CALOTE ADMINISTRADO PARA EVITAR A PERCEPÇÃO DA PESTE.
Fracassada a via do arrocho ortodoxo, lideranças do euro tentam circunscrever a crise à Grécia, com um oxigênio extra ao país. O superpacote de ajuda ao governo Papandreu, decidido nesta 5º-feira, em Bruxelas, embrulha um calote administrado pelos credores; dobra os prazos de pagamento da dívida de 300 bi de euros; reduz os juros e convoca a banca privada a contribuir -- 'voluntariamente'-- com pelo menos 50 bilhões de euros, entre recompra e rolagem de títulos. Por trás da aparente generosidade de quem há poucas semanas forçou Atenas a aceitar um escalpo épico de gastos e privatizações da ordem de 80 bi de euros, está uma urgência política. Trata-se de dar ao naufrágio grego uma dimensão pontual, singular e datada, que afaste a percepção crescente de um símbolo da aterrisagem contagiosa da crise mundial nos domínios do euro. 'Não faremos algo semelhante --o calote sobre a dívida privada-- para a Irlanda ou Portugal. Não o faremos. A Grécia é um caso único e isolado', disse mais de uma vez o francês Nicolas Sarkozy, ao final do encontro em Bruxelas. O esforço dirigido a acalmar os mercados, que inclui juros menores a Portugal e Irlanda, pretende refrear um sentimento de incerteza que se propaga como peste, provocando calafrios recorrentes na espinha dorsal do euro. A banca européia está engasgada. Seu metabolismo digere quase 50% do valor das subprimes que implodiram o sistema financeiro norte-americano. Uma sucessão de calotes,ainda que parciais, exigiria uma estatização. Ao final dos proclamas de ontem, o dinheiro fugidio voltou ao cocho. As bolsas européias subiram forte. O juro para o financiamento da dívida espanhola caiu um pouco. A ver. (Carta Maior; 6º feira 22/07/ 2011)
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