segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

AS LÁGRIMAS SINCERAS DA MINISTRA ITALIANA

A cena resume a Europa hoje.
A Ministra do Trabalho da Itália, Elsa Fornero, uma professora universitária do Piemonte, de 63 anos, especialista em seguridade social, não conseguiu conter as lágrimas (veja: http://www.rainews24.rai.it/it/video.php?id=25496 ). Elsa tentava justificar a parte do arrocho de 30 bilhões de euros, anunciado pelo primeiro ministro Mário Monti, que penalizará fortemente  o sistema previdenciário italiano. A idade mínima de aposentadoria foi elevada para 62 anos no caso das mulheres e 66 anos para os homens. Em 2018, a idade única será de 66 anos. Até lá, a antecipação de pedidos de aposentadoria exigirá um mínimo de 41 anos de contribuição para mulheres; 42, no caso dos homens. Pensões acima de 936 euros foram congeladas; aquelas abaixo desse valor serão corrigidas mas apenas parcialmente. Trata-se de um arrocho impiedoso. Que congela e corrói o amparo social na curva final da vida, justamente quando mais se necessita dele; uma ruptura com valores e laços compartilhados que formavam as bases do Estado do Bem-Estar Social pelo qual muitos dos que agora estão sendo descartados lutaram --talvez Elsa junto com eles. Na cena asséptica e pastosa da solenidade montada  para vestir de austeridade virtuosa aquilo que é uma expropriação de renda em benefício dos rentistas, ela destoou. As lágrimas sinceras da professora feita ministra impediram-na de concluir o raciocínio justificatório para a palavra 'sacrifício'. Elsa precisou interromper a explicação do pacote, substituída então por Monti, o tecnocrata elegante, mas ao contrário dela um bloco granítico e calculista a serviço dos mercados, explicitamente reconhecido como um interventor deles no Estado italiano. A emoção de Elsa roubou a cena daquilo que era para ser um elogio à racionalidade fria dos ajustes ortodoxos em curso na UE. O conjunto evidencia a tensão gerada pelo desmonte do Estado do Bem-Estar Social em nome de uma União Européia cuja sobrevivência ou derrocada será decidida esta semana, na reunião de cúpula de Bruxelas, 6ª feira.  (Carta Maior; 2ª feira; 05/12/ 2011)

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