Por Carlos Chagas.
Regra fundamental do jornalismo é de que não cabe ao jornalista brigar com a notícia. Basta divulgá-la, desde que acorde com o Código de Ética, ou seja, precisa e verdadeira.
A notícia, desde o domingo, é de que a Direita venceu as eleições na Espanha. Não há como contestá-la. O eleitor espanhol preferiu destituir do governo o socialista José Luiz Zapatero e dar o poder ao conservador Mariano Rajoy, do Partido Popular.
Significa o quê, essa reviravolta? Mais, que o cidadão comum mostrava-se insatisfeito com o Partido Socialista Operário. Menos, que empolgou-se com o programa de seus adversários, os conservadores, e por razão muito simples: durante a campanha, Mariano Rajoy manteve-se calado. Pediu votos, mas não apresentou alternativas senão de que a Espanha precisava de austeridade.
Os socialistas já vinham adotando medidas de contenção de gastos, inclusive no plano social. Aumentaram impostos e cortaram salários. É meio fantasioso imaginar que perderam a eleição porque a maioria dos espanhóis insurgiu-se contra os cortes. Seria fazer pouco da capacidade de raciocinar dos peninsulares, porque parecia evidente, mesmo diante do silêncio de seu líder maior, que a segunda receita será ainda mais apimentada, já que a primeira fracassou. Como foi anunciado ontem em Madri, virão mais restrições orçamentárias e aos direitos sociais, assim como reduções nas aposentadorias. E nenhuma iniciativa para superar os 22% de desemprego, a maior taxa da Europa.
Claro que a população espanhola vai aguardar as primeiras iniciativas, depois de janeiro. Mas se já rejeitava a receita socialista, como rejeitou, qual a reação diante do modelo conservador? Dias de perplexidade e até de revolta podem ser esperados na Espanha, em seguida a uma temporada de crédito e confiança no novo governo.
MANTER O MINISTÉRIO.Reúne-se hoje a cúpula do PDT, ainda que não formalmente. Nem a Executiva nem o Diretório Nacional foram convocados, mas, apenas, as principais lideranças e bancadas analisarão a crise. Carlos Lupi mantém a maioria nas diversas instâncias do partido, só uma razão seus companheiros conseguiriam que se exonerasse. Preservar o ministério é o objetivo maior dos pedetistas, superior, mesmo, ao de preservar Lupi. Talvez nessa pequena fissura repouse a chave para a superação do impasse que hoje imobiliza o ministério do Trabalho. Entre ele e o ministro, se a situação chegar a esse ponto, o PDT agradecerá ao líder ainda sobrevivente mas tentará indicar seu substituto.
Estaria a presidente Dilma jogando nessa hipótese e, por isso, ganhando tempo mas sofrendo críticas por não se ter livrado ainda de Lupi? Pode ser, porque aí a equação se inverterá: quem garante que com a reforma de janeiro não serão extintos os feudos partidários em que o ministério dividiu-se? Dois coelhos seria abatidos num só golpe: Lupi e a prevalência do PDT no ministério do Trabalho.
HADDAD NA ENCRUZILHADA.
Fernando Haddad sofre pressões do PT paulista e paulistano para pedir imediatamente demissão do ministério da Educação. Sua presença em tempo integral é exigida pelos companheiros para enfrentar a difícil eleição à prefeitura de São Paulo. Esperar janeiro e a reforma do ministério prejudicará sua candidatura, assim como vem tornando difícil explicar como consegue conciliar os dois encargos. Ficar na capital do estado nos fins de semana iniciados nas sextas-feiras para reuniões políticas e comícios, mantendo-se em Brasília no meio da semana, não equivaleria a dar pouca atenção ao ministério? Estaria a presidente Dilma satisfeita com esse regime de trabalho?
DOIS ELEFANTES.
Defronta-se o governo Dilma, como já se defrontava o governo Lula, com dois elefantes postados no meio do caminho, impedindo o tráfego: o desvio das águas do rio São Francisco e o Trem-Bala. Falta um Juscelino Kubitschek para viabilizar essas duas obras faraônicas ou um Eurico Dutra para interrompê-las. Deixá-las como estão, uma semi-paralisada, a outra no papel mas igualmente consumindo montes de recursos, exprime a certeza do desgaste anunciado. Notícia não se tem, precisa e verdadeira, da real condição da transposição do rio. Canteiros de obras abandonados ou trabalhando muito aquém da programação fazem supor a impossibilidade de a água chegar ao Nordeste ainda nesta década. Quanto à ligação meteórica do Rio a São Paulo e a Campinas, nenhum dormente foi assentado, quanto mais composta a operação de financiamento e implantação, que pode ser chinesa ou coreana, mas jamais italiana ou francesa, como se pretendeu.
Melhor faria o governo se destinasse à recuperação da malha rodoviária posta em frangalhos os recursos de dezenas de bilhões anunciados para essas obras.
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