Celebrou-se ontem o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Por coincidência, em Brasília, a data transcorreu sob os ecos da intervenção do senador Fernando Collor na CPI do Cachoeira, quando sustentou a importância de manter-se sigilo nas atividades do grupo que investigará o mais recente escândalo político nacional. Faz tempo o ex-presidente declarou guerra aos meios de comunicação, chamando jornalistas de rabiscadores e agora ameaçando o presidente e o relator da CPI com punição, caso vazados detalhes dos trabalhos iniciados agora.
Com todo o respeito, mas as atividades de qualquer CPI são abertas à mídia. Não há segredo para os depoimentos, que a televisão transmitirá ao vivo. Quaisquer iniciativas de seus responsáveis serão públicas. Acresce estar na Internet todo o relatório da Polícia Federal sobre a lambança envolvendo o bicheiro Cachoeira e sua quadrilha. Na Justiça, certos processos podem tramitar em sigilo, mas na CPI, não.
Estaria Fernando Collor querendo reviver os tempos da ditadura militar, quando decretos secretos eram produzidos? Ou, mesmo, imitar o senador José Sarney, que durante algum tempo assinou resoluções secretas na presidência do Senado, envolvendo nomeações de parentes e amigos?
A Constituição estabelece a plena liberdade imprensa. Nenhum jornalista pode ser punido por divulgar informações, exceto as caracterizadas como sigilosas, ligadas à segurança nacional. Se uma CPI é constituída para investigar e elucidar malfeitos, como supor a censura em seus trabalhos?
Não há, no Congresso, quem duvide da cassação próxima do senador Demóstenes Torres. O Conselho de Ética do Senado parece na disposição de decidir o mais rápido possível pela degola do representante de Goiás. Também, quem mandou apresentar-se como dr. Jeckill, quando era mr. Hide? Acresce que não poderá mais renunciar, se for para escapar da inelegibilidade. Poucas vezes um senador terá prestado tamanho desserviço ao Legislativo, apresentando-se como paladino da ética e do Direito, mas, na verdade, atuando como bedel de um bandido.
Importam menos as razões que levaram o delegado Cláudio Guerra a confessar, em livro, sua participação no horror repressivo dos anos de chumbo da ditadura militar. Tornou-se pastor de uma seita evangélica e, assim, arrependeu-se? Tem contas a ajustar com antigos asseclas, como ele empenhados em torturar e assassinar adversários? Seu depoimento é fulminante, por avançar nomes de algozes e de vítimas, com precisão invulgar. Até fornos crematórios eram utilizados para dar sumiço nos corpos dos que haviam sido colocados sob a guarda do poder público. A anistia apagou tudo? De jeito nenhum. Mesmo imunes a punições pelo Judiciário, os torturadores e assassinos devem ser identificados. Nenhum palco mais oportuno se apresenta como a Comissão da Verdade. Seria hora de a presidente Dilma nomear o mais rápido possível seus sete integrantes.
DEVEM EXPLICAÇÕES.
Bem antes de 1964 grupos de empresários contribuíam com altas somas de dinheiro para desestabilizar o governo constitucional de João Goulart. Financiaram o IPES do general Golbery do Couto e Silva, irrigando com farta publicidade os jornalões da época como forma de se integrarem na conspiração. No 31 de março, quando as tropas do II Exército, do general Amaury Kruel, dirigiam-se de São Paulo para o Rio, suas refeições vieram dos mais luxuosos restaurantes de São Paulo. Depois, foi um horror. Era o empresariado nacional e estrangeiro que fornecia recursos, viaturas, infra-estrutura e até armas sofisticadas para as atividades do Doi-Codi e similares. Maior prova não existe do que as ações terroristas contra alguns líderes empresariais. Um deles, Boilesen, foi assassinado. Já que desvendar o passado continua na moda, que tal levantar a ação das elites naquela guerra suja que até hoje produz surpresas?
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