Da novela "Coisas que Incomodam", que apresentaremos de quando em quando, em capítulos, sobressaem hoje certas práticas peculiares à mídia moderna. Práticas execráveis, que além de incomodar, irritam.
Tome-se as edições de fim de semana de alguns jornalões. Na manhã de domingo vamos à banca, pedimos o matutino de nossa preferência e, chegando em casa, verificamos que a primeira página é fajuta, no todo ou em parte. Em vez das notícias e das chamadas, encontramos inteiro ou pela metade um encarte anunciando sabe-se lá o quê. A reação da maioria dos leitores é arrancar aquele corpo estranho de um só golpe, amassá-lo e deitá-lo no lixo, mas que ele incomoda, não há que duvidar. Além de contribuir para sujarmos um pouco mais as mãos, no sentido literal, esse expediente faz-nos perder tempo e, na maioria dos casos, contribui para não comprarmos o que vai nele anunciado.
Para ficar na imprensa: aos domingos, compramos também uma revista semanal. Não se discutem sua linha editorial, suas idiossincrasias, suas meias verdades e suas agressões. Nas democracias, liberdade de imprensa significa cada um poder adquirir o veículo que melhor lhe agrade. O incômodo não é esse, mas o de verificarmos que, cada semana mais, some o espaço para material de redação e entra publicidade. Nada contra ela, mas se vamos atrás de resenhas, reportagens, artigos e comentários semanais e encontramos cada vez mais propaganda, sentimo-nos lesados. Em especial quando fica evidente que determinado material apresentado como jornalístico exprime, no fundo, faturamento, ou seja, parcialidade para agradar o cliente, desprezando ou iludindo o leitor.
Irritados com os meios de comunicação tradicionais, vamos para a frente da televisão. Afinal, é domingo. O volume de publicidade chega a assustar, mas, como estamos atrás de notícias, entretenimento e serviços, aguentamos firme. Só que ninguém suporta, a cada intervalo na programação, ter de acionar as teclas dos controles remotos para diminuir o áudio na hora em que entram os anúncios, e aumentá-lo quando retorna o programa preferido. Pode tratar-se de uma técnica de marketing, mas marketing criminoso, o fato de as emissoras subirem o volume da propaganda cada vez que ela aparece, como se o telespectador fosse bobo e comprasse mais em razão dos decibéis estabelecidos em torno dos produtos anunciados. Já houve uma lei proibindo essa lambança, mas, pelo jeito,a lei não pegou.
A tarde vem chegando. No almoço com a família recomendamos à cozinheira para não utilizar nada do que a televisão anunciou aos berros durante a semana inteira. Vamos assistir, primeiro, algumas partidas de futebol transmitidas da Inglaterra, Alemanha, Espanha ou Itália. É hora de a pressão sanguínea aumentar por conta de mais uma irritação. Viagens à Europa custam caro para as empresas, por isso os locutores transmitem daqui mesmo, olhando como nós nas telinhas. Como não quiseram ter trabalho de conhecer os jogadores ou, ao menos, de prestar atenção nos números colocados nas respectivas camisas, narram tudo, menos a partida em questão. Receberam dos produtores mil e uma informações irrelevantes, que apregoam, como quantas vezes determinado craque trocou de time, em que cidade nasceu, qual o nome de sua mãezinha, que campeonatos anteriores conquistou ou se prefere talharim ou inhoque. Mas nomeá-lo quando pega a bola e chuta, só de vez em quando, nos momentos em que o câmera, milhares de quilometros adiante, resolve apresentar um plano fechado. No mais das vezes, são erros em cima de erros.
Mas tem pior. Se chove muito, se há tumulto nas arquibancadas, se as partidas estão atrasadas, deve o locutor preencher o tempo. Mesmo quando se acha presente no estádio onde o jogo acontece, é um desastre que nos incomoda mais do que outros. Determinado astro do microfone, outro dia, começou a divagar e, olhando para além dos muros do estádio, vislumbrou montanhas ao longe. Como estava em Bogotá, na Colômbia, não teve dúvidas: mostrou a imagem afirmando tratar-se da Cordilheira dos Andes, centenas de quilômetros afastada. Teceu uma ode ao que não via e, momentos depois, quando um produtor lembrou que aquela era a modesta montanha de Santa Maria, encheu-se da mesma empáfia de sempre e comentou, mudando a geografia do continente: "é aqui que a Cordilheira começa..."
Por falar em comentários, trata-se de uma das maiores lutas de egos de que temos notícia. Porque muitas vezes as emissoras contratam comentaristas de muita competência, para analisar os craques e os juízes. Pois o artista do microfone não deixa que eles opinem. Fala bobagens antes, durante e depois dos colegas de profissão. Atropela-os e, não raro, demonstra não estar entendendo nada da partida. Se o comentarista dos árbitros, geralmente um antigo juiz, afirma que não foi pênalti, é logo contraditado. Aguardam a retransmissão da imagem. Quando ela vem, dando razão ao comentarista, o astro não dá o braço a torcer: "para mim foi..."
Permanecendo à noite ainda diante da televisão, nessa curta relação das coisas que incomodam, é bom lembrar: quando criados, os canais a cabo anunciavam a transmissão de filmes sem intervalos, expurgados de publicidade. Ledo engano. No auge das cenas de suspense, somos interrompidos pela apresentação de diabólicos liquidificadores onde se colocam mandiocas imensas e saem, segundos depois, perfeitos bobós de camarão. E se, com raiva, mudamos para a chamada TV aberta, o risco é pior. O filme anunciado, sem qualquer explicação, transforma-se num debate de luminares que vão discutir as partidas de futebol realizadas à tarde. A gente fica pensando se assistiram jogos realizados em Marte, tendo acabado de desembarcar de um disco voador...
Tome-se as edições de fim de semana de alguns jornalões. Na manhã de domingo vamos à banca, pedimos o matutino de nossa preferência e, chegando em casa, verificamos que a primeira página é fajuta, no todo ou em parte. Em vez das notícias e das chamadas, encontramos inteiro ou pela metade um encarte anunciando sabe-se lá o quê. A reação da maioria dos leitores é arrancar aquele corpo estranho de um só golpe, amassá-lo e deitá-lo no lixo, mas que ele incomoda, não há que duvidar. Além de contribuir para sujarmos um pouco mais as mãos, no sentido literal, esse expediente faz-nos perder tempo e, na maioria dos casos, contribui para não comprarmos o que vai nele anunciado.
Para ficar na imprensa: aos domingos, compramos também uma revista semanal. Não se discutem sua linha editorial, suas idiossincrasias, suas meias verdades e suas agressões. Nas democracias, liberdade de imprensa significa cada um poder adquirir o veículo que melhor lhe agrade. O incômodo não é esse, mas o de verificarmos que, cada semana mais, some o espaço para material de redação e entra publicidade. Nada contra ela, mas se vamos atrás de resenhas, reportagens, artigos e comentários semanais e encontramos cada vez mais propaganda, sentimo-nos lesados. Em especial quando fica evidente que determinado material apresentado como jornalístico exprime, no fundo, faturamento, ou seja, parcialidade para agradar o cliente, desprezando ou iludindo o leitor.
Irritados com os meios de comunicação tradicionais, vamos para a frente da televisão. Afinal, é domingo. O volume de publicidade chega a assustar, mas, como estamos atrás de notícias, entretenimento e serviços, aguentamos firme. Só que ninguém suporta, a cada intervalo na programação, ter de acionar as teclas dos controles remotos para diminuir o áudio na hora em que entram os anúncios, e aumentá-lo quando retorna o programa preferido. Pode tratar-se de uma técnica de marketing, mas marketing criminoso, o fato de as emissoras subirem o volume da propaganda cada vez que ela aparece, como se o telespectador fosse bobo e comprasse mais em razão dos decibéis estabelecidos em torno dos produtos anunciados. Já houve uma lei proibindo essa lambança, mas, pelo jeito,a lei não pegou.
A tarde vem chegando. No almoço com a família recomendamos à cozinheira para não utilizar nada do que a televisão anunciou aos berros durante a semana inteira. Vamos assistir, primeiro, algumas partidas de futebol transmitidas da Inglaterra, Alemanha, Espanha ou Itália. É hora de a pressão sanguínea aumentar por conta de mais uma irritação. Viagens à Europa custam caro para as empresas, por isso os locutores transmitem daqui mesmo, olhando como nós nas telinhas. Como não quiseram ter trabalho de conhecer os jogadores ou, ao menos, de prestar atenção nos números colocados nas respectivas camisas, narram tudo, menos a partida em questão. Receberam dos produtores mil e uma informações irrelevantes, que apregoam, como quantas vezes determinado craque trocou de time, em que cidade nasceu, qual o nome de sua mãezinha, que campeonatos anteriores conquistou ou se prefere talharim ou inhoque. Mas nomeá-lo quando pega a bola e chuta, só de vez em quando, nos momentos em que o câmera, milhares de quilometros adiante, resolve apresentar um plano fechado. No mais das vezes, são erros em cima de erros.
Mas tem pior. Se chove muito, se há tumulto nas arquibancadas, se as partidas estão atrasadas, deve o locutor preencher o tempo. Mesmo quando se acha presente no estádio onde o jogo acontece, é um desastre que nos incomoda mais do que outros. Determinado astro do microfone, outro dia, começou a divagar e, olhando para além dos muros do estádio, vislumbrou montanhas ao longe. Como estava em Bogotá, na Colômbia, não teve dúvidas: mostrou a imagem afirmando tratar-se da Cordilheira dos Andes, centenas de quilômetros afastada. Teceu uma ode ao que não via e, momentos depois, quando um produtor lembrou que aquela era a modesta montanha de Santa Maria, encheu-se da mesma empáfia de sempre e comentou, mudando a geografia do continente: "é aqui que a Cordilheira começa..."
Por falar em comentários, trata-se de uma das maiores lutas de egos de que temos notícia. Porque muitas vezes as emissoras contratam comentaristas de muita competência, para analisar os craques e os juízes. Pois o artista do microfone não deixa que eles opinem. Fala bobagens antes, durante e depois dos colegas de profissão. Atropela-os e, não raro, demonstra não estar entendendo nada da partida. Se o comentarista dos árbitros, geralmente um antigo juiz, afirma que não foi pênalti, é logo contraditado. Aguardam a retransmissão da imagem. Quando ela vem, dando razão ao comentarista, o astro não dá o braço a torcer: "para mim foi..."
Permanecendo à noite ainda diante da televisão, nessa curta relação das coisas que incomodam, é bom lembrar: quando criados, os canais a cabo anunciavam a transmissão de filmes sem intervalos, expurgados de publicidade. Ledo engano. No auge das cenas de suspense, somos interrompidos pela apresentação de diabólicos liquidificadores onde se colocam mandiocas imensas e saem, segundos depois, perfeitos bobós de camarão. E se, com raiva, mudamos para a chamada TV aberta, o risco é pior. O filme anunciado, sem qualquer explicação, transforma-se num debate de luminares que vão discutir as partidas de futebol realizadas à tarde. A gente fica pensando se assistiram jogos realizados em Marte, tendo acabado de desembarcar de um disco voador...
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