quinta-feira, 21 de julho de 2011

A LIÇÃO DA GRÉCIA

SAÍDA PARA A CRISE MUNDIAL É IMPOR PERDAS AOS BANCOS E RENTISTAS - A decisiva reunião dos 17 países da zone do euro desta 5ª feira não pode adiar mais uma vez as  respostas ao impasse da Grécia. As hesitações e desencontros  anteriores  agravaram as condições de solvência do país. Contribuíram ademais para acelerar  a espiral de pânico  que  incentivou  a fuga dos detentores de títulos de outras dívidas soberanas, consideradas excessivas. Caso da Itália  e, secundariamente, da Espanha, por exemplo, mas também de Portugal e Irlanda.  Roma e Madrid  assumiram planos de ajuste pesados. Ainda assim pagam atualmente  juros recordes para provar que  não são a nova Grécia  e assim   reter e atrair  compradores de sua dívida. O perigo  de uma ruptura  sistêmica na viga fiscal  que sustenta o euro  acendeu as expectativas em relação às decisões desta 5º feira. No vácuo criado pelas incertezas, algum chão firme deve  ser reconhecido, ainda que ele seja inóspito ao cânone ortodoxo rentista: a) a dívida da Grécia que equivale a 150% do PIB  é impagável: a economia teria que crescer a uma taxa média de  8,4% durante 20 anos para que seu superávit primário permitisse reduzir esse endividamento a palatáveis 60%, como querem a UE e o FMI; b) o plano de arrocho recessivo  imposto a Atenas apenas agrava aquilo que se pretende corrigir, a insolvência  de uma economia sem ponto de fuga  cambial, em meio a um mundo em hibernação de crescimento; c) o tratamento dispensado ao país no escopo ortodoxo de arrocho e privatizações equivale a escalpelar uma Nação e exigir que ela  se reerga pelos próprios cabelos; em outras palavras, o manual  ortodoxo  tornou-se demente e perigoso; d) os títulos da dívida grega valem hoje no mercado menos da metade do seu preço de face; o calote, portanto, está precificado: quem colocou  10 euros  na Grécia só terá de volta, na melhor das hipóteses, 4,50 euros; e) a questão na Grécia e no resto do mundi é política: quem pagará o mico?; f) Ângela Merkel  lidera a corrente que preconiza  perdas aos bancos privados que se locupletaram no ciclo de alta da festa grega; g) a banca europeia, ancorada no terrorismo do BCE e nas fugas de investidores das últimas semanas, chantageia com o  caos: defende que o fundo europeu compre a totalidade dos títulos podres pelo valor de face: coisa de pai para filho;  h) por fim, as  agencias de risco sancionam a proposta da banca de forma canina e ameaçam caracterizar como calote qualquer desconto ou alongamento imposto à  dívida soberana grega.  É sobre esse braseiro faiscante  que os integrantes da cúpula de Bruxelas terão que caminhar hoje. Trata-se de encontrar uma brecha no manual ortodoxo e admitir aquela que é a única saída para a  Grécia e para a crise de um modo geral:  o calote de parte dos ativos em mãos de bancos e rentistas que surfaram durante três décadas no ciclo das finanças desreguladas. (Carta Maior; 5º feira 21/07/ 2011)

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