Por Carlos Chagas
Duas referências ao passado Sete de Setembro, não o de anteontem, senão aquele transcorrido cinquenta anos atrás, quando tomou posse na presidência da República o vice-presidente João Goulart: o sucesso da biografia de Jango, recém-lançada pelo professor Jorge Ferreira e leitura indispensável para quem pretender mergulhar num passado até hoje distorcido e aviltado; e a homenagem que no próximo dia 15 será prestada pelo professor Alfredo Viana aos ex-ministros do líder trabalhista ainda vivos.
Será no Instituto Cravo Albim, no Rio, a partir das 19 horas, quando se reunirão Almino Afonso, Waldir Pires, Wilson Fadul, Armando Monteiro e Seixas Dória, junto com jornalistas daqueles idos, também sobreviventes de meio século.
No ano de 1961 não houve desfile militar. João Goulart chegara dois dias antes a Brasília. Depois de um périplo pela China, já hospedado no hotel Rafles, em Cingapura, na madrugada do dia 27 de agosto, o então vice-presidente da República viu-se surpreendido por um telefonema dando conta da renúncia de Jânio Quadros, dia 25. Não é preciso lembrar o golpe que o histriônico presidente tentou aplicar nas instituições para tornar-se ditador. Fracassou, felizmente, deixando o vazio. Jango, do outro lado do mundo, injustamente tido como comunista pelos líderes das forças armadas, teve sua posse constitucional contestada pela distância e pelo radicalismo dos adversários. Um dos membros da comitiva,o senador Barros de Carvalho, mandou subir uma garrafa de champagne, imprópria para a hora, fazendo um brinde ao novo chefe do governo, no que foi obstado: “prefiro fazer um brinde ao imprevisível”.
Levou dias o retorno, passado por Nova Delhi, Paris, Barcelona, Nova York, Lima, Buenos Aires, Montevidéu e Porto Alegre. Naquele período, ligado ao Brasil por precarias linhas telefônicas, o novo presidente assistiu a consolidação de um golpe militar, depois a resistência isolada do cunhado, Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, mais a mobilização popular e, no fim, a adesão de parte do Exército à campanha da legalidade. Precisou engolir a malandragem do Congresso, que aproveitou para mudar de madrugada o sistema de governo, de presidencialista para parlamentarista. Tomou posse, com Tancredo Neves de primeiro-ministro, ficando claro que aquela farsa não funcionaria. Veio a antecipação do plebiscito e a esmagadora decisão nacional pelo restabelecimento de seus poderes.
Sucedeu-se a luta do presidente pela implantação das reformas de base, rejeitadas pelas elites, os militares e as forças multinacionais, terminando em 1964 pela sua deposição. No exílio até a morte, só retornou para o próprio funeral, em plena ditadura.
Quem quiser inteirar-se de cada capítulo dessa epopéia deve buscá-la na biografia acima referida, mas para buscar depoimentos vivos, cada vez mais raros, precisará ouvir os ex-ministros de Jango, infelizmente tão poucos ainda entre nós.
Senão morta, a memória nacional encontra-se moribunda, pelo menos no que diz respeito àqueles tempos. Necessário se torna restabelecer verdades e desfazer versões. Cada um dos ex-ministros terá aspectos fundamentais a acrescentar à crônica da derradeira tentativa de transformação do Brasil num país socialmente justo e independente. Depois de Jango, de queda em queda, apesar das enganações, somos o que somos: uma nação plena de contradições, onde até a presidente da República apresenta como objetivo maior de seu governo erradicar a miséria. Com todo o respeito, mas Dilma Rousseff deveria perder algumas horas de sono para ler a biografia de João Goulart. Espera-se que aprenda e apreenda lições capazes de conciliá-la com seu passado, insurgindo-se contra o modelo que os antecessores empurraram-lhe goela a dentro.
Será no Instituto Cravo Albim, no Rio, a partir das 19 horas, quando se reunirão Almino Afonso, Waldir Pires, Wilson Fadul, Armando Monteiro e Seixas Dória, junto com jornalistas daqueles idos, também sobreviventes de meio século.
No ano de 1961 não houve desfile militar. João Goulart chegara dois dias antes a Brasília. Depois de um périplo pela China, já hospedado no hotel Rafles, em Cingapura, na madrugada do dia 27 de agosto, o então vice-presidente da República viu-se surpreendido por um telefonema dando conta da renúncia de Jânio Quadros, dia 25. Não é preciso lembrar o golpe que o histriônico presidente tentou aplicar nas instituições para tornar-se ditador. Fracassou, felizmente, deixando o vazio. Jango, do outro lado do mundo, injustamente tido como comunista pelos líderes das forças armadas, teve sua posse constitucional contestada pela distância e pelo radicalismo dos adversários. Um dos membros da comitiva,o senador Barros de Carvalho, mandou subir uma garrafa de champagne, imprópria para a hora, fazendo um brinde ao novo chefe do governo, no que foi obstado: “prefiro fazer um brinde ao imprevisível”.
Levou dias o retorno, passado por Nova Delhi, Paris, Barcelona, Nova York, Lima, Buenos Aires, Montevidéu e Porto Alegre. Naquele período, ligado ao Brasil por precarias linhas telefônicas, o novo presidente assistiu a consolidação de um golpe militar, depois a resistência isolada do cunhado, Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, mais a mobilização popular e, no fim, a adesão de parte do Exército à campanha da legalidade. Precisou engolir a malandragem do Congresso, que aproveitou para mudar de madrugada o sistema de governo, de presidencialista para parlamentarista. Tomou posse, com Tancredo Neves de primeiro-ministro, ficando claro que aquela farsa não funcionaria. Veio a antecipação do plebiscito e a esmagadora decisão nacional pelo restabelecimento de seus poderes.
Sucedeu-se a luta do presidente pela implantação das reformas de base, rejeitadas pelas elites, os militares e as forças multinacionais, terminando em 1964 pela sua deposição. No exílio até a morte, só retornou para o próprio funeral, em plena ditadura.
Quem quiser inteirar-se de cada capítulo dessa epopéia deve buscá-la na biografia acima referida, mas para buscar depoimentos vivos, cada vez mais raros, precisará ouvir os ex-ministros de Jango, infelizmente tão poucos ainda entre nós.
Senão morta, a memória nacional encontra-se moribunda, pelo menos no que diz respeito àqueles tempos. Necessário se torna restabelecer verdades e desfazer versões. Cada um dos ex-ministros terá aspectos fundamentais a acrescentar à crônica da derradeira tentativa de transformação do Brasil num país socialmente justo e independente. Depois de Jango, de queda em queda, apesar das enganações, somos o que somos: uma nação plena de contradições, onde até a presidente da República apresenta como objetivo maior de seu governo erradicar a miséria. Com todo o respeito, mas Dilma Rousseff deveria perder algumas horas de sono para ler a biografia de João Goulart. Espera-se que aprenda e apreenda lições capazes de conciliá-la com seu passado, insurgindo-se contra o modelo que os antecessores empurraram-lhe goela a dentro.
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