Gráfica recebe encomenda de bispo para imprimir 2,1 mi de panfletos anti-Dilma
BRENO COSTA
Uma gráfica no bairro do Cambuci, região sudeste da capital paulista, estava imprimindo, na manhã deste sábado, panfletos com um texto de um braço da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) contra o PT e a presidenciável Dilma Rousseff.
Segundo o contador da gráfica, Paulo Ogawa, a encomenda foi feita pela Diocese de Guarulhos (SP). Em julho, o bispo da cidade, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, foi pivô de uma polêmica mobilização contra a petista.
Os papéis são idênticos aos distribuídos em Aparecida (SP) e Contagem (MG) no feriado do último dia 12, durante missas em homenagem ao Dia de Nossa Senhora Aparecida. Eles fazem um "apelo" para que os eleitores não votem em quem é a favor da descriminalização do aborto.
Ogawa, que é pai do dono da Pana Editora e Gráfica, afirma que um assessor do bispo, chamado Kelmon, encomendou a impressão de 2,1 milhões de panfletos --1 milhão no primeiro turno e 1,1 milhão no segundo.
De acordo com o contador, o assessor queria imprimir 20 milhões de panfletos. No entanto, a gráfica não aceitou a encomenda por falta de capacidade.
A gráfica foi descoberta pelo diretório estadual do PT. O deputado estadual Adriano Diogo (PT) afirmou já ter entrado em contato com a direção nacional da campanha de Dilma. Segundo o presidente do PT paulista, Edinho Silva, os advogados da campanha irão à Justiça Eleitoral para impedir a continuidade da impressão.
A reportagem ainda não conseguiu entrar em contato com representante da Diocese de Guarulhos.
PANFLETO
O panfleto é assinado pelos bispos da Regional Sul I da CNBB, responsável pelo Estado de SP. No entanto, isso não significa, necessariamente, que os panfletos tenham sido impressos a pedido da igreja.
A regional é presidida pelo bispo de Santo André (SP), dom Nelson Westrupp. O conteúdo do panfleto também está publicado no site da regional da CNBB.
A posição dos candidatos a presidente em relação ao aborto virou um dos temas principais da campanha, pautando debates entre Dilma e José Serra (PSDB) e os programas de TV dos candidatos.
O panfleto, datado de 26 de agosto, diz que Lula e Dilma assinaram o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, "no qual se reafirmou a descriminalização do aborto".
A defesa da legalização é chamada de "política antinatalista de controle populacional, desumana, antissocial e contrária ao verdadeiro progresso do país".
O texto afirma ainda que, no mesmo congresso em que deu "apoio incondicional" ao plano, o PT aclamou Dilma como candidata.
Ao fim, o panfleto recomenda que os brasileiros "deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto".
A CNBB divulgou uma nota oficial, em 16 de setembro, quando os primeiros panfletos foram distribuídos, afirmando que somente sua Assembleia Geral pode falar em nome da entidade.
No último dia 8, a nota foi reiterada, em que "desautoriza qualquer decisão contrária à da Assembleia Geral, que não vetou candidatos ou partidos".
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