Por Eduardo Guimarães - BLOG DA CIDADANIA.
Não há como deixar de reconhecer que os fatos envolvendo a agora ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra podem até não conter ilegalidade, mas, por certo, não podem ser considerados aceitáveis para ocupantes de cargos como os que ela exerceu nos últimos anos.
Não se poderia criticar, portanto, denúncia da imprensa contra uma ministra de Estado cheia de parentes que mantêm negócios – por legais que possam ser – com empresas que, por sua vez, negociam com o mesmo Estado que ela ajudava a gerir.
O que há de errado no trabalho da imprensa é a diferença de tratamento que dá a uns e a outros. Há denúncias de que a filha de José Serra fazia o mesmo que o filho de Erenice, com o agravante de que a filha do tucano seria sócia da irmã de Daniel Dantas, indiciada criminalmente junto com o pai.
Houvesse isonomia de tratamento na imprensa, que viesse tudo para fora. Nem que não sobrasse candidato nenhum dos que aí estão. Contudo, acusações dessa natureza são sempre contra um lado só, o do PT.
A imprensa deveria expor acusações a todos ou a ninguém. Detentora dessa isenção, granjearia autoridade moral para acusar.
Recentemente, a colunista da Folha de São Paulo Eliane Cantanhêde participou de bate-papo no UOL. Um
jogo de cartas marcadas que pretendeu convertê-la em grande debatedora ao custo da censura da grande maioria dos desavisados que participaram da farsa.
Algumas perguntas questionadoras, porém, furaram a censura. Entre elas, sobre por que a mídia repercutiu a matéria da Veja contra o PT e não repercutiu a da Carta Capital contra o PSDB. Eliane respondeu que foi devido a “falta de credibilidade” da revista de Mino Carta.
Em um momento em que a Folha de São Paulo dá espaço a um escroque – que passou quase um ano na cadeia – para ele atacar Dilma Rousseff, por que não dar espaço à denúncia da Carta Capital e deixar que o leitor julgue se ela tem ou não credibilidade?
Já diante da apuração da Polícia Federal de que a servidora da Receita que acessou os dados do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, pretendia apenas ganhar dinheiro e não tinha motivação política, por que não dar ao fato o destaque que se deu à denúncia tucana que afirmava o contrário?
A sociedade percebe que a administração pública, tal como é no Brasil, permite essas contradições morais em administrações de todos os partidos, mas que elas só vêm a público em período eleitoral quando envolvem o PT. Em duas semanas, esta teoria se tornará fato.
Ao fim desta campanha eleitoral, não haverá mais como fugir desse debate. A desmoralização da imprensa avança em marcha batida, ameaçando retirar da sociedade um de seus mais eficientes instrumentos de controle do Estado.
Tentando manter a prerrogativa inaceitável de expor as mazelas de alguns grupos políticos e de esconder as de outros, a imprensa qualifica como ímpeto censor o que, na verdade, é pedido de tratamento isonômico a todos os grupos políticos.
Se o PT fizer novamente o presidente da República e as fortes bancadas que se prevê que fará no Congresso, não terá mais como adiar o enfrentamento dessa questão. Haverá que cobrar a imprensa publicamente para que trate todos os grupos políticos da mesma forma.
Chegamos a um ponto de deboche das instituições, no Brasil. A imprensa que temos tenta se colocar como poder acima do de Estado, acusando sem provas e favorecendo a alguns em detrimento de outros por razões claramente partidárias.
Não é possível que instituições privadas e partidarizadas continuem chantageando a classe política para que dance conforme a sua música, oferecendo como alternativa a execração pública.
Há um movimento crescente de indignação com esse estado de coisas. A recente representação do Movimento dos Sem Mídia à Justiça Eleitoral pedindo cumprimento da lei sobre o uso político de concessões públicas de rádio e tevê, recebeu apoio de milhares de cidadãos.
O Poder Judiciário não pode mais aceitar que essa farsa prossiga. Há leis que regulam o uso político de meios de comunicação. São pouquíssimos os que negam que a grande imprensa brasileira adotou uma candidatura a presidente.
Se esses meios de comunicação admitissem seu engajamento político, não seria nada. O problema é que há uma clara tentativa de ludibriarem o público, vendendo que são isentos e apartidários apesar da evidência escandalosa de que não é assim.
Talvez o paroxismo da manipulação pseudo jornalística que o país assiste venha a ser útil, no fim das contas. Fará a sociedade exigir que a imprensa assuma suas preferências políticas onde tem direito de fazê-lo, o que não inclui as concessões públicas de rádio e tevê..
E, para dar exemplo de honestidade imperativa a quem lida com informação, declaro ser eleitor do PT. E, como se vê, esta tomada clara de posição não me inabilita a manifestar opiniões ou a relatar fatos. Que a imprensa tenha a mesma coragem que eu.
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