Marcos Coimbra, no Correio Braziliense.
Dilma está sendo bem avaliada pelo que seu governo faz. Lula continua a ser um fator que contribui para explicar o desempenho, mas seu peso tende a ser menor a cada dia.
Ao longo da campanha presidencial do ano passado, foi comum a discussão de precedentes para a candidatura de Dilma. Nos meios políticos e na imprensa, volta e meia eram lembrados casos parecidos ao dela.
Desde muito cedo, ficou evidente que era a favorita. Apesar de não ter experiência eleitoral. Apesar de começar sua carreira pelo alto, sem ter pleiteado cargos menores. Apesar de ela nem sequer ser militante histórica de seu partido. Apesar de não ter “jeito” para a televisão e o palanque. Apesar de seu visível mal-estar no trato com os políticos tradicionais.
A todas essas limitações, sua candidatura respondia com um argumento: o apoio de Lula. Podia faltar-lhe tudo, mas tinha esse trunfo. Como legítima herdeira do ex-presidente, ela representava algo que a maioria do eleitorado queria: continuidade.
Nisso, a novidade estava apenas em que o cargo em disputa era a Presidência da República. Nosso sistema político já conhecia vários exemplos bem-sucedidos de candidaturas com perfil semelhante, em eleições estaduais e municipais. Em todos, havia alguém encerrando sua administração com alto nível de aprovação popular e que indicava um sucessor para prossegui-la.
Com base nesses casos, ficou mais fácil prever o resultado da eleição de 2010. Parafraseando a famosa (e equivocada) frase “É a economia, estúpido!”, a vitória de Dilma pôde ser antecipada e, depois, explicada por outra: “É a continuidade, estúpido!”.
Esse raciocínio não responde, no entanto, a outras perguntas relevantes. Até quando um governante que se elegeu dessa maneira consegue se sustentar somente assim? Se a continuidade é suficiente para garantir uma vitória, bastará para levar o eleito a governar com aprovação e apreço?
São questões que começam a fazer sentido a respeito do governo Dilma. Passado o primeiro semestre, com a eleição ficando mais longe, o fato de ela ter sido “a candidata de Lula” continua a ser decisivo para sua imagem? Até que ponto os precedentes de candidatos que venceram por “transferência de prestígio” nos ajudam a entender suas particularidades?
Se nossa imprensa tivesse se interessado pelas pesquisas publicadas de maio para cá, essa seria uma boa discussão. Poderíamos, por exemplo, discutir se Dilma, aos seis meses, se assemelha ou é diferente de governadores e prefeitos que chegaram aos cargos de maneira parecida.
Mas ela não lhes deu atenção, pela simples razão que contrariavam a expectativa (ou terá sido o desejo?) que mostrassem que Dilma caía, por qualquer motivo (crise Palocci, ameaça de recrudescimento inflacionário, crise nos Transportes, etc.). Como diziam o inverso, que ela e seu governo tinham níveis elevados de aprovação, ninguém falou nelas (sequer seus contratantes).
Tomemos um caso muitas vezes lembrado durante a campanha: Celso Pitta, o sucessor de Maluf, que chegou a ter, em São Paulo, números semelhantes aos de Lula no conjunto do país. Formalmente, tem vários pontos de contato com o caso de Dilma. Ambos eram auxiliares de governantes com alta popularidade, técnicos, sem passado eleitoral. Os dois enfrentaram adversários de largo currículo e grande biografia (um deles, curiosamente, o mesmo José Serra) e venceram.
Cessam aí as analogias. Enquanto Dilma chega aos seis meses com números recordes de aprovação, Pitta foi escorregando ladeira abaixo ao longo do primeiro ano. No fim de 1997, tinha, segundo dados do Datafolha, 13% de “ótimo” e “bom”, e 52% de “ruim” e “péssimo”. Quase exatamente o oposto do que Dilma obtém agora.
Que lição podemos tirar disso? Talvez que seja possível explicar uma vitória eleitoral pelo modelo da transferência, mas que, à medida que o tempo passa, o prestígio do patrono não é suficiente para fazer com que o eleito sustente uma aprovação elevada.
Em outras palavras: Dilma está sendo bem avaliada pelo que seu governo faz. Lula continua a ser um fator que contribui para explicar o desempenho, mas seu peso tende a ser menor a cada dia.
Se quisermos um caso semelhante: Antonio Anastasia tem níveis iguais aos dela como governador de Minas Gerais. Em parte, por ser o sucessor de Aécio, em parte por ser quem é.
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