terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ENTRE REMEDIAR E PREVENIR

Por Carlos Chagas.
Nos idos de 1966/67 o Rio viu-se presa de  profunda tragédia gerada pelas águas. Morros despencavam,   edifícios inteiros desmoronavam, casas desapareciam , avenidas viravam rios e rios transformavam-se em enormes lagos. O governador Negrão de Lima reuniu o secretariado debaixo de virulentas críticas por parte da imprensa e tomou duas decisões: remediar de imediato os efeitos da catástrofe e iniciar, ao mesmo tempo,  uma política de prevenção. Mobilizaram-se recursos para a contenção das encostas, a fixação de pedras monumentais que ameaçavam precipitar-se lá de cima. Dragaram-se rios e até se desviaram  cursos  que desaguavam no pequeno estado da Guanabara – tudo junto com o atendimento às populações atingidas, a recuperação de pontes e rodovias  destruídas e de ruas arrasadas, bem como  a construção de casas populares para a  transferência dos desabrigados. O governo federal pouco ajudou, Negrão era do MDB em plenos anos bicudos,  mas, mesmo assim, o Rio livrou-se da maior parte das consequências da chuva que continuou  caindo nos anos posteriores.
A presidente Dilma reuniu-se ontem com cinco ministros mais diretamente afetos aos danos verificados em diversas regiões do país por conta do aguaceiro que nos atinge.  Ficou  clara a  necessidade de duas linhas de ação igualmente prementes:  reparar, ou seja, remediar os  efeitos do  dilúvio que repete o verão do  ano passado, recuperando os estragos materiais  e atendendo as populações atingidas,  mas iniciar, desde já, amplo programa de prevenção para evitar, em 2013, as mesmas cenas abomináveis. Necessita o governo federal imitar a ação de um dos maiores governadores de que o Rio já dispôs.  Aquela dramática situação   estadual virou nacional, sabe-se lá porque desígnios da natureza.  Não basta atender os aflitos e remendar com obras de emergência o que foi destruído. Faz muito que arquivar as preocupações quando as águas baixam tornou-se  prática permanente das autoridades públicas. É preciso prevenir. Atuar antes que as coisas aconteçam de novo.    Buscar no exemplo de  54 anos atrás o roteiro para tirar o Brasil do sufoco.
AS DEVIDAS PROPORÇÕES.
 Por maiores méritos que possua o governador Eduardo Campos, com 90% de aprovação em Pernambuco, é preciso reduzir às devidas proporções  sua  influência  na sucessão presidencial de 2014. Alguns açodados defendem que ao governador tudo deve ser concedido, em nome da permanência do Partido Socialista na coligação  que sustenta o palácio do Planalto. Melhor ir com calma, ou seja, atendendo o neto de Miguel Arraes em tudo o que for possível, mas tendo presente que pouca influência ele  terá caso permaneça no bloco  governista atual  ou  ceda ao canto de sereia dos tucanos, prontos para oferecer-lhe a candidatura a vice-presidente na chapa cuja cabeça permanece indefinida.   Claro que Eduardo Campos reforçaria a indicação de José Serra mil vezes mais do que o desconhecido Índio da Costa,  imposto pelo DEM. Ou comporia  com Aécio Neves uma aliança tão política quanto geográfica.  Dispondo-se a disputar  a presidência, salvo inusitado, suas chances seriam nulas.
PRESIDÊNCIA EM CONDOMÍNIO.
Carlos Lupi reassumiu a presidência do PDT, ontem, mas em condições bem diversas daquela quando sucedeu Leonel Brizola. O ex-ministro do Trabalho desgastou-se, menos nas funções exercidas desde o governo Lula, mais na tentativa desesperada de permanecer, num período em que  até as cartomantes previam sua queda.
De novo no comando da legenda trabalhista, Lupi precisa  optar entre a tentativa do reinado absoluto que já exerceu ou uma gestão em condomínio. Passou o tempo de viver cercado de sabujos, necessitando agora de dar voz e voto aos setores dele mais afastados, a começar por  Cristóvan Buarque.
O saudoso Adolpho Bloch sempre dizia que os judeus perderam Jesus Cristo por falta de relações públicas. O PDT perdeu Dilma Rousseff mais ou menos pelos mesmo  motivos.
AGORA OU NUNCA.
Precisa definir-se o Alto Tucanato paulista. Ou convence José Serra a candidatar-se à prefeitura paulistana,  fincando bases permanentes no terreno da sucessão presidencial de 2014, ou arrisca-se não apenas a perder o Ibirapuera, mas antecipadamente também o Planalto. Levando a dicotomia Serra-Aécio  até às vésperas da escolha do novo presidente da República, a conseqüência será a  reeleição de Dilma. Reforçando o predomínio em São Paulo com a eleição do novo prefeito da capital, aliado ao governador,  as coisas não ficarão fáceis para o PT, no plano nacional. Em especial com Minas fechada em torno de Aécio Neves. O problema é que José Serra precisa definir-se o quanto antes, para que os tucanos preparem seu plano de vôo para Brasília.

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