O filme iraniano 'A separação', do diretor Asghar Farhadi, venceu o Globo de Ouro e é sério candidato ao Oscar. Assinado pelo mesmo Farhadi, o roteiro disseca as contradições afloradas a partir de um caso de divórcio --sim, há divórcio no Irã-- que expõe desencontros e colisões entre Estado, justiça,classes, poder religioso ubíquo e uma sociedade de nível intelectual e científico sabidamente diferenciado. O cinema extraído desse ambiente caleidoscópico reflete um braço de ferro existencial e político de tensão contemporânea e universal. Farhadi não é uma estrela solitária a esmiuçar essa nebulosa que inclui também olhares como os de Abbas Kiarostami e de seu antigo assistente, Jafar Panahi, detido recentemente pelo regime. A arte que eles produzem não tem nada de subserviente, embora roteiros e recursos percorram a via crucis das aprovações estatais, o que sugere a existência de vida inteligente e ecumênica ao lado de obscurantismo e opressão. Tampouco vem engrossar a servidão ética e estética do vale tudo contemporâneo em busca de audiência. O mais interessante é que o saldo não fica nada a dever em termos de receptividade. 'A separação' foi visto por um milhão de pessoas no exterior. E teve público de 3 milhões no Irã --coincidentemente, o mesmo número que marcou o 'recorde' de Ibope do BBB, após o polemico caso do 'estupro-esquenta-audiência'.A partir dele fomos apresentados ao rico repertório conceitual do sr. 'Boninho', um espécie de aiatolá do colosso formador da subjetividade nacional. Sobre privacidade, por exemplo, 'Boninho' é rigoroso em delimitar fronteiras: 'Não temos câmeras debaixo dos edredons". (Carta Maior; 5º feira;19/01/ 2012)
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