Por Carlos Chagas.
Ruiu a última escora que sustentava Carlos Lupi no ministério do Trabalho: o deputado Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, passou a sustentar o afastamento do ainda ministro pela necessidade de o partido manter o espaço que detém no governo. Para o “Paulinho da Força”, o risco da permanência de Lupi até a reforma ministerial de janeiro poderá levar a presidente Dilma Rousseff a retirar do PDT o feudo ainda preservado. Outros adversários de Lupi, como o líder Giovani Queirós, partem do raciocínio inverso mas chegam à mesma conclusão: perdendo o ministério do Trabalho o partido terá chances de ganhar outro melhor, menos esvaziado e com mais capilaridade. De qualquer forma, o afastamento do atual ministro é o novo ponto de partida.
Nessa pantomima a grande incógnita está na presidente da República. Por muito menos, ela forçou a saída de seis ministros que lhe tinham sido impostos como Lupi: Antônio Palocci, Nelson Jobim, Wagner Rossi, Pedro Novais, Alfredo Nascimento e Orlando Silva. No caso do ainda ministro, já teria motivos de sobra para mandar o secretário-geral da presidência, Gilberto Carvalho, telefonar e despachá-lo. Não o fez, apesar da arrogância inicial de Lupi, dizendo que não sairia. Alguma estratégia Dilma está seguindo. Ou pretende mesmo tirar o Trabalho do PDT, sem a promessa de compensações, ou esqueceu a frigideira no fogo. Sabe muito bem que o partido criado por Leonel Brizola, do qual ela foi fundadora, continuará de qualquer forma apoiando seu governo, por falta de opções.
O PREÇO DO SUCATEAMENTO.
Falta dinheiro para tudo, na realidade atual, mas quando a carência atinge prioritariamente as forças armadas, dá o que pensar. O Brasil não se encontra envolvido em contendas castrenses com nossos vizinhos nem com qualquer outro país do mundo. Nossos militares engolem sapos em posição de sentido, tendo aberto mão da esdrúxula condição de tutores da nação. Não exigem nada. Mesmo assim, salta aos olhos o sucateamento de suas estruturas. Metade dos navios da Marinha de Guerra não sai das bases navais. Dos aviões da Força Aérea, já quase obsoletos, a maioria obriga-se a permanecer no solo. Helicópteros, tanques e canhões do Exército encontram-se acometidos de paralisia.
Um único porta-aviões dos Estados Unidos dispõe de mais poder de fogo e de ação do que nossas forças armadas. Estamos vulneráveis a qualquer ameaça ao litoral, quanto ao pré-sal mais remeto, sem falar da Amazônia. Nossas fronteiras a oeste só não se encontram em frangalhos iguais porque do outro lado a situação é ainda pior.
Culpar o governo pela débâcle seria pueril, já que nossa inferioridade bélica vem de séculos. Mesmo durante o regime militar, o quadro não era melhor, apesar de dispormos de alguma indústria de armamentos, depois levada à falência. Fazer o quê? Ignorar os conflitos que não nos atingem de perto, mas potencialmente assustadores? Acomodarmo-nos ao papel de subservientes da maior potência militar do planeta, com todas as imposições econômicas e comerciais decorrentes? Eis aí um nó a desatar.
A CAPITAL DO ABANDONO.
Há mais de trinta dias a Polícia Civil de Brasília encontra-se em greve. Apesar da decisão judicial ordenando a volta dos policiais ao trabalho feito. Terão seus motivos, a partir do descumprimento de acordos por parte do governo local, mas quem sofre com a paralisação da maioria dos serviços é a população. Não se registram ocorrências nas delegacias, exceção a crimes de morte e de estupro, mesmo assim insuficientes. A bandidagem exulta, pela falta de ação policial.
Os funcionários da Companhia Energética de Brasília cruzaram os braços, em tempo e reivindicações parecidas, registrando-se todos os dias falta de energia e de luz nas diversas regiões da capital, obrigatoriamente por duas ou três horas, mas alcançando até um dia inteiro. Não há para quem apelar, apesar dos prejuízos para pessoas e empresas.
Indignadas pela falta de serviços, as populações chama a si reações variadas, como ainda ontem montaram barreiras na BR-20, uma das vias de acesso ao Distrito Federal. Na cidade satélite de Planaltina, por falta de transporte público, a multidão impediu o tráfego durante o dia inteiro.
No Setor Noroeste, a poucos quilômetros da Praça dos Três Poderes, abriu-se imensa piscina formada pelo conteúdo de tubulações de esgoto, rompidas por falta de manutenção. O lençol freático já vem sendo atingido, o cheiro insuportável espraia-se pela cidade mas o governo local discute com a empresa encarregada da construção de um edifício a respeito de quem é a culpa.
Os enfermeiros dos hospitais públicos continuam em greve, paralisando a maioria dos serviços ambulatoriais, as intervenções cirúrgicas e até o atendimento de emergência. Como faltam médicos, o caos é completo.
Do trânsito, nem há que lembrar. Desde a posse do atual governador o centro comercial de Brasília costuma parar literalmente, com estacionamentos não mais em fila dupla, mas tripla, sem que apareça um único guarda para botar ordem. Aliás, os funcionários do Detram também se encontram em greve. E a Polícia Militar diz que não é com ela.
Em plena temporada de chuva, basta que se prolongue por mais de meia hora para as bocas de lobo, entupidas, em vez de absorverem a água do céu, jorrarem água da terra, inundando avenidas, passagens de nível e residências.
Por tudo, a segurança do cidadão está posta em frangalhos. Viramos o paraíso dos assaltantes e seqüestradores, mesmo no intervalo entre uma greve e outra dos transportes públicos, verificadas todos os meses.
O problema é que do governador a seus secretários e altos funcionários, todos se encontram imunes à lambança. Dispõem de geradores em suas residências oficiais, abastecimento especial de água, guarda pessoal, carrões, serviçais e até helicópteros. Para que se incomodarem com detalhes que só ao povo interessam?
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