Acuados pelos mercados, governos europeus fazem demonstrações explícitas de genuflexão ortodoxa na esperança de evitar a fuga dos investidores, que ameaçam não financiar mais a dívida pública de Estados quebrados, entre outros motivos, pelo socorro prestado a bancos e empresas durante a crise de 2007/2008.
O colapso das finanças desreguladas transmudou-se assim em maior 'risco soberano', medida de confiança dos mercados nos títulos emitidos pelos Tesouros nacionais. Longe de acabar, o que houve foi uma baldeação da crise que se deslocou da contabilidade particular para a das finanças públicas. A ironia suprema é que para continuar financiando os déficits avultados, os mercados exigem agora que os próprios Estados promovam uma segunda baldeação do arrocho, desta feita para o lombo da população. Desmoralizada mas ainda não desbancada, a cartilha neoliberal dá as cartas de como fazê-lo, ao exigir vigorosos cortes nos gastos sociais para destinar recursos ao pagamento de juros e assegurar o resgates de papéis oficiais. Governantes da Irlanda, Grécia, Inglaterra, Portugal e Espanha já acataram a ordem unida. Ontem, foi a vez da Itália. O governo Berlusconi anunciou medidas de arrocho no orçamento universitário que incluem cortes de verbas para bolsas, redução de tempo das pesquisas, novas regras de admissão, maior papel do setor privado na administração do ensino superior público etc. Como fizeram os gregos, ingleses e irlandeses, a juventude italiana foi às ruas aos milhares. Se os protestos esparsos não se fundirem em gigantescas mobilizações de abrangência européia, porém, o veneno que causou a crise será ministrado em dobro para 'tratar' o agônico metabolismo da outrora trincheira da social-democracia mundial. (Carta Maior; Quinta-feira, 23/12/2010)
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