Aécio falou, sim, que sairá do PSDB.
O ex-governador Aécio Neves trocou a entrevista coletiva que seus assessores anunciaram, por um comunicado no qual desmentiu, longe das interrogações dos jornalistas, que vai sair do PSDB conforme reportagem que publiquei na edição da revista CartaCapital que está nas bancas.
Eu afirmei: “Há duas semanas, em um jantar no Rio de Janeiro, o ex-governador Aécio Neves se empolgou ao falar da necessidade de reformas políticas no Brasil e, para sustentar os argumentos que desenvolvia junto a um grupo restrito de amigos, ele anunciou: “Eu vou sair do PSDB”.
Aécio desmentiu: “Essa informação não tem qualquer fundamento. É mais uma especulação infundada, sem qualquer relação com a realidade, a exemplo dos mesmos boatos que, ano passado, davam como certa minha saída do PSDB. O PSDB é minha casa e, não apenas vou permanecer nele, como estou lutando para dar ao partido uma bela vitória em Minas”, diz a nota distribuída na sexta-feira, 17.
O ex-governador não negou, no entanto, o jantar. E me surpreende que o anfitrião, Alexandre Accioly, um dos maiores empreendedores da área de entretenimento no Rio de Janeiro, tenha entrado em cena para dizer que o apartamento dele é em Ipanema e não em Copacabana, como indiquei, e que o jantar foi a mais de dois meses e não em duas semanas como informei.
Confesso que errei. Mas o meu erro termina aí. Aécio desmentiu a afirmação, mas, não desmentiu o encontro.
Ao longo dos embates internos que travou, e perdeu, com os tucanos paulistas quando tentou abrir
espaço, através de eleições prévias, para se afirmar como candidato à presidência pelo PSDB, mantive sinceras e cordiais conversas telefônicas com Aécio Neves, então governador de Minas Gerais.
Foi um período de vai-e-vem político entre mineiros e paulistas. Uma fase de certezas e incertezas, erros e acertos, verdades e mentiras e, naturalmente, afirmações e desmentidos recíprocos entre eles. Conversas em “on” e em “off” que, no jargão jornalístico-político quer dizer “publicável” e “não publicável”.
Nunca traí o governador mineiro com o qual travei, também, tantas outras conversas ao longo de nossas funções: eu sempre no jornalismo e ele sempre na política. E ao longo dessa amistosa relação profissional consegui evitar, ele sabe, erros grosseiros e insinuações malévolas de repórteres que trabalhavam sob o meu comando editorial.
Há quem já tenha invocado o dever ético, equivocado nesse caso, que teria traído ao não ouvir o outro lado. Irrita-me essa ética tucana de ocasião. Não fiz nenhuma acusação grave ao ex-governador. Não peguei os boatos que circulam por aí e, me prevalecendo do acesso que teria a ele como representante de uma revista de credibilidade insuspeita, fazê-lo dialogar com acusações infames e, com isso, dar suposta credibilidade a baixarias.
Desmentidos categóricos fazem parte do jogo. A veemência do ex-governador mineiro e futuro senador eleito por esmagadora maioria de eleitores não me fará, no entanto, apresentar ao público o nome de quem me contou a história, testemunha ocular e auricular da declaração dele que repito aqui. “Vou sair do PSDB”.
Avanço mais alguns detalhes da conversa naquela ocasião.
Aécio Neves não deve sair de pronto do partido. Até porque há problemas legais para isso. A declaração dele, com potencial explosivo, veio no contexto de uma futura reforma política que ele considera “importante e inevitável”. E acredito que ele tenha razão.
A revista CartaCapital, em constantes editoriais, tem falado da necessidade de um partido de centro, moderado, democrático, capaz de dar outra dinâmica às oposições anti-petistas e de acabar com a opacidade da democracia exercitada no Brasil. Essa situação, favorece a atuação daqueles que se arrastam pelas escuridões dos subterrâneos quando os votos não os beneficiam. Isso me lembra figuras como a do ex-deputado carioca Amaral Neto que, pelo destaque que alcançou com o desvario oposicionista, nos anos 1950, contra Getulio Vargas e contra Juscelino Kubitschek.
Mais precisamente “amaralista”. E me refiro aqui ao ex-deputado Amaral Neto, ponta de lança do radicalismo lacerdista, editor da revista Maquis que celebrizou o oposicionismo udenista com a manchete: “O governo Kubitschek está cheio de ladrões”.
Enfim, como me lembrou oportunamente um leitor da CartaCapital, a presença de Aécio Neves no PSDB tornou-se tão contraditória como se o avô dele, Tancredo Neves, se filiasse à UDN.
Eu sou capaz de entender o “problema político” que criei para o ex-governador Aécio Neves. Mas, ele há de entender o meu dever profissional.
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