Chagas e o futuro depois da derrota.
A maioria dos candidatos às eleições dificilmente cogita a possibilidade da derrota. Porém, é fato que para um ganhar o outro sempre terá que perder. Em artigo desta quinta (22) Carlos Chagas cita algumas alternativas para os candidatos derrotados. “Em suma, hoje os candidatos referidos torcerão o nariz diante de qualquer pergunta sobre uma eventual derrota, que não aceitam.”
Por Carlos Chagas
Em tempo de eleição os candidatos só pensam na vitória. Fala-se de candidatos para valer, é claro, dada a existência daqueles que entram nas disputas eleitorais para fazer figuração ou até por questões patológicas. Mas os verdadeiros candidatos nem de longe raciocinam com a derrota. Pensarão nela quando chegar a hora.
Mesmo assim, aqui de fora, não nos sentimos limitados para deixar de imaginar o que acontecerá com os derrotados. Qual o futuro deles?
Vale começar com o mais velho. José Serra, caso perca a eleição, não repetirá o percurso anterior, de candidatar-se a prefeito de São Paulo, depois a governador do estado. Menos pelos seus 68 anos de idade, mais por enfado, quem sabe por cansaço. Perdendo a corrida para o único cargo que ainda não exerceu na política, a presidência da República, tudo indica a disposição de recolher-se à vida acadêmica. Quem sabe aceitará consultorias em empresas privadas? Afinal, não sendo rico, apesar das aposentadorias de prefeito e governador, precisará prover o futuro com algum trabalho. Dificilmente admitirá permanecer no primeiro plano da política tucana, fazendo oposição a um novo governo do PT.
Já Dilma Rousseff, se não for eleita, também precisará trabalhar. Não é mulher para ficar apenas cuidando dos netos e nem dispõe de patrimônio capaz de garantir-lhe o ócio. Como executiva, enriqueceria qualquer empresa privada. Poderá, com facilidade, integrar governos estaduais chefiados por companheiros e aliados, do Rio Grande do Sul, se Tarso Genro eleger-se, ao Acre, com Tião Viana. Não aceitaria qualquer participação num governo do PSDB, se lhe fosse oferecida. Continuaria na linha de frente do PT, junto com o Lula.
Marina Silva sabe estar plantando para o futuro. Deixa uma reeleição mais do que certa no Senado, muito possivelmente disputará outra vez o palácio do Planalto, em 2014. Permanecerá como férrea defensora de causas ecológicas e ambientais.
Quanto aos candidatos à vice-presidência, mais sofrerá Michel Temer, com a derrota. Pensará sempre que poderia ter permanecido na presidência da Câmara pelo biênio 2011-2012, desde que se reelegesse, não fosse a ambição de tornar-se companheiro de chapa de Dilma. Fora de seus planos estará a disputa municipal de daqui a dois anos, em São Paulo, restando-lhe retornar como deputado em 2014.
Sobre o Índio da Costa, lamentará apenas haver trocado a Câmara Federal pelo sonho de ser vice sem voto, mas, pela pouca idade, poderá imaginar-se nas eleições para a prefeitura do Rio, dentro de dois anos.
Em suma, hoje os candidatos referidos torcerão o nariz diante de qualquer pergunta sobre uma eventual derrota, que não aceitam. Ou será que lá no fundo, bem no fundo, a hipótese já foi cogitada por eles?
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