Por Carlos Chagas
A presidente Dilma mandou, o ministro Aldo Rebelo aplaudiu e cumpriu, e o secretário-geral da FIFA, Jerôme Valcke, se desembarcar no Brasil esta semana ou na próxima, será como turista. Jamais como interlocutor da entidade internacional para vistoriar obras destinadas a abrigar a Copa do Mundo de Futebol, desde estádios em construção a avenidas, transportes coletivos, hotelaria e demais setores ligados ao certame. As referências do gringo aos preparativos que nos cabem foram consideradas impertinentes, descabidas e impróprias.
Esse comportamento de M. Valcker terá reflexos na votação da Lei da Copa, pela Câmara dos Deputados, nos próximos dias. Certas exigências descabidas da FIFA serão desconsideradas, como a obrigação do governo brasileiro de proibir greves nas capitais onde os jogos se realizarão, a venda apenas da cerveja patrocinadora, nos estádios, e a proibição da exposição de produtos concorrentes no comércio próximo dos locais das partidas. Seriam inconstitucionais, essas e outras imposições.
A pergunta que se faz é sobre que reação terá o presidente Joseph Blatter. Dará razão ao secretário-geral, para quem precisaríamos levar um chute no traseiro para apressar a votação da nova lei e a conclusão das obras? Ameaçará retirar do Brasil a realização da Copa?
A FIFA tem muito mais a perder com qualquer mudança drástica, depois de haver perdido a compostura e, certamente, alguns contratos polpudos que irrigariam seus cofres, sem referir a conta bancária de seus dirigentes.
O que importa, agora, é o governo manter a firmeza. Não recuar da necessária reação da presidente Dilma e do ministro dos Esportes.
TODO CUIDADO É POUCO.
Pelo Datafolha, José Serra disparou. Dispõe de mais de 30% das preferências paulistanas, quando seu concorrente real, Fernando Haddad, não passa dos 3%. Só que tem um problema: na disputa de 2010 pela presidência da República, quando confirmada a candidatura de Serra, era mais ou menos a mesma a proporção que o separava da recém-lançada candidata Dilma Rousseff, proposta pelo Lula. Em festa, a tucanada preparava-se para reassumir o poder. Depois, foi o que se viu.
Um pouco de cautela não fará mal a ninguém. Menos para o Tiririca, que se vier mesmo a ser registrado pelo Partido da República, continuará repetindo que pior não fica...
O PERIGO DAS CAMPANHAS.
Em 1950 Getúlio Vargas havia sido eleito para voltar ao poder. Naqueles idos, sem toda a parafernália eletrônica de comunicação, os candidatos não eram monitorados como hoje. A posse estava marcada para 31 de janeiro do ano seguinte e Getúlio descansava na fazenda de amigos, no interior do Rio Grande do Sul. Ignorava-se quando chegaria ao Rio para começar a compor o ministério e anunciar suas primeiras propostas de governo.
Os principais jornais destacaram seus melhores repórteres para permanecer de plantão na calçada da avenida Rui Barbosa, no Flamengo, no Rio, onde o presidente eleito tinha seu apartamento particular. Num determinado começo de noite, Getúlio sai de um táxi, junto com um amigo, espantando-se pelo grande número de jornalistas e os flashes que pipocaram à sua chegada. Ali mesmo, na calçada, concede sua primeira entrevista coletiva na antiga capital. Recebeu todo tipo de perguntas, falando que seu ministério seria “da experiência”, para deixar desconfiados seus futuros ministros. Depois de uma hora, não havia mais o que perguntar, o presidente já se dirigia para o elevador quando nota um jovem repórter que permanecera calado o tempo todo, com uma característica especial: levava nas costas uma espécie de paraquedas, imenso como eram na época os gravadores. Tratava-se de um radio-repórter dos Diários Associados, Mário Garófalo, então começando na profissão.
“Então, meu filho, você não perguntou nada?”
Décadas depois, Garófalo contava com muita graça que de tão nervoso não conseguia engrenar qualquer pergunta. Até porque, todas já haviam sido feitas. A primeira que lhe veio foi: “o que o senhor acha da campanha das Lojas Gebara para baratear o custo de vida?”
Uma indagação estapafúrdia, desconexa, que nada tinha a ver com o novo governo, publicidade que estava em todas as emissoras de rádio desde o final do ano anterior, patrocinada pela grande cadeia de lojas especializadas em vender tecidos.
Getúlio espantou-se, os outros jornalistas começaram a rir. Garófalo teve ímpetos de atravessar a avenida e jogar-se no mar, ali defronte, mas ouviu a resposta: “Acho muito boa, muito oportuna essa campanha das Lojas Gebara”.
De volta à redação o jovem jornalista contava o episódio e anunciava estar deixando a profissão, por incapacidade total de segui-la, quando um diretor ia passando, ouviu e avançou para ele: “onde está essa gravação? Dê-me, imediatamente”.
As gravações eram feitas em fio, em vastas bobinas, que passaram às mãos do diretor, sem mais uma palavra.
Do dia seguinte em diante, em todas as estações de rádio a propaganda havia mudado. Com o mesmo jingle de introdução das Loja Gebara, “as que mais barato vendem”, entrava um locutor anunciando: “agora, ELE vai falar”. Seguia-se a voz do até hoje mais popular de nossos presidentes da República: “acho muito boa, muito oportuna essa campanha das Loja Gebara”.
Mário Garófalo continuou na profissão, tornou-se proprietário de uma emissora, das mais ouvidas em Brasília. Não recebeu um centavo sequer, pela colaboração que multiplicou o faturamento dos Diários Associados.
Toda essa história se conta a propósito de investidas nem tão ingênuas quanto as de Garófalo sobre Getúlio Vargas, mas de publicitários que pretendem vincular José Serra a uma determinada campanha de propaganda...
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