terça-feira, 26 de abril de 2011

O MERCARDO

Queda da cesta básica ajuda a enfrentar pressão do mercado.
A inflação registrada no primeiro trimestre supera mais da metade da meta oficial prevista para 2011, mas o preço da cesta básica cai quase 2%, segundo dados do governo. Proteção do bolso dos setores mais pobres da população aumenta conforto político para Dilma Rousseff apoiar Banco Central contra o pessimismo do 'mercado' e ajuda a segurar pressão por uma maior alta dos juros. Presidenta quer encarar o desafio de derrubar a taxa brasileira para níveis internacionais.
André Barrocal, da Carta Maior.
A inflação oficial acumulada de janeiro a março ficou em 2,4%, mais da metade da meta do governo para 2011 (4,5%). Dados que circulam no governo e chegaram à presidenta Dilma Rousseff mostram, no entanto, que o preço da cesta básica no primeiro trimestre caiu 1,9%, apesar do encarecimento geral dos alimentos no mundo.
A relativa proteção, apurada pelo governo, do bolso do povão na hora de comprar comida tem dado conforto político ao Palácio do Planalto. Ajuda-o a manter a tranquilidade e até a topar um certo enfrentamento do pessimismo inflacionário do “mercado”, que na opinião de economistas como Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), chega a ser “terrorismo”.
Uma semana antes da Páscoa, por exemplo, o mercado aumentara de novo sua previsão de inflação para 2011, colocando-a muito perto do limite máximo admitido pelo governo, e esperava que o Banco Central elevasse o juro em meio ponto percentual, a fim de controlar a escalada dos preços. Mas o BC surpreendeu e subiu menos (0,25) – e mesmo assim recebeu críticas de quem achava a alta desnecessária, como trabalhadores e empresários; e nem assim o "mercado" acalmou-se (segundo pesquisa semanal do BC divulgada nesta segunda-feira, dia 25, o "mercado" elevou de novo a expectativa de inflação para 2011).
O mesmo quadro referente ao custo da cesta básica também contribui para a convicção de Dilma Rousseff de que não se deve nocautear a economia agora, com juros cavalares, ainda que a inflação, em 2011, orbite (por cima ou por baixo) o teto de 6,5%. A consequência seria pesada demais, em termos de crescimento e geração de emprego e renda. “Mas a presidenta jamais vai dizer isso em público”, segundo um auxiliar dela.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, e sua diretoria estão em sintonia com a presidenta. De acordo com uma fonte da instituição, o banco entende que tentar trazer a inflação para a meta este ano exigiria “derrubar” a economia com um custo muito alto para a sociedade brasileira reverter. Daí que o BC trabalha por uma inflação de 4,5% só no ano que vem, como expressou de forma clara, em março, no último relatório que divulga a cada três meses sobre a inflação.
Juro 'normal' até 2014.

A busca do governo por alternativas e discurso contra calibrar o juro na altura que, se dependesse do “mercado”, a taxa já teria alcançado também se encaixa no plano de Dilma Rousseff de terminar o mandato com um percentual “normal”. Quanto menos o juro subir agora, mais fácil de alcançar o objetivo. “Vamos buscar uma taxa de juros compatível com a taxa de juros internacional. É possível sim, perfeitamente. Esse é o grande desafio que o Brasil vai ter de enfrentar, pelo menos desta vez”, declarou a presidenta em visita recente à China.
Ao montar a atual diretoria do BC, Dilma já tinha dado um sinal de sua ambição de longo prazo. Dos sete diretores, apenas dois têm passagem pelo “mercado”. Os outros são funcionários de carreira do banco. A presidenta sabe que, por isso, o “mercado” não gosta do atual BC, como não gosta do ministro da Fazenda, Guido Mantega, outro sem o sistema financeiro no currículo. “Mas ela dá respaldo total ao Guido e ao Tombini. Aliás, a política econômica não é deles, é dela”, afirmou um auxiliar de Dilma. 

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