O Domingo Espetacular fez reportagem sobre informação contida no livro do Boni – clique aqui para ler sobre o Boni publicitário: Boni ajudou a preparar o Collor para o debate decisivo na vitória do Collor sobre o Lula.
Deu-lhe suor, umas pastas de “denúncias vazias”, entortou-lhe a gravata – só faltou a caspa do Jânio.
Nesse episódio, para defender o patrão, Ali Kamel deu-se ao ridículo papel de dizer que o Boni agiu por conta própria.
A culpa é do Boni e, não, da Globo.
E o Kamel acha que o espectador e o Boni são parvos.
Na reportagem do Afonso Monaco na Record, Ricardo Kotscho, que era assessor de imprensa do Lula na época e, hoje, trabalha com Heródoto Barbeiro na Record News, faz revelação importantíssima.
Na reunião em São Paulo entre as equipes dos candidatos e a TV Bandeirantes, que realizou o debate dois dias antes da eleição no segundo turno, lá estava o Kotscho.
Quando entram pela sala adentro, lado a lado, Claudio Humberto, assessor de imprensa do Collor, e Alberico Souza Cruz, diretor de jornalismo da Globo (um pouco menos poderoso do que hoje é o Kamel).
Kotscho demonstra sua perplexidade – com vocês dois juntos, não há quem aguente – e eles explicam: foi uma coincidência tomar o mesmo avião.
Logo depois se soube da natureza da coincidência.
Cruz chegou à Globo no dia seguinte ao debate, no início da tarde.
Roberto Marinho já tinha dado instrução ao editor de política do jornal nacional, Ronald Carvalho: tudo de bom do Collor e tudo de mau do Lula.
O editor Otavio Tostes estava na “ilha” 7 para iniciar a re-edição do resumo do debate do jornal Hoje, um trabalho isento e profissional de Wianey Pinheiro.
Ronald disse a Tostes: tape o nariz e meta a mao na m…
Pouco depois, chega Cruz de Sao Paulo, onde se realizou o debate fatal.
(Ouvi dizer na Globo, então, que Cruz foi para o Rio no jatinho que servia ao Collor.)
Cruz entra na ilha 7 e pergunta ao Tostes como está a edição do debate.
Tostes descreve as instruções que recebeu do Ronald (do Dr Roberto, na verdade).
Cruz ordena: além disso e disso, tem que ter mais isso e aquilo.
Tostes se vê diante do dilema de fazer todas aquelas instruções caberem numa reportagem do jornal nacional, que respeitava, normalmente, limites de tempo.
A edição na ilha 7 acaba e Cruz manda levar a fita para a ilha 10, que dispunha de mais recursos de edição.
A essa altura, o prazo para entregar matérias a serem exibidas já se tinha esgotado: a matéria estava ” fora do dead line”, como se dizia na Globo.
Ou seja, corria o risco de não entrar.
Cruz reviu a edição na ilha 10 e mandou subir para exibição – fora do dead line.
(Voluntariamente, Tostes, num raro ato de coragem, se dispôs a contar esse episódio sublime da Historia da TV brasileira ao Sindicato dos Jornalistas do Rio e, de lá, Oswaldo Maneschy deu acesso ao ansioso blogueiro.)
Este ansioso blogueiro assistiu ao jn de casa.
Finda a patranha, ligou para o Ronald:
O que é que você fez ?
Exagerei para ficar mais chocante, foi a resposta dele (não literal).
Não foi só isso.
Aquela edição do jornal nacional do Cruz, Ronald e Dr Roberto conteve mais.
Uma “pesquisa” por telefone em que o Collor aparecia como o grande vencedor do debate.
Naquela altura, pobre não tinha telefone.
Usava o da quitanda.
E, depois da incompleta “pesquisa”, Alexandre Maluf Garcia entrava para dizer, com aquela voz de Ordem do Dia, que democracia era aquilo mesmo: acreditar na “pesquisa” e exercer o direito de votar (no Collor).
(O entusiasmo de Garcia foi um pouco menos intenso do que demonstrava na TV Manchete para defender a eleição do Maluf contra o Tancredo.)
Portanto, a entrada do Cruz com o assessor de imprensa do Collor não foi apenas uma coincidência, como disseram ao Kotscho.
Como dizia o Dr Tancredo, em política não há coincidência.
Paulo Henrique Amorim
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