para a meta integral, seria necessário um corte adicional de R$ 8 bilhões (ver quadro nesta página).
O objetivo dos cortes é esfriar a economia por meio da redução do consumo, principalmente, e do investimento público. Espera-se, dessa forma, ajudar o Banco Central a segurar a inflação com menor necessidade de aumento dos juros.
Não por acaso, a estimativa oficial para o crescimento da economia caiu de 5,5% para 5% -o mercado trabalha com 4,6%. No anúncio, Mantega procurou ler os números com otimismo.
"Essa consolidação fiscal não é o velho ajuste fiscal, tradicional, que se fazia no passado. Não se trata daquele ajuste fiscal que derruba a economia, que leva a economia à recessão, que leva a retração do investimento e do emprego", disse Mantega.
"Por isso usamos outro nome", afirmou.
Na campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff havia negado a necessidade de um ajuste fiscal, apesar da visível piora das contas do governo em razão do aumento de despesas sociais, com o funcionalismo e obras.
Após tomar posse, ela decidiu encomendar cortes à sua equipe. O número de R$ 50 bilhões, antecipado pela Folha, era defendido pelo Ministério da Fazenda.
A presidente, porém, ainda não estava convencida desse valor. Optou por ele depois do resultado da inflação de janeiro, o pior desde 2005.
Não foi o único compromisso de campanha derrubado pelo anúncio de ontem: a desoneração da folha de pagamento das empresas, que encabeçaria uma proposta de reforma tributária, agora depende de um ganho inesperado de arrecadação.
Ou então, como disse Mantega, o governo teria de compensar a perda de receita por conta da desoneração da folha com um ajuste na alíquota de outro imposto.
A ministra Miriam Belchior (Planejamento) voltou a negar que a área social e o PAC serão afetados pelos cortes de gastos, cujo detalhamento só deverá ficar pronto na próxima semana.
Mas, reservadamente, integrantes da área técnica avaliam que novas obras, incluindo promessas como a construção de novas creches e prontos-socorros, dificilmente andarão neste ano.

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