domingo, 20 de novembro de 2011

ESPANHA

A QUARENTENA DA DEMOCRACIA - A  captura do Estado pelos mercados reduz a alternância do poder a um simulacro de democracia ao nivelar partidos e programas aos desígnios da lógica financeira. O atual deslocamento da disputa política para as ruas, a impulsionar as maiores mobilizações de massa registradas no mundo, desde 1968, é uma consequência direta desse rapto. Ele explica também o paradoxo espanhol. Berço mundial dos indignados, a sociedade espanhola deu uma esmagadora vitória ao extremismo conservador nas eleições gerais deste domingo, trazendo de volta ao poder o Partido Popular, de Aznar, agora porém ainda mais forte, com uma maioria parlamentar superior a que desfrutou em 2000, obtendo 186 de 350 deputados. A social-democracia foi triturada perdendo 59 cadeiras, enquanto  pequenos partidos à esquerda cresceram, mas sem ameaçar a robusta supremacia  da direita. 
Sugestivamente, porém, o comparecimento às urnas foi bem inferior ao de 2008, com cerca de 30% de abstenção. O desinteresse, a indecisão e o elevado absenteísmo fazem deste  pleito a síntese de uma Europa esmagada entre a ganância dos mercados e a rendição socialdemocrata ao neoliberalismo. A esperança em um novo ciclo de soberania democrática, que reunifique o comando econômico e político do Estado nas mãos da sociedade, terá que se materializar  a partir das ruas.  (Carta Maior; Domingo; 20/11/ 2011)

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