Por Carlos Chagas.
Ficam alguns rescaldos, melhor dizendo, perguntas, da demissão de Carlos Lupi. A primeira, sobre por que todos os ministros demitidos perdem semanas inteiras jurando que não pedirão para exonerar-se? Uns mais, outros menos, dos sete já arcabuzados no governo Dilma, todos tentaram agarrar-se aos respectivos ministérios, a maioria apregoando dispor da confiança e do apoio da presidente, de estarem sendo injustiçados pelas denúncias malévolas da imprensa manipulada por seus adversários. Chega a ser ridícula essa postura, quando basta respirar para saber que o ar está poluído. Ou então investigar a respeito de quem alimentou a mídia com informações sobre malfeitos. Geralmente, seus próprios correligionários e aliados.
Por que, apesar de todo o jogo de cena a que se dedicam, no final apresentam suas cartas de exoneração? Por razão muito simples: depois de ouvirem a palavra final de Dilma, diretamente ou através de ministros: “se não pedirem para sair, serão saídos...” Para escapar da suprema humilhação, perdem a suposta coragem anterior, curvam-se e recebem, como prêmio de consolação, carta de agradecimento pelos serviços prestados e votos para que continuem trabalhando pelo país.
Não deixa de ser significativo que os sete ex-ministros foram impostos à chefe do governo, uns pelo Lula, outros pelos partidos da base parlamentar oficial. Nem Antônio Palocci, nem Nelson Jobim, Wagner Rossi, Alfredo Nascimento, Pedro Novais, Orlando Silva e agora Carlos Lupi integraram a cota pessoal de Dilma. Ela engoliu as indicações, em nome da lealdade para com o antecessor e em função do modelo que lhe venderam, de formar uma equipe em condomínio para garantir maioria no Congresso.
Está mais do que provado que não deu certo. A rejeição da presidente a parte do ministério foi respaldada por denúncias de malfeitos, mas aconteceria de qualquer forma. Com exceção de Palocci, chefe da Casa Civil, os demais já vinham sendo isolados, sem despachar com Dilma e esvaziados nas suas atribuições funcionais. Antes mesmo das acusações se tornarem públicas. Outros ministros existem nessas condições, bastando consultar a agenda presidencial.
Fica a indagação: essas coisas acontecem por acaso? Por simples coincidência? Quem quiser que responda, bastando aguardar a reforma prevista para janeiro.
Muita gente não entende porque a presidente Dilma aguardará janeiro, quem sabe até mais, para promover a reforma do ministério. Afinal, perder um mês inteiro para recompor a equipe significa jogar pela janela tempo precioso, capaz de ser utilizado para a concretização de seus objetivos.
Há quem discorde e justifique o interregno. Estariam sendo cozinhados em fogo lento os demais ministros que deixarão de ser ministros. Abandonados, eles estarão se conscientizando da inutilidade de sua permanência no governo. Não tomarão a iniciativa de antecipar-se, mas ficarão preparados para o inevitável.
Seria constrangedor citar nominalmente os ministros postos na máquina de moer carne, mas estão à vista de todos, mesmo se não surgirem contra eles denúncias de corrupção.
A dúvida é saber se a presidente disporá de condições para nomear os melhores para cada ministério, com ou sem filiação partidária. Por certo que levará em consideração a necessidade de manter sua base parlamentar, mas dificilmente continuará refém dos partidos, apenas aceitando suas indicações. Por tudo, resta aguardar.
NA ENCOLHA.
Pelos motivos expostos na nota anterior, registra-se no ministério inteiro a estratégia do cone de sombra. Todo mundo se esconde, ninguém anuncia programas e projetos, muito menos realizações, que bem ou mal continuam acontecendo. É difícil encontrar ministros dispostos a dar entrevistas, a mostrar-se e a demonstrar confiança em sua permanência. Razoável número continuará, depois da reforma, mas quais? Muitos encontram-se apenas acampados em Brasília, sem coragem para montar casa na capital federal. Todos programam dias de descanso por conta das férias de Natal e Ano Novo, até seguindo o exemplo de Dilma, que deverá isolar-se por dez dias, em janeiro. A hora não é de falar nem de aparecer.
LEGALIDADE E ÉTICA.
Ilegalidade o ministro Fernando Pimentel não cometeu, quando depois de deixar a prefeitura de Belo Horizonte e antes de ser nomeado para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, dedicou-se a atividades de consultoria econômica, faturando perto de 2 milhões de reais. O direito ao trabalho está na Constituição. O diabo é que, entre outras, sua empresa prestou consultoria à Federação das Indústrias de Minas Gerais. Que tipo de consultoria, poucos sabem. Muito menos se quando prefeito, o atual ministro celebrou contratos com filiados da entidade. Foi por aí que Antônio Palocci perdeu-se e perdeu a Casa Civil. Pimentel recebeu todo o apoio da presidente Dilma para dar explicações sobre sua empresa de consultoria. Tomara que consiga.
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