Por Carlos Chagas.
Por melhores que sejam as intenções e as iniciativas internacionais, um soldado estrangeiro armado transitando em terra estrangeira será sempre considerado inimigo pelas populações locais. Esse é o obstáculo intransponível às chamadas Forças de Paz, de Guerra, Coligações ou sucedâneos espalhadas pelo planeta. Não houve paz enquanto tropas americanas continuaram no Iraque, de onde se diz que saíram, ou continuam no Afeganistão e alhures.
A propósito, é sempre lembrada como exemplo a história daquele jornalista, comunista empedernido, na Itália, que dirigia um pequeno matutino há muito proibido por fascistas e nazistas. Quando as tropas do general Mark Clark estavam nos subúrbios de Roma e os alemães já tinham fugido, os jornais da capital italiana prepararam manchetes patrióticas a respeito da entrada dos soldados: “AMERICANOS, MUITO OBRIGADO!”, “BENVINDOS, SALVADORES DO UNIVERSO!”, “VAMOS APLAUDIR OS DEMOCRATAS QUE CHEGAM!” e coisas parecidas. Pois o nosso confrade vermelho preparou a primeira página do jornal há tanto tempo proibido com a manchete: “AMERICANOS, FORA DE ROMA!” Era a premonição do que viria depois.
Vale o mesmo para a presença brasileira no Haiti, ainda que por enquanto falte a exortação de “BRASILEIROS, GO HOME! Que não tarda a ser impressa. Até nossa seleção de futebol foi jogar lá, para agradar a população e demonstrar que somos amigos. Não adiantou nada. Fica indignado cada haitiano que vê passar um carro de combate cheio de soldados brasileiros, mesmo que estejam indo apaziguar uma briga interna ou distribuir água ou comida. Sem falar nos inevitáveis entreveros muitas vezes provocados por maus elementos, quando não por patriotas sequiosos de independência.
Está na hora de o governo brasileiro repensar nossa presença naquele infeliz país. Somos invasores, quaisquer que pareçam os bons propósitos de impedir o caos e tentar levar a tranquilidade a uma sociedade posta em frangalhos. E de ajudar em suas piores hora, quando do passado terremoto, da fome permanente e das inevitáveis epidemias. Nossos contingentes não são tidos como libertadores, mas como invasores e intrusos.
Há anos suportamos o ônus de cumprir determinações das Nações Unidas. Está na hora de nossos soldados voltarem. Ainda semana passada morreu um de nossos soldados, em acidente de trânsito. Precisava?
HORA E VEZ DE TANCREDO.
Silvio Tendler, cineasta empenhado em recuperar a memória nacional, já nos deu monumentais documentários sobre João Goulart e Juscelino Kubitschek. Resgatou a trajetória dos dois ex-presidentes e depois dedicou-se a um terceiro, Tancredo Neves. Ajudado pelo jornalista José Augusto Ribeiro, mandou para as telas e telinhas material de primeira qualidade, já se constituindo em contribuição fundamental para o historiador do futuro. E para todos nós, do presente, os que conheceram e os que não conheceram a saudosa raposa política mineira.
Entre mil episódios da vida de Tancredo, vale pinçar um dos que estão sendo apresentados por Silvio Tendler:
Tancredo iniciava sua campanha para a presidência da República e conversava, como quase todas as manhãs, com José Hugo Castelo Branco, Francisco Dornelles, Hélio Garcia, Mauro Salles e outros. Estava sendo um massacre, pois cada um dos interlocutores criticava o candidato, fosse por suas abordagens serenas a respeito de temas político-institucionais, fosse por sua postura amena nos palanques ou até por conta das regiões que precisava e ainda não tinha visitado.
De repente Tancredo levanta-se, dedo em riste e manda que se dirijam porta a fora. Dispensava-os todos, com rispidez. Um deles voltou-se e perguntou: “para onde nós iremos, dr. Tancredo?”
Resposta sutil, à qual seguiu-se uma malicioso toque de humor: “ora, vão para a campanha do Maluf, que é o lugar de vocês...”
UM FIO DE ESPERANÇA.
Resposta direta ou não ao horror que ainda assola os subúrbios do Rio, apesar das Polícias Pacificadoras, a verdade é que a Polícia Federal, auxiliada pelas polícias de diversos estados, vem apreendendo quantidades jamais imaginadas de cocaína, maconha, craque e outras drogas, bem como prendendo montes de traficantes.
É a melhor resposta para enfrentar o crime organizado: atingí-lo no bolso, causando-lhe prejuízos capazes de desarticular suas atividades. Permanecer no morro e às vezes levando tiros pode tornar-se necessário, mas adianta muito pouco quando se sabe que atrás de um traficante eliminado virão outros, já escolhidos à maneira dos planos de estado-maior nas batalhas. Atacar e destruir suas provisões parece mais inteligente e mais eficaz. E, se possível, invadir os gabinetes refrigerados, no asfalto, dos verdadeiros chefões do tráfico.
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