Por Carlos Chagas.
Foi para não ver derramado sangue brasileiro que o presidente João Goulart impediu a Força Aérea de bombardear com napaln as reduzidas tropas do general Mourão Filho na divisa dos estados de Minas e Rio de Janeiro, em 1964. Três dias depois partiu para o exílio no Uruguai, com a mesma determinação. É dúvida se sabia ou não que com aquele gesto encerrava o capítulo das reformas de base em nosso país, já que tinha esperança de retornar em breve. De qualquer forma, de lá para cá, ninguém pensou mais nas reformas de base, fosse nos governos militares, no alvorecer da Nova República, no consulado do sociólogo ou mesmo no período em que fomos geridos por um sindicalista. Nem agora, sob o mandato da gestora-sucessora. Claro que todos os presidentes levantaram cortinas-de-fumaça, prometendo a verdadeira redenção do trabalhador, mas só fizeram asfixiar seus reclamos, sob rótulos os mais variados.
De Castello Branco ao Lula, nenhum deles impulsionou para valer a realização de mudanças estruturais em nossa vida social. Do voto do analfabeto que o primeiro general-presidente alardeou, ao bolsa-família do operário que preferiu o assistencialismo, não se ouviu falar mais, para valer, da participação dos assalariados no lucro das empresas, da co-gestão, da justa atualização do salário-mínimo com as necessidades das massas, da contenção dos lucros abusivos e dos privilégios das elites. Pelo contrário, foram sendo sistematicamente suprimidos os direitos um dia estabelecidos por Getúlio Vargas. Dos militares, que fizeram o dever de casa imposto pelo empresariado, acabando com a estabilidade no emprego, a progressão chegou a esse ridículo salário-mínimo de 622 reais. Lembra-se que Fernando Henrique beneficiou o capital internacional e nacional, empenhado em cuidar do andar de cima sem olhar para o porão, mais ou menos o que o Lula continuou, mesmo contrabalançando com migalhas as agruras de parte dos miseráveis.
Por que se recorda esse processo cruel? Porque mais um episódio começa a ser preparado na novela. As elites pretendem que 2012 venha a ser o ano da “reforma trabalhista”, melhor seria dizer, da anti-reforma. Sob o pretexto de que os direitos do trabalhador prejudicam o desenvolvimento das empresas, querem reduzir os impostos sobre as folhas de pagamento, acabar com as indenizações no caso das demissões imotivadas, assim como extinguir o décimo-terceiro salário e as férias remuneradas, pela sua divisão em doze parcelas anuais, que logo seriam tragadas pelos baixos salários.
Seria hora de as centrais sindicais se organizarem para a resistência, já que nem pensam nas reformas de base. Mas do jeito que elas se comportam, nem haverá que esperar.
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