Por Carlos Chagas
Estava nos cálculos do Lula, conforme confidência de companheiros mais chegados a ele: neste começo de ano seria desencadeada, como está sendo, campanha para a defenestração de Fernando Haddad a candidato à prefeitura de São Paulo. Seria o derradeiro esforço de alguns petistas e de muitos adversários para desestabilizar a indicação do ainda ministro da Educação. Não erra quem supuser Marta Suplicy na manobra. Ela perdeu a chance de candidatar-se, foi humilhada e acumulou mágoas sem conta por ter sido preterida. Estaria dando o troco, agora. Não é de graça que a blitz contra Haddad começou antes de iniciada a reforma ministerial da presidente Dilma. Dessa confusão artificial bem que poderia sobrar um ministério para a senadora. Jamais a Educação, mas por que não Ciência e Tecnologia?
De todas essas marolas detectadas nos últimos dias sobressai uma evidência: o Lula não abrirá mão da candidatura de Haddad, que lançou antes de o PT paulista organizar-se. Obteve, como comandante em chefe, a adesão dos que o seguem sem pestanejar e até dos que pensaram mas não tiveram tempo de reagir à imposição. Como iria, agora, ao sinal de uma conspiração parecida com o Exercito Brancaleone, dar o dito pelo não dito e aceitar que o ministro seja lançado ao mar como carga supérflua? Até porque, o ex-presidente pouco tem errado em suas indicações eleitorais. Ai está o exemplo de Dilma Rousseff, que quando apontada candidata à sucessão presidencial, despertou em muitos companheiros sorrisos de superioridade, mas emplacou de forma indiscutível por força da liderança do chefe. O mesmo acontecerá, prevê o Lula, com a candidatura de Fernando Haddad. Se vai dar certo, só o futuro dirá, mas substituí-lo, nem pensar.
UM PRESIDENTE OU UM CANTOR DE ÓPERA?
Quando pela primeira vez candidato à presidência dos Estados Unidos, em 1932, Franklin Roosevelt sofreu ampla resistência de alguns democratas e de todos os republicanos: como a América escolheria para governá-la um aleijado, um político que nem podia andar, fruto da paralisia infantil? Com muito humor ele rebateu, indagando se queriam um presidente da República ou um corredor da maratona.
Vem agora alguns desocupados para imaginar a próxima sucessão, por enquanto impossível de ser detectada, supondo que se Dilma não pleitear a reeleição, o Lula não poderia tornar-se candidato por conta do câncer na garganta, que provavelmente afetará sua voz, deixando-o rouco. Seria o caso de perguntar se querem no palácio do Planalto um cantor de ópera ou um presidente da República...
ME ENGANA QUE EU GOSTO.
Líderes do PMDB, do PT e de outros partidos da base oficial estão trocando idéias para, dizem eles, aprovar ainda este ano pelo menos uma fatia da reforma política. Falam do financiamento público das campanhas, iniciativa que proibiria as doações particulares para candidatos, limitando ao máximo a famigerada Caixa Dois.
O problema é que a proposta vem sendo debatida de mentirinha há muitos anos, pois jamais deputados e senadores votariam a extinção das doações eleitorais, passaporte para a sobrevivência de todos.
Como é preciso enganar a opinião pública, dando a impressão de que cuidam da reforma política, em mais um lance de prestidigitação Suas Excelências preparam uma armadilha. Pensam estabelecer que o financiamento público das campanhas só entraria em vigor caso aprovado em plebiscito nacional. Voltam-se, assim, para a opinião pública, que jamais consideraram, sabendo que a maioria do eleitorado estranharia a entrega de dinheiro público para os políticos quando falta para saúde, educação, saneamento, segurança e muita coisa a mais. Acresce que já prevêem esse plebiscito para 2014, quer dizer, mesmo se por milagre aprovado, o financiamento público só valeria para as eleições de 2018. Traduzindo: até lá as doações e o Caixa Dois ficariam valendo.
QUEM PARTE E REPARTE FICA COM A MELHOR PARTE.
Vamos imaginar uma empresa privada que no fim do ano registrou um lucro de 549 milhões de reais, mas na hora de distribuir dividendos a seus acionistas, destinou-lhes apenas 170 milhões. A diferença, de 379 milhões, ficou para ser repartida entre seus diretores.
Uma operação dessas determinaria a indignação dos acionistas, seguida de ações na Justiça, cadeia para os diretores e até o fechamento da empresa.
Pois é exatamente o que aconteceu em dezembro passado, quando dezenas de milhões de brasileiros separaram um dinheirinho para jogar na mega-sena da virada, totalizando 549 milhões arrecadados em todo o país. Só que o prêmio, por sinal dividido entre cinco felizardos, totalizou 170 milhões.
O resto, quer dizer, 379 milhões, o gato comeu, ou seja, o governo embolsou, como tem feito inúmeros governos anteriores. E não se culpe a Caixa Econômica, operadora dos sorteios, porque a decisão de dividir o bolo dessa forma canhestra veio de cima, há tempos, e continua prevalecendo. Se pelo menos essa diferença tiver sido usada para atender os carentes e os miseráveis, ainda será desculpável. Mas garantir, quem garante?
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