quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ACORDA QUE O ELEFANTE BRANCO ESTÁ NO JARDIM

Por Carlos Chagas.
Ignora-se qualquer iniciativa da Abin ou do ministério de Assuntos Estratégicos. Muito menos do Gabinete de Segurança Institucional ou dos ministérios do Trabalho, da Integração Nacional e do Desenvolvimento. Todos parecem abanar as mãos e fazer ouvidos moucos, mais ou menos como o cidadão que placidamente lia um jornal na poltrona da sala e, olhando pela janela, viu um elefante branco. Ora, elefantes brancos não existem e ele continuou sua leitura. Só que o bicho destruiu os canteiros de flores do jardim, botou a tromba dentro de casa, quebrou os móveis e até derrubou uma parede. Naquela hora o indigitado cidadão percebeu que elefantes brancos existem e podem arrebentar com a vida dos desatentos.
Dos desatentos e do governo, porque normal não é essa onda de greves que assola o país. Alguma instituição precisa dedicar-se a examinar o elefante branco, perdão, o fenômeno que começa a transtornar a vida de todo mundo.
Só ontem paralisaram suas atividades os médicos do Sistema Único de Saúde, em 22 estados. Os enfermeiros dos hospitais públicos de Brasília estão em greve. Os policiais civis, também. Sem falar nos juízes federais em operação-tartaruga, prelúdio da imobilidade total. Basta acionar a memória para poucos dias atrás, quando bancários, funcionários dos Correios, bombeiros e policiais militares também pararam.
Cada um, em sua cidade, lembrará centenas de outros movimentos eclodidos recentemente. Isoladas, as partes circunscrevem-se às suas aflições, com a imensa maioria optando mesmo pela greve. Mas reunidas, formam um todo preocupante. O país pode parar, em especial quando categorias essenciais cruzam os braços. Pior ainda, em se tratando das chamadas carreiras de estado.
Ponha-se de lado a paranóia da existência de um complô comuno-marxista, até porque o comunismo não existe mais. Nem ao menos uma articulação do PT ou da CUT, ambos transformados de tigres em gatinhos. Afaste-se, por absurda, uma conspiração da direita ou uma investida dos Estados Unidos para continuar dominando as riquezas dos países emergentes.
Então... Então, sobra a teoria do elefante branco. As greves pipocam em função dos reclamos generalizados em toda a sociedade. Algo que o governo não percebe, ou não quer perceber, levando especialmente a classe média a apelar para os derradeiros recursos de que dispõe. Não é preciso um sociólogo para concluir que os dois governos de Fernando Henrique cuidaram do andar de cima, e que mais dois do Lula preocuparam-se em atender o porão, depois de elevar os metalúrgicos e demais operários especializados de patamar. Sem esquecer as elites. Ficou exprimida a classe média, da baixa até o limite da alta. Não adianta dizer que a população melhorou, que está viajando mais de avião e fazendo todo o tipo de sacrifícios para comprar carros novos, submetida a esse abominável massacre publicitário nas telinhas, nos jornais e nas revistas. A classe média encontra-se em agonia.
Precisa acordar o governo Dilma Rousseff, ainda mais quando salta aos olhos ser a classe média a que mais vigia, protesta e exige ações de combate à corrupção. As centenas de bilhões desviados em negócios escusos, superfaturamento, aditivos contratuais e a farra das ONGs são computados dia a dia pelos médicos submetidos a salários ridículos, pelos enfermeiros, os policiais, os bancários, os carteiros e quantos outros que já entraram e mais entrarão em greve?
COMO ERA VERDE O MEU VALE.
No espaço de apenas dois dias a presidente Dilma ensejou saudosas lembranças em dois de seus antecessores, daquelas que fazem despertar ao menos uma pontinha de inveja. Levou o Lula de Brasília a Manaus, segunda-feira, no ex-aerolula, agora aerodilma. E ontem recebeu Fernando Henrique para jantar no palácio da Alvorada, junto com líderes mundiais do grupo Elders.
Será humanamente impossível que os dois ex-presidentes não se tenham lembrado dos tempos em que um pontificava nos aposentos reservados da aeronave oficial e o outro percorria os salões da residência presidencial, da biblioteca ao cinema privativo. Fica a lição de que nada é permanente, a menos que as lembranças tenham despertado aquela força estranha do retorno. Só no Lula? Nem pensar. FHC também sonha.
DESGASTE INEXORÁVEL.
A cada dia que passa o ministro Orlando Silva repete a trajetória de Antônio Palolcci, Wagner Rossi, Pedro Novais e Alfredo Nascimento. Agarra-se, como eles, às deterioradas estruturas de seus ministérios, assistindo surgirem sempre novas denúncias de irregularidades. Melhor faria o ministro dos Esportes se percebesse os efeitos do desgaste e tomasse logo a decisão de exonerar-se. Porque exonerado será, mais dia menos dia. Não há agenda positiva capaz de desfazer o que foi feito, tanto faz se com maior ou menor participação de Orlando Silva.
SALVOS OS VELHINHOS.
Revela a Folha de S. Paulo estar a Fifa prestes a aceitar a meia entrada para os idosos, nos jogos da Copa do Mundo. Melhor assim, porque se trata do respeito a uma lei federal, impossível de ser atropelada. Falta examinar o reverso da medalha, a meia-entrada para estudantes, regulada por leis estaduais. Joseph Blatter e Jerôme Valcke precisariam negociar com os governadores dos estados onde se realizarão os jogos do certame. O importante nesse caso é não permitir que a Fifa dite as regras, mas negociando, menos mal.

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