domingo, 10 de abril de 2011

CEM DIAS

Marcos Coimbra,  do Correio Braziliense.
Hoje, ao chegar a 100 dias, o governo Dilma completa uma etapa. Ninguém sabe sua origem, mas é antigo o costume de considerar especial esse momento. É quando se faz o primeiro balanço, a primeira avaliação de como funciona um governo.
Para a opinião pública, não é uma data relevante. Na vida das pessoas, são raríssimas as situações em que 100 dias significam algo. Na família, no trabalho ou nas relações sociais, nada acontece quando são completados. Alguém comemora os 100 dias de nascimento de um filho? De um namoro? De um emprego?
Mas o meio político anda depressa, a imprensa precisa de notícias e estamos habituados às datas redondas. Daí que nos pomos a discuti-los, apesar de saber que nem tanta importância têm.
Na verdade, um novo governo revela-se rapidamente nos seus aspectos fundamentais. Vendo a montagem do ministério, a cerimônia e o discurso de posse, as iniciativas dos primeiros dias, conhecemos logo suas características — para onde pretende ir, de que maneira e com quem — e podemos antecipar como será, pelo menos em seus traços gerais. Não precisamos aguardar 100 dias.
Com o governo Dilma foi assim, pois, desde janeiro, sabemos o que é. De lá para cá, nada de bombástico aconteceu. Para muitos, só isso já é uma virtude.
As pesquisas realizadas no fim de março e neste começo de abril são coerentes e mostram que Dilma tem uma avaliação positiva semelhante à de Lula na mesma época de seu primeiro mandato e maior que no segundo. Para o Ibope, os 56% de “ótimo” e “bom” que ela tem agora não estão distantes dos 51% que seu antecessor alcançava em março de 2003, mas são superiores aos 49% que ele obteve em março de 2007.
Na comparação com FHC, Dilma está bem na frente. Ele tinha, no início de seu governo, em 1995, 41% de respostas positivas e nunca chegou aos 50% no seu transcurso. No segundo governo, tudo foi pior: em março de 1999, foram apenas 22%. A crise cambial e o descontrole monetário levaram sua popularidade ladeira abaixo, de onde não saiu mais. Até o fim de 2002, seus índices de avaliação positiva sempre ficaram aquém do patamar de 25%.
Collor e Itamar experimentaram breves momentos de elevada avaliação positiva: o primeiro antes da posse, o segundo quando seu período estava terminando. No governo, ambos começaram com 30% e foram a perto de 10%, mas Itamar se recuperou, saltando a 40% no pós-Real.
A Dilma de hoje só perde, portanto, para o Lula que tivemos de 2008 em diante. Ou seja, só perde para um fenômeno que misturava carisma, desempenho superior ao esperado e boa gestão de imagem. E que ainda contava com a colaboração involuntária das oposições, que não conseguiram se contrapor a ele.
Lendo nossa grande imprensa, fica-se com a impressão de que esses bons números vêm de diferenças que existiriam entre ela e Lula. A seriedade, em oposição à imprudência; o gosto pelo trabalho, contra o fascínio pelo espetáculo; a racionalidade, contra a emocionalidade.
Mas o mais provável é que venham do inverso, da percepção de que Dilma continua, a seu modo, um governo aprovado pela maioria do país. Fundamentalmente, de que ela cumpre o que prometeu na campanha.
Dois tipos de pessoas se espantam com a presidente. Quem gostava de Lula, mas não a conhecia e ficou desconfiado, apesar de ele a avalizar. Quem não gostava do ex-presidente e não acreditou quando ele a apresentou como uma pessoa plenamente qualificada para o cargo.
Nos seus 100 dias, Dilma corresponde à expectativa da maioria que a elegeu. E mostra que Lula estava certo: ela é realmente uma boa presidente da República. Está sendo aquilo que ele disse que ela seria.
Por isso, não é surpresa que sua avaliação seja tão positiva.

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