VAGUINALDO MARINHEIRO, enviado especial a COIMBRA.
Nada de brincadeiras com a plateia, de improvisos, de quebras de protocolo.
Ao receber ontem seu primeiro título de doutor honoris causa numa universidade europeia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seguiu à risca rituais do século 18 numa cerimônia na qual tudo é predeterminado, da cor das roupas à proibição de bater palmas.
A titulação, na Universidade de Coimbra, começou às 10h30, na Biblioteca Joanina, construção que ostenta nas paredes o ouro levado do Brasil pelos colonizadores.
De lá saiu um cortejo com os doutores das várias faculdades, identificadas pelas cores dos capelos (capa que vai sobre os ombros).
Amarelo para medicina, vermelho para direito, a que concedeu o título a Lula.
À frente, um quinteto de sopros conduz à marcha. Da torre, tocam os quatro sinos.
Seguem todos para a Sala dos Capelos, construída no século 13.
Lula é o primeiro a falar. Lê seu discurso, por 10 minutos, sem acrescentar nada.
Nele, elogios à presidente Dilma Rousseff, que o acompanha na solenidade, ao vice José Alencar e a si próprio.
Diz que em seu governo o Brasil deixou para trás "um passado de frustração". "Nos últimos oito anos, (o povo brasileiro) realizou, de modo pacífico e democrático, uma verdadeira revolução econômica e social".
Fala, então, da importância do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), "coordenado com talento pela querida companheira Dilma Rousseff".
Por fim, cita Alencar, que morreu na terça-feira: "Nada disse teria sido possível sem a colaboração generosa e leal daquele que foi o meu parceiro de todas as horas, um dos homens mais íntegros que já conheci."
Na sequência, dois professores da faculdade de direito também discursam.
Lembram da educação não-formal de Lula (ele não tem nenhum diploma universitário) para elogiá-lo.
Para um, Lula aprendeu na "universidade da vida trabalhosa e trabalhadora" até adquirir a "sabedoria do inconformismo consequente".
Para outro, é um "intérprete vivo do Brasil".
Alguns dos presentes (como os presidentes de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, e de Cabo Verde, Pedro Pires), parecem cochilar. Lula continua atento, até a hora em que recebe a borla (espécie de chapéu com franjas que significa que ele detém o conhecimento) e o anel (que sinaliza que é doutor).
É quando acontece sua única gafe: começa os agradecimentos antes da hora e é interrompido.
Depois cumprimenta, um a um, os mais de 50 doutores da universidade presentes.
Foram mais de duas horas de cerimônia. Num dia normal, Lula trocaria de roupa e iria comemorar com os brasileiros e alguns portugueses que lá fora gritam seu nome.
Mas o luto por José Alencar desaconselha, e ele entra no carro e vai embora com Dilma com destino ao Brasil.
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