Por Carlos Chagas.
No que depender do novo
presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Brito, ontem empossado, dentro de
um mês começará o julgamento dos 38 réus do mensalão. Claro que se até lá o
ministro-revisor do processo, Ricardo Levandowski, terminar seu relatório. O
voto do ministro-relator, Joaquim Barbosa, está pronto. Com base nele, diversos
ministros já começam a preparar suas intervenções.
Por tudo isso, há
tremedeira entre os réus. Não todos, porque alguns aguardam com tranqüilidade a
absolvição. Mas os cabeças, valendo não fulanizá-los, sentem que só escaparão
caso a mais alta corte nacional de justiça não consiga iniciar o julgamento este
ano. Nessa hipótese, a prescrição atingirá a maioria dos crimes de que são
acusados.
Insere-se Ayres Brito
na ante-sala da galeria dos juízes que mudaram a História do Brasil. Entrar e
ter sua fotografia na parede não depende apenas dele, mas sem ele, nada feito.
Discute-se desde os tempos de Ramsés II se os tribunais devem julgar
exclusivamente pelos autos ou se devem pautar suas decisões pela voz rouca das
ruas. O novo presidente do Supremo parece atento ao clamor da opinião pública,
tanto que decidiu iniciar o julgamento o mais depressa possível. Sabe que se
nada acontecer, o Poder Judiciário terminará chamuscado. Não se trata da
exigência de condenações, mas, apenas, da oportunidade de os malfeitos passarem
pelo crivo dos julgadores, que decidirão com toda liberdade. O grave na questão
será se não julgarem os malfeitores, empurrando os processos com a
barriga.
O PRIMEIRO A DEPOR.
Formalizada ontem a
criação da CPI do Cachoeira, prevê-se sua instalação na próxima terça-feira e,
um dia depois, o início dos trabalhos. Dúvidas inexistem de que o primeiro a
depor tem que ser o bicheiro Carlinhos Cachoeira, menos por suas atividades de
corretor zoológico, mais por suas ligações espúrias com políticos, governantes e
empresários.
Diante dessa
evidência é que a Justiça Federal autorizou a transferência de Cachoeira da
penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do Norte, para a Papuda, em
Brasília. Ficará a quinze minutos de distância do prédio do Congresso Nacional,
mas a dúvida reside em saber que decisão tomará seu advogado, o ex-ministro da
Justiça Márcio Thomaz Bastos. Porque expedientes existem. Na própria lei, para
prolatar a convocação. E mesmo admitindo a presença do réu, ninguém garante que
se disponha a responder as indagações da CPI. Será capaz de alegar o princípio
de que ninguém pode produzir provas contra si mesmo ou sustentar que apenas
falará em juízo. Também poderá mentir, dizendo ignorar acusações e acusados de
conluio com ele. Dificilmente Cachoeira se disporá a abrir o jogo e contar tudo
o que fez de ilegal em suas atividades. Sempre restará o relatório da Polícia
Federal, na Operação Monte Carlo, mas fácil não será sua comprovação na CPI.
Mesmo assim, vale a tentativa.
A TERCEIRA PONTA.
A Comissão da Verdade
torna-se a terceira ponta desse triangulo que vai transformando a atividade
política numa delegacia de polícia, junto com o julgamento do mensalão e da CPI
do Cachoeira. Não demora muito a designação pela presidente Dilma de seus sete
integrantes, com dois anos para investigar a participação de agentes do poder
público em práticas de tortura e coisa pior, durante a ditadura militar. Mesmo
sem poderes para punir ou, sequer, para pedir ao Judiciário a punição dos
torturadores, a Comissão da Verdade terá a prerrogativa de apontá-los à opinião
pública, sejam antigos militares, sejam ex-policiais e ex-funcionários de
governos distintos. Parece provável que, ao defender-se, os acusados venham a
expor o outro lado dessa equação de horror, isto é, atos e intenções de suas
vítimas, em especial aqueles que também praticaram crimes. Seria o caso de
convocá-los para esclarecimentos?
TRANSFERÊNCIA DO CONGRESSO.
Nesses dias
tumultuados, salta aos olhos a transferência para um hospital, em São Paulo, de
atividades políticas normalmente previstas para se realizar no Congresso, em
Brasília. Nada a opor que deputados, senadores e o próprio vice-presidente da
República tenham ido buscar conselhos e debater diretrizes no hospital
Sírio-Libanês, onde o José Sarney e o Lula fazem pouso. Trata-se de um
sacrifício a mais para o ex-presidente da República e o presidente do Senado,
ambos às voltas com problemas de saúde. Mas que poderiam ser poupados de tanta
romaria parlamentar e política, isso poderiam...
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