quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SOLERTE MANOBRA DO DR. SILVANA

Por Carlos Chagas.
A partir da denúncia formulada pelo Globo, no fim de semana, a imprensa inteira começou a investigar e a divulgar supostos malfeitos praticados pelo ministro Fernando Pimentel. Além das notas explicativas que pouco explicam, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior saiu-se com os dois clássicos chavões a que apelaram seis ex-ministros acusados de corrupção: trata-se de um complô da mídia contra o governo Dilma, além de fogo-amigo, ou seja, denúncias inventadas por companheiros empenhados em conflitos políticos.
Assim como Antônio Palocci, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi, Pedro Novais, Orlando Silva e Carlos Lupi, agora é a vez de Fernando Pimentel tentar sair pela tangente, evitando pronunciar-se sobre o conteúdo das acusações. Houve ou não tráfico de influência em suas atividades de consultor de empresas? Foram celebrados contratos de consultoria com entidades e empresas beneficiadas durante seu período de prefeito de Belo Horizonte, configurando retribuição pouco ética, que lhe rendeu pelo menos dois milhões de reais em dois anos?
Noves fora a economia interna do PT mineiro, em luta de foice em quarto escuro por conta das eleições para prefeito da capital, em 2012, a defesa do ministro visa o mesmo alvo de sempre, a imprensa.
Estaria o governo sofrendo os efeitos de pérfida e solerte manobra do dr. Silvana? O inimigo número 1 da Humanidade teria outra vez montado seu laboratório secreto nos porões da Esplanada dos Ministérios, para atormentar a presidente Dilma e deixar em frangalhos as instituições nacionais? Dele partiu o desmonte do ministério e a desmoralização dos partidos políticos? Ao investir contra mais um ministro do PT, depois ver arcabuzado um do PDT, pretenderia esse cientista louco acabar com o pouco que resta do trabalhismo brasileiro?
Essa parece a conclusão não só de Pimentel, mas de quantos deixam de perceber que tudo acontece porque a natureza das coisas é implacável. Denúncias de corrupção devem ser apuradas como imperativo da liberdade de informação e de expressão do pensamento. Fosse na ditadura e nada seria publicado. Só falta botarem a culpa na democracia.
1984 EM 2011.
A ninguém será dado esquecer o magnífico “1984”, escrito por George Orwell em 1937, mostrando como regimes ditatoriais podem mudar o passado, fazendo de amigos, inimigos, além de apagar fatos e pessoas em prol da preservação do poder.
O Brasil continua dando lições para o mundo, pois antes do fatídico ano retratado no livro, já praticávamos a arte de alterar a memória nacional. No período mais bicudo do regime militar, por exemplo, era proibido divulgar qualquer informação sobre Juscelino Kubitschek. D. Helder Câmara, nada, nem contra nem a favor. Na extinta União Soviética, Stalin mandou tirar Trotski até das enciclopédias. Na China, Mao baniu Teng Xiauping por duas décadas.
Pois não é que um rescaldo desse deletério comportamento chegou até nós? No Congresso, vem dos tempos da ditadura a autorização para que as mesas da Câmara e do Senado possam censurar expressões e pronunciamentos candentes, como se não tivessem existido. Basta não incluí-los nos anais, proibindo sua publicação no Diário Oficial, para imaginar que ninguém ouviu nem percebeu.
Terça-feira, no aceso das paixões parlamentares, o senador Demóstenes Torres acusou o senador José Sarney de haver adotado uma atitude torpe ao inverter a ordem do dia, numa votação de interesse do governo. O ex-presidente da República, contrariando seus hábitos, partiu para a briga, só não agredindo o colega por interferência do ex-presidente Fernando Collor. Mas como presidente do Senado agiu em seguida, determinando a supressão da palavra “torpe” das notas taquigráficas da sessão. Foi pronunciada, mas não foi, para os registros históricos.
Em defesa da memória nacional, vale registrar o que diz o Aurélio. “Torpe: desonesto, impudico, infame, vil, abjeto, ignóbil, repugnante, nojento, asqueroso, ascoso, obsceno, indecente, manchado, enodoado, maculado.”
Se um senador destemperou-se, mesmo depois pedindo desculpas, outro senador mandou apagar o passado...
ESCORREGOU.
A gente fica pensando como estaria o Brasil se, em 2002, Ciro Gomes tivesse sido eleito presidente da República. Durante certo período ele liderou as pesquisas, depois prevalecendo o Lula. Faz-se a indagação por conta das declarações prestadas esta semana pelo ex-governador do Ceará, um amontoado de aleivosias gratuitamente atiradas sobre a presidente Dilma Roussef. Falta-lhe ponderação. Ele declarou que Dilma não tinha mérito político para disputar a presidência da República, nem estatura ou merecimento para exercer o cargo.
Imagine-se Ciro presidente em meio a uma crise qualquer. Já estaríamos em guerra ou em meio a uma revolução.
MARCAÇÃO.
Não dá para entender como durou tanto tempo a sabatina a que os senadores da Comissão de Constituição e Justiça submeteram a nova ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber. Foram mais de seis horas, entre perguntas e perorações desimportantes, mas, em paralelo, questionamentos tão detalhados que nem Rui Barbosa se sentiria à vontade para respondê-los. Em especial os senadores Pedro Taques e Demóstenes Torres esmeraram-se em botar cascas de banana diante da então indicada pela presidência da República, com inquirições que nem a Ordem dos Advogados ousa colocar em suas provas de habilitação para os jovens saídos das Faculdades de Direito.
Por que esse comportamento inusitado? Há quem suponha um capítulo a mais na tertúlia entre o Senado e o Supremo, enquanto este não se pronuncia sobre a validade da lei da Ficha Limpa.

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