quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A TRANSFORMAÇÃO DO PT

Por Carlos Chagas
Ninguém acerta sempre.  Como ninguém erra todas as vezes. O país deve muito ao PT, na realidade a única coisa nova  formada  depois de 21 anos de ditadura, em termos partidários. Uma legenda nascida nos recônditos da indignação nacional e da determinação não apenas da resistência, como foi o extinto MDB, mas da confiança na criação de uma estrutura capaz de representar os anseios da nação que se reciclava. Ao contrário do que se estabeleceu depois,  o PT não era  menor do que  fundadores, mas muito maior.
O tempo  passou. Parte  de seus artífices debandou, a maioria plena de razão. O partido perdeu-se de suas origens. Aburguesou-se.  Ficou igual aos demais.  Hoje, dá lições de como o poder consegue  distorcer  os propósitos mais puros.
Tome-se o seu Quarto Congresso, realizado  no final da semana. Para quem assistiu o Primeiro, em 1981, verifica-se  a inversão completa de valores e de intenções. Naqueles idos, a palavra de ordem era a socialização  dos  meios de produção e a entrega ao trabalhador dos frutos de seu trabalho. Agora, transformou-se na desenfreada corrida em busca de resultados, ou seja,  nomeações à sombra do poder público, assim como na acomodação diante das migalhas concedidas pelos condutores do processo econômico que um dia  os   companheiros combateram. De partido de luta, virou partido de acomodação,  só que para beneficiar seus dirigentes. Sequer resistiu à tentação de integrar-se às estruturas contra as quais  insurgiu-se um dia.
É pena concluir assim, diante da transformação de um PT que um dia pode, mas não quis, e que agora,  querendo, não  pode mais.
É SEMPRE BOM LEMBRARNunca será demais lembrar que a Independência, a 7 de setembro, foi proclamada no eixo Rio-São Paulo, demorando meses para  chegar nas diversas Províncias em que o Brasil se dividia. As notícias iam a cavalo ou de navio.  Na Bahia, Piauí, Maranhão, Grã-Pará e Cisplatina, as Juntas Governativas locais ficaram com Portugal, aderindo aos poucos ao gesto de D. Pedro I, em alguns casos pela força das armas.
Em Salvador, a tropa portuguesa opôs-se à Independência em nome da luta contra o absolutismo  e o despotismo identificados na nova  situação chefiada pelo Príncipe.  Proclamações foram lançadas contra “a tirania do Rio de Janeiro”. Também havia tropa brasileira na Bahia. As hostilidades não demoram a começar. Os portugueses eram mais fortes, já haviam tomado e até  saqueado Salvador, sem respeitar o Convento da Lapa, onde um soldado embriagado  matou a abadessa,  Irmã Joana Angélica de Jesus.
O general Madeira, comandante dos contingentes portugueses, recebe reforços da Metrópole,  toma a Ilha de Itaparica e é chamado de “infame” por D.Pedro, que para combate-lo mobiliza uma força naval sob o comando do general francês Labatut, estabelecendo  o  bloqueio de Salvador.
Duas Divisões de Infantaria comandadas pelos majores Barros Falcão e Felisberto Gomes Caldeira chegam para opor-se  ao general Madeira. A luta trava-se ao redor e  na periferia da capital baiana. Dela participa o Batalhão dos Periquitos, formado em Cachoeira e liderado por José Antônio da Silva Castro.  Dele faz parte Maria Quitéria, mulher para ninguém botar  defeito.  A 8 de novembro, em Pirajá e Cabrito, dá-se a batalha maior. O major Barros Falcão, sentindo que os brasileiros estão sendo derrotados, ordena ao corneteiro Luís Lopes o toque de retirada. Por patriotismo, descuido ou nervosismo, o jovem toca “cavalaria, avançar e degolar!”
Os acordes de corneta eram os mesmos nos dois exércitos e os portugueses apavoram. Saem em debandada, sem lembrar que os brasileiros não tinham cavalaria.  É o início da derrocada, ainda que o desfecho vá demorar. Só no começo de julho de 1823 o general Madeira decide abandonar Salvador, embarcando para Portugal com seus soldados. Fica o registro de que sem o corneteiro a História teria sido diferente.

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