Por Valdo Cruz, na Folha de São Paulo.
Dilma Rousseff tem manifestado, com frequência, sua preocupação com a inflação. Seus assessores mais próximos, com gabinete no Palácio do Planalto, costumam dizer que ela não quer perder o controle sobre a inflação no seu primeiro ano de governo. Esse discurso faz sentido e estava sendo comprado pelo mercado até pouco tempo atrás. Agora, os ventos parecem mudar. Por quê? Porque analistas do mercado financeiro começam a dar maior importância para o que classificam de ambiguidade do governo Dilma.
Enquanto Dilma insiste aqui e ali que está preocupada com a inflação, seu governo emite sinais de que pode aceitar uma taxa inflacionária um pouco mais elevada neste ano para evitar um tombo na economia. Do Ministério da Fazenda, os analistas ressaltam as falas do ministro Guido Mantega de que a alta da inflação é, basicamente, mundial e não doméstica. E que os cortes no Orçamento não tiveram como alvo principal combater as pressões inflacionárias.
Do Banco Central, a turma do mercado destaca o tom da última ata do Copom (Comitê de Política Monetária). Para muita gente o BC teria sinalizado que não pretende sacrificar em demasia o crescimento econômico em 2011. Esse, por sinal, foi um dos temas da primeira reunião da atual diretoria do Banco Central com economistas do mercado financeiro. O clima do encontro não foi dos melhores.
O resultado dessa avaliação sobre a ambiguidade do governo Dilma se manifestou no relatório Focus desta semana, aquele levantamento feito pelo BC com economistas do mercado financeiro sobre previsões para o desempenho da economia brasileira. Na semana passada, o relatório havia registrado uma previsão de queda na inflação, depois de seguidas expectativas de alta. Agora, as previsões de uma inflação mais elevada voltaram a ser registradas.
Dependesse apenas do mercado, o BC deveria estar sendo mais duro no combate à inflação, subindo mais a taxa de juros. Só que, dentro do governo Dilma, há muita gente defendendo que não se leve muito em conta o que diz o tal de mercado financeiro. Há quem proponha, por exemplo, que o relatório Focus comece a captar também previsões de economistas de fora do sistema financeiro, para evitar que as previsões sobre a economia brasileira fiquem totalmente contaminadas pela visão financista.
O fato é que há, no momento, uma certa tensão no ar. Tudo indica que o Banco Central está disposto a testar um pouco mais a eficácia das tais medidas macroprudenciais, aquelas tomadas pela autoridade monetária para conter o crédito. Medidas normalmente adotadas preventivamente para evitar a formação de bolhas no mercado de crédito. Mas que também têm efeito sobre a inflação, na medida em que encarecem o crédito e desestimulam a população a se endividar.
O mercado entende que esse tipo de medida não foi totalmente testado e o BC pode estar fazendo uma aposta de risco. Se der certo, maravilha, conseguirá trazer a inflação para o centro da meta no próximo ano com baixos custos para a economia. Se der errado, o preço a ser pago para controlar a inflação será bem maior. A conferir.
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