Por Carlos Chagas.
Aguarda-se para os próximos dias o início do funcionamento da CPI do Cachoeira, afastadas pela maciça maioria parlamentar as dificuldades que pareciam obstar sua formação. A pergunta mais ouvida na Praça dos Três Poderes era sobre o porque de tamanha manifestação em favor da apuração de graves denúncias de corrupção envolvendo políticos e bandidos.
Teria sido porque o Lula mandou? Quem sabe para demonstrar a Dilma que ela não manda tanto assim? Insubordinação do PT diante da presidente da República? Devoção plena ao antecessor? Manobra das oposições para tentar atingir o governo, com o apoio de setores governistas insatisfeitos com a distribuição de cargos e a liberação de verbas?
Seria bom buscar a natureza das coisas. A CPI se constitui por conta da necessidade de o Congresso demonstrar que não compactua com os malfeitos de alguns de seus integrantes, de governantes e de empresários. Protelar a CPI equivaleria deixar as instituições em frangalhos, como pareceu estar se verificando. Claro que interesses menores também pesaram, mas o principal foi o desejo de expor os ladrões diante da opinião pública.
NAS GRAÇAS DO POVO E DO CONGRESSO...
Em 1976, na China, com o presidente Mao ainda vivo e o “bando dos quatro” na plenitude do poder, ouvi centenas de vezes a cantilena de que “os ventos direitistas de Teng Xiauping não removeriam o país de seus gloriosos destinos”. Era tempo de radicalismo, exacerbado pela anterior revolução cultural. Quatro meses depois, o “bando dos quatro” estava na cadeia e Teng Xiauping dava início à maior das mutações verificadas na sociedade chinesa, com a adoção do capitalismo das massas e a vertiginosa ascensão da China na economia mundial. Pouco depois chegou a Brasília, como embaixador, o funcionário que me acompanhara num périplo de 20 dias pelo território chinês. Num jantar na embaixada, cobrei dele aquela reviravolta surpreendente: “você dizia horrores do Teng e agora o exalta, como seu representante no Brasil!” Resposta pronta: “é que agora ele caiu nas graças do povo...”
Bem que eu poderia referir essa milenar sabedoria para justificar porque, na coluna de ontem, duvidei de que deputados e senadores dessem número para a formação da CPI do Cachoeira e, horas depois, mais de 400 parlamentares estavam assinando o devido requerimento. Seria explicação dizer que a CPI caiu nas graças do Congresso em tão pouco tempo? Melhor reconhecer que errei feio na interpretação do episódio.
SANGUE DE QUEM?
O PMDB ficou na espreita. Seus principais líderes preferiam que a CPI não se constituísse. O presidente do partido, senador Waldir Raupp, repetiu ontem que vai correr sangue: “será a mais sangrenta de todas as CPIs”.
Indaga-se: sangue de quem? Se for apenas dos corruptos, menos mal. O diabo é que os corruptos podem estar em todos os partidos, do PT ao PSDB e o DEM. Até no PMDB. Em governos estaduais e no governo federal, também.
A VERDADE PRÓXIMA
No despacho de ontem com a presidente Dilma, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, terá levado sugestões para a nomeação dos sete integrantes da Comissão da Verdade. Não deve demorar muito o anúncio formal do grupo e o conseqüente início dos trabalhos. Na bolsa de cotações continuam falados José Gregori, Paulo Sérgio Pinheiro e Célio Borja. E D. Evaristo Arns, não fosse sua idade avançada.
Em janeiro especulava-se que o principal acontecimento político do ano em curso seria a eleição municipal de outubro. Ledo engano. O julgamento dos réus do mensalão, a CPI do Cachoeira e a Comissão da Verdade devem prender as atenções nacionais com muito mais intensidade.
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