A literatura argentina contemporânea – entendendo-se por contemporânea a que vem da primeira metade do século XX e continua por aqui – ofereceu ao mundo obras de peso indiscutível. Começando pelos grandes ícones que conquistaram leitores mundo afora, com Jorge Luís Borges e Julio Cortázar na linha de frente, o desfile de nomes é sonoro, consistente, rigoroso. Basta lembrar Adolfo Bioy Casares, Héctor Tizón, Juan José Saer, David Viñas, Daniel Moyano, Antonio di Benedetto, passando por gerações que vieram depois, como as de Tomás Eloy Martínez, Ricardo Piglia, Mempo Giardinelli e Rodolfo Rabanal, e a lista prossegue vigorosa até os autores ainda mais novos, como Juan Forn ou Alan Pauls. É claro que deixei de fora um polpudo punhado de nomes. Quero observar um detalhe: só mencionei autores, todos eles indiscutíveis.
Pois é mais que hora de lembrar que há também mulheres de altíssimo nível, e que, a exemplo dos homens, elas se sucedem gerações afora sem perder brilho e capacidade de renovação. De nomes consagrados há décadas, como a contista Silvina Ocampo e a delicada e trágica poeta que foi Alfonsina Stormi, também elas, as autoras, souberam nos legar uma obra de primeira grandeza. É preciso destacar isso com urgência. Ao longo das últimas muitas décadas vêm deixando sua marca na literatura argentina autoras como Luisa Valenzuela, Angélica Gorodischer, uma poeta de surpreendente beleza e invenção chamada Alejandra Pizanik (que, como Alfonsina, teve um final trágico), Maria Helena Walsh (com destaque para sua obra voltada para o público infanto-juvenil), e, chegando mais perto no tempo, Ana María Shua, Claudia Piñeiro, Lucia Puenzo, Florencia Abbate, Paula Bombara e seu surpreendente ‘El mar y la serpiente’, numa mescla de gerações que impressiona não só pela quantidade de boas autoras como no número de novos nomes que surgem com obras de qualidade.
Observo, de novo, um detalhe: deixei de fora muitos nomes indiscutíveis. Nomes de autoras formidáveis, e não apenas nomes de autores respeitáveis. Elas brilham com luz própria e potente, e são cada vez mais.
Há coisa de dois anos passei a prestar atenção no aluvião de escritoras lançando livros, obtendo críticas positivas e conquistando um público crescente. Mergulhei em vários desses livros, e não parei de levar surpresas cada vez mais gratas.
Quero mencionar duas delas, cada uma em uma vertente do ofício de escrever. A primeira se chama Laura Meradi, e é autora de uma novela muito boa e comovedora, ‘Tu mano izquierda’, que a Alfaguara editou em 2009. Foi o primeiro livro que escreveu, e impactou pelo manejo da difícil carpintaria da escrita. Mas foi com outro livro – uma vasta reportagem, chamada ‘Alta rotación’ – que chamou a atenção do público para o seu nome. Muito jovem (tinha 25 anos), ela passou um ano fazendo todo tipo de trabalho possível, no mercado, para os argentinos da sua idade: vendeu cartões de crédito para população de baixa renda, trabalhou como atendente de telemarketing em inglês (mal falando inglês), foi caixa de supermercado, garçonete num MacDonalds, garçonete num pub de bairro da moda, a Recoleta. Mostrou, de novo, que efetivamente sabe escrever bem e que tem uma sensibilidade aguda.
A outra autora que menciono é Samanta Schweblin, e é contista. Seu livro de estréia, ‘El núcleo del disturbio’, de 2001 (quando ela tinha 23 anos), foi um susto. Levou prêmios importantes e deixou no ar uma incógnita: sendo tão jovem, seria ela capaz de manter o mesmo nível num segundo livro? Pois aí veio ‘Pájaros en la boca’, em 2009, e a incógnita virou outro susto ainda maior: ela não só manteve o nível, mas superou-o com folga. Levou o prêmio Casa de las Américas, foi traduzida a meia dúzia de idiomas, e assumiu de vez o papel de uma das principais contistas contemporâneas em castelhano. Contos como ‘Papá Noel duerme en casa’ ou ‘Perdiendo velocidad’ bem que deveriam despertar sólida inveja em autores calejados.
Poderia mencionar mais nomes. Deveria. Mas o que importa entender, de uma vez por todas, é que a Argentina é, sim, um país de grandes, imensos escritores. Mas também é um país de grandes, imensas escritoras, e nas gerações mais novas são elas que dão o rumo e conduzem o barco na aventura de navegar pelo revolto mar das letras.
Pois é mais que hora de lembrar que há também mulheres de altíssimo nível, e que, a exemplo dos homens, elas se sucedem gerações afora sem perder brilho e capacidade de renovação. De nomes consagrados há décadas, como a contista Silvina Ocampo e a delicada e trágica poeta que foi Alfonsina Stormi, também elas, as autoras, souberam nos legar uma obra de primeira grandeza. É preciso destacar isso com urgência. Ao longo das últimas muitas décadas vêm deixando sua marca na literatura argentina autoras como Luisa Valenzuela, Angélica Gorodischer, uma poeta de surpreendente beleza e invenção chamada Alejandra Pizanik (que, como Alfonsina, teve um final trágico), Maria Helena Walsh (com destaque para sua obra voltada para o público infanto-juvenil), e, chegando mais perto no tempo, Ana María Shua, Claudia Piñeiro, Lucia Puenzo, Florencia Abbate, Paula Bombara e seu surpreendente ‘El mar y la serpiente’, numa mescla de gerações que impressiona não só pela quantidade de boas autoras como no número de novos nomes que surgem com obras de qualidade.
Observo, de novo, um detalhe: deixei de fora muitos nomes indiscutíveis. Nomes de autoras formidáveis, e não apenas nomes de autores respeitáveis. Elas brilham com luz própria e potente, e são cada vez mais.
Há coisa de dois anos passei a prestar atenção no aluvião de escritoras lançando livros, obtendo críticas positivas e conquistando um público crescente. Mergulhei em vários desses livros, e não parei de levar surpresas cada vez mais gratas.
Quero mencionar duas delas, cada uma em uma vertente do ofício de escrever. A primeira se chama Laura Meradi, e é autora de uma novela muito boa e comovedora, ‘Tu mano izquierda’, que a Alfaguara editou em 2009. Foi o primeiro livro que escreveu, e impactou pelo manejo da difícil carpintaria da escrita. Mas foi com outro livro – uma vasta reportagem, chamada ‘Alta rotación’ – que chamou a atenção do público para o seu nome. Muito jovem (tinha 25 anos), ela passou um ano fazendo todo tipo de trabalho possível, no mercado, para os argentinos da sua idade: vendeu cartões de crédito para população de baixa renda, trabalhou como atendente de telemarketing em inglês (mal falando inglês), foi caixa de supermercado, garçonete num MacDonalds, garçonete num pub de bairro da moda, a Recoleta. Mostrou, de novo, que efetivamente sabe escrever bem e que tem uma sensibilidade aguda.
A outra autora que menciono é Samanta Schweblin, e é contista. Seu livro de estréia, ‘El núcleo del disturbio’, de 2001 (quando ela tinha 23 anos), foi um susto. Levou prêmios importantes e deixou no ar uma incógnita: sendo tão jovem, seria ela capaz de manter o mesmo nível num segundo livro? Pois aí veio ‘Pájaros en la boca’, em 2009, e a incógnita virou outro susto ainda maior: ela não só manteve o nível, mas superou-o com folga. Levou o prêmio Casa de las Américas, foi traduzida a meia dúzia de idiomas, e assumiu de vez o papel de uma das principais contistas contemporâneas em castelhano. Contos como ‘Papá Noel duerme en casa’ ou ‘Perdiendo velocidad’ bem que deveriam despertar sólida inveja em autores calejados.
Poderia mencionar mais nomes. Deveria. Mas o que importa entender, de uma vez por todas, é que a Argentina é, sim, um país de grandes, imensos escritores. Mas também é um país de grandes, imensas escritoras, e nas gerações mais novas são elas que dão o rumo e conduzem o barco na aventura de navegar pelo revolto mar das letras.
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