Por Carlos Chagas
De novo em Brasília, apesar de só voltar ao palácio do Planalto segunda-feira, a presidente Dilma poderá ter incluído mais um nome em sua lista de possíveis ministros substituíveis na reforma prevista para este mês. É o titular da Integração Nacional, Fernando Bezerra, que fez a emenda ficar pior do que o soneto, esta semana. Flagrado por haver destinado a Pernambuco 90% da verba liberada cujo destino era prevenir e recuperar cidades atingidas por enchentes, o ministro rebateu mas chutou contra sua própria meta e fez o gol. Declarou que não poderia discriminar seu estado natal só porque nasceu lá, quando na realidade não discriminou, mas privilegiou. Disse mais que agiu assim porque os projetos das cidades pernambucanas foram bem feitos, ao contrário das similares de outros estados. Com luvas de pelica, o governador de Minas, Antônio Anastásia, não reagiu. Nem Sérgio Cabral, do Rio. Mas deveriam, porque cidades mineiras e fluminenses sofreram muito mais e continuam à míngua, em matéria de recursos.
Ninguém sabe o que se passa na cabeça da presidente Dilma, em termos de mudanças no ministério, exceção das iniciativas óbvias que precisará tomar, como designar o novo ministro da Ciência e Tecnologia, com o deslocamento de Aloísio Mercadante para a Educação, dado o pedido de exoneração de Fernando Haddad para candidatar-se à prefeitura de São Paulo. Mais a designação do novo ministro do Trabalho, ocupado por um interino desde a queda de Carlos Lupi. Admite-se, ainda, a substituição de Mário Negromonte, das Cidades. Só para ficar na linguagem do futebol, porém, a verdade é que Fernando Bezerra encontra-se na marca do pênalti. E não como batedor.
A LEI MAIOR E A LEI MENOR.
Saiu-se o governador Agnelo Queirós, de Brasília, com outra bobagem. Sancionou lei oriunda da Câmara Distrital proibindo que o carona possa fumar no carro onde o motorista já se encontra proibido, no qual viajam crianças e gestantes. Não se discute o efeito do cigarro nos fumantes passivos, que é pernicioso. Muito menos a impossibilidade de fiscalização por parte da Polícia Militar, já que para saber se uma passageira está grávida, será preciso que o guarda meta a cabeça na janela do veículo ou peça a todas as senhoras para descerem, de preferência com atestado médico.
O ridículo nessa história é que se alguma criança ou gestante der sinais de asma, bronquite ou coisa pior, por conta da fumaça dos adultos, precisará ir ao hospital ou ao posto de saúde. Ficará a madrugada e o dia inteiro na fila, sem ser atendida, ouvindo depois que faltam médicos pneumologistas.
Em Direito, existe a hierarquia das leis: a maior prevalece sobre a menor. Que tal o governador cumprir primeiro a disposição de que todo brasileiro tem direito a tratamento gratuito de saúde, em boas condições, e depois mandar seus policiais fiscalizarem o uso do cigarro?
TELEJORNAIS OU DELEGACIAS DE POLÍCIA?
Não falamos do Datena, que tem seu espaço garantido, mas do exagero hoje vulgarizado nos telejornais, com raríssimas exceções. Da manhã às altas horas da noite, muito mais da metade das matérias apresentadas referem-se a crimes, violência e catástrofes acontecidas no dia, na véspera e até semanas antes. Com o agravante de que transformam notícias em espetáculos onde aparecem imagens chocantes, depoimentos trágicos e explorações descabidas. É claro que cabe aos meios de comunicação divulgar tudo o que se passa na sociedade. Se a criminalidade aumentou, se a violência impera, se os vícios predominam e a miséria duplicou – tudo deve ser transmitido. Mas na devida proporção, porque outro tipo de informação também existe. Em especial quando, não raro, é mostrada a dificuldade encontrada por um cabritinho, na China, para sair do precipício em que caiu.
Argumentam as redes de televisão que trabalham em função da audiência, sustentáculo da publicidade e do faturamento. Se é isso que o telespectador quer, é isso que receberá. Seria bom pôr em dúvida o círculo vicioso, porque ninguém garante que o cidadão deixará de apreciar outras matérias, se recebê-las.
FATIAMENTO SÓ MAIS TARDE.
Observadores da vida parlamentar aproveitam o recesso para tirar algumas conclusões. Uma delas é de que depois da ampla reação do eleitorado do Pará, contra a divisão do estado em três, ficam prejudicadas as propostas de retaliação do Amazonas, Maranhão, Piauí, Mato Grosso, Bahia e Minas. Na maioria dos casos, são políticos e não econômicos os projetos tramitando ou dormindo nas gavetas do Congresso. Devem-se à ambição de deputados ou senadores ávidos de garantir-se e até de concorrer aos governos dos novos estados, a prefeituras das novas capitais ou a cadeiras nos tribunais de contas a ser criados. Sem falar no sumidouro de recursos em que esses novos estados de tornariam, claro que tudo correndo por conta do governo federal. O mapa do Brasil continuará o mesmo, por muitas décadas.
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