domingo, 10 de abril de 2011

A VELHA HISTORIA

A bandeira esfarrapada dos direitos humanos.Não há nenhuma avaliação séria sobre direitos humanos nem na ONU, nem na OEA. São dois gigantescos palcos onde se encenam roteiros pantomímicos preparados para alcançar outros objetivos. O voto do Brasil na ONU contra o Irã volta como um bumerangue contra o país por meio desta condenação da Comissão da OEA.
Beto Almeida, na Carta Maior.
O Brasil votou a favor do envio de uma vistoria especial da ONU sobre violação de direitos humanos no Irã. Alinha-se, injustificadamente, à manipulação da bandeira dos direitos humanos pelos EUA que querem impor padrões ao mundo e pretendem usar todos os recursos para pressionar a nação persa a não seguir com seu programa nuclear, com seu impressionante salto nas tecnologias aeroespacial, farmacêutica (o Irã encontra-se entre os principais fabricantes mundiais de remédios contra a AIDS e o câncer) e também aquelas aplicadas à indústria bélica.
Quando se argumenta que o Brasil não vai votar a favor do envio de inspetores de direitos humanos para os EUA, há sempre uma ingênua observação, “mas uma coisa não justifica a outra”. A realidade é que sequer passa pela cabeça da Comissão de Direitos Humanos da ONU investigar o país que mais ditaduras sanguinárias patrocinou na história, mais guerras provoca, mais invasões militares realiza para rapinar as riquezas dos países em desenvolvimento. Direitos humanos são uma bandeira esfarrapada pela hipocrisia e a fraude, para seu usada apenas contra os países em desenvolvimento que ousam construir caminhos independentes e soberanos.
Há, por exemplo, uma enorme e evidente campanha da mídia de capacete - boletins de guerra substituem as reportagens - para desestabilizar o governo iraniano por vários meios, inclusive pela agitação hipócrita da bandeira dos direitos humanos. Enquanto o caso da Sakineh é repercutido e repetido inúmeras vezes, exaustivamente, nada se fala do jornalista Mumia Abu Jamal, dos Panteras Negras, que está preso há 19 anos no corredor da morte na Pensilvânvia, num julgamento forjado, fajuto, repleto de ilegalidades, sob o comando do juiz que mais condena negros, hispânicos e asiáticos à cadeira elétrica. Exceção: o Jornal Brasil de Fato agora publicou uma página com Jamal, direto do corredor da morte.
Enquanto Barack Obomba deu a ordem de ataque das dependências do Palácio do Planalto - desrespeito e também ameaça ao povo brasileiro - inaugurando a nova chuva de mísseis sobre a Líbia, prisioneiros continuavam sendo torturados em Abu Graid, em Guantánamo, crianças executadas no Afeganistão, crianças palestinas fuziladas em Gaza, 1425 desde 2000. com total apoio dos EUA. Isso também é pena de morte, coletiva, massiva. O Brasil vai pedir o envio de inspetores para vistoriar direitos humanos violentados nos EUA? Toda pena de morte deve ser abolida!
Concessão inútil.Ao admitir a manipulação criminosa e hipócrita da bandeira dos direitos humanos pelo carrasco da humanidade o Brasil presta um serviço ao império. Já lembramos em outro artigo: Tancredo Neves, que nem havia sido eleito pelo voto direto, teve a grandeza e a coragem de dizer ao Ronald Reagan e ao Congresso dos EUA, que o Brasil não ia admitir uma invasão militar sobre a Nicarágua Sandinista. Com uma popularidade tão elevada, o Brasil de hoje não tem porque associar-se a esta fraudulenta manipulação dos direitos humanos. Isto debilita a aliança informal e objetiva que está sendo construída entre países que podem oferecer, unidos, um obstáculo aos sinistros planos do intervencionismo militarista estadunidense internacional, onde quer que haja riqueza energética. Trata-se de uma
concessão inútil que mais tarde pode voltar-se contra nós.
O castigo não tardou a chegar: enquanto este artigo era escrito a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, controlada a partir de Washington, tal como a Comissão de Direitos Humanos da ONU, intromete-se no Brasil é exige a suspensão das obras da Usina de Belo Monte sob a alegação de que estariam violentando os direitos de povos indígenas da região. Curioso, nunca estas comissões solicitaram o fechamento da Usina Nuclear de Three Miles Islands que foi palco de acidente nuclear, não solicitam o fechamento de Guantânamo, ou da macabra Escola das Américas. O que se quer é a paralisação produtiva do Brasil e dos países que possuem potencial de crescimento.
Demolição do estado, com ou sem tropas.Lembremo-nos: Henry Kissenger, ex-secretário de estado dos EUA afirmou que seu país “não podia permitir no surgimento de um novo Japão abaixo da linha do Equador.” Há uma diferença: a paralisação produtiva na Yugoslávia, Iraque e agora Líbia foi e é feita com mísseis, demolindo a infra-estrutura. Anos de trabalho e esforço dos povos. No caso brasileiro esta demolição do estado foi feita por meio de governos neoliberais que desmantelaram, sem a necessidade que as metrópoles recorressem aos mísseis, a indústria naval, as ferrovias, e boa parte da indústria, que, aliás, continua sendo debilitada por meio de políticas desindustrializantes. Não precisam mandar tropas, basta controlar o Banco Central e o Ministério da Fazenda..
O voto do Brasil na ONU contra o Irã, facilitando as pressões das potências ocidentais, volta como um bumerangue contra o Brasil por meio desta condenação da Comissão da OEA. Direitos humanos são pretextos, lá como cá. Esta é, evidentemente, uma linha política a ser revista. Não há nenhuma avaliação séria sobre direitos humanos nem na ONU, nem na OEA. São dois gigantescos palcos onde se encenam roteiros pantomímicos preparados para alcançar outros objetivos.
As masmorras medievais do Peluso.O Brasil não está em condições de dar lições de moral em nenhum outro país. Basta dizer que o presidente da sua mais alta corte, o Supremo Tribunal Federal, ministro César Peluso, deixou escapar que o sistema prisional brasileiro equivale-se “as masmorras medievais de tortura e castigo”. Sim, ali há esquartejamento, envenenamento, decaptação, roleta da morte. Todo este ritual macabra nas dependências do estado brasileiro. Em muitos momento o discurso ofical dos direitos humanos é surreal.
E mais, aqui no Brasil os direitos humanos registram índices de violação insuportáveis. Basta citar os 50 mil homicídios anuais, acompanhados de estatística do Ministério da Justiça apontando que 93 por cento dos assassinados apurados permanecem impunes. E aqui estamos falando dos homicídios apurados e devidamente registrados! Ou seja, há 93 por cento de probabiliades de que quem cometa homicídio fique impune. É quase totalmente permitido matar! Junte-se a isto a informação do crescimento do número de jovens negros executados, a impunidade dos grupos de extermínio, a tortura, diária, regular e sistemática em praticamente todas as delegacias de polícia do país no exato momento em que este artigo é escrito. Sem contar a impunidade dos assassinatos das milícias do latifúndio e daquelas que estão organizadas no interior do aparelho de estado.
Com este telhado de vidro, o governo deveria era botar as barbas de molho. Não pelos direitos humanos em si. Mas, fundamentalmente porque há aqui um programa nuclear paralelo, com desenvolvimento de tecnologias próprias, que o Brasil precisa zelar e proteger das ações dos mesmos que querem intervir imperialmente no Irã sob a cobertura dos direitos humanos. Sem contar a riqueza petroleira pré-sal na nossa costa, especialmente quando surgem notícias de que a OTAN também ampliará suas ações aos mares do sul. Inspetores preparam-se para vir aqui, mas são impedidos de irem aos EUA....Como disse Celso Amorim, este voto terá conseqüências. Contra nós.

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