Por Carlos Chagas.
Com todo o respeito, mas a
lambança chegou ao Supremo Tribunal Federal. Conflitos de opinião entre seus
ministros viraram tertúlias pessoais e agora descambam para acusações e
agressões públicas. Tome-se o entrevero entre o ex-presidente Cezar Peluso e o
agora vice-presidente Joaquim Barbosa. Coube ao primeiro levar para a mídia suas
diferenças, chamando o colega de “inseguro, dado a reações violentas,
ofendendo-se por qualquer coisa”.
Barbosa, o primeiro negro a integrar a mais
alta corte nacional de justiça, devolveu o agravo com artilharia pesada:
levantou o tema do racismo, há muito longe de debates na sociedade brasileira,
sentindo-se discriminado, e devolveu as agressões. Rotulou Peluso de “brega,
caipira, desleal, tirano e pequeno”. Acrescentou que o ex-presidente manipulava
resultados de julgamentos e tratou de forma desrespeitosa seu problema de
saúde.
Dias atrás,
estranharam-se os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Este cobrou o
relatório a cargo daquele, ministro-revisor do mensalão, e recebeu conselho
para não se meter em assunto alheio.
O Supremo, desde sua
criação, é constituído por pessoas iguais a todos nós, sujeitas a emoções,
idiossincrasias e amuos. Mesmo assim, se houve roupa suja para lavar, a tarefa
sempre foi feita em casa. Hoje parece diferente, e não se diga ser a culpa da
imprensa. Desde que as sessões passaram a ser transmitidas ao vivo, pela
TV-Justiça, que os meretíssimos vem expondo seus nervos à flor da pele.
O novo presidente,
Ayres Brito, bem que tentou bancar o bombeiro, em seu discurso de posse,
quinta-feira, elogiando ambos os colegas em conflito, mas a longa entrevista de
Joaquim Barbosa, publicada no Globo de ontem, reacendeu a crise.
Sobre o
pronunciamento poético e firme do ministro, há que registrar sua definição a
respeito das decisões do Supremo. Elas devem ter sempre presente a voz das
ruas, pautadas pela razão e o sentimento no ofício, pois “o juiz não é traça de
processo nem ácaro de gabinete e por isso, sem fugir das provas dos autos nem se
tornar refém da opinião pública,tem que levar os pertinentes dispositivos
jurídicos ao cumprimento de sua mediata macrofunção de conciliar o Direito com a
vida”. Mais claro não precisava ser, apesar de nem todos os ministros
concordarem com ele.
INTERREGNO.
O fim de semana
servirá para ajustes na estratégia da CPI do Cachoeira, apesar de os trabalhos
deverem ser pautados pelos versos do poeta espanhol: “caminhante, não há
caminho. O caminho se faz ao caminhar”.
À medida em que forem
sendo tomados os depoimentos, a começar pelo de Carlinhos Cachoeira, outros
depoentes poderão ser convocados. Mesmo diante da quase certeza de que o
bicheiro e empresário não envolverá integrantes de sua quadrilha, a verdade é
que muita gente, para saltar de banda, poderá fazer o contrário. Junte-se a essa
hipótese os conflitos político-partidários e se terá a evidência de porque tanto
governistas quanto oposicionistas buscarão preservar os respectivos
correligionários. Só que não vai ser fácil.
São grandes os
riscos de parlamentares, empresários, governantes e funcionários de governos
acabarem implicados em crimes variados, ainda que apenas à Justiça caberá
condená-los. Mas sem esquecer os Conselhos de Ética da Câmara e do Senado,
capazes de cassar
mandatos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário