Por Carlos Chagas
Tempo ainda há. Coragem, talvez não. O resultado pode ser desastroso não só para os dois candidatos que disputam o segundo turno, mas para todo o processo eleitoral. Houvesse menos desconfiança entre Dilma Rousseff e José Serra e eles já estariam decidindo, hoje, de comum acordo, interromper a lamentável segunda temporada dos debates televisivos. Porque quem tem razão, no caso, é o Tiririca: pior não fica.
Qualquer que seja o modelo, de candidato perguntando para candidato, de jornalista questionando candidato ou de locutor dando palpite descabido – a verdade é que os debates faliram. Exauriram-se sem haver, na presente sucessão, prestado o serviço de anos anteriores, de esclarecer o eleitorado. Basta registrar a pequena audiência do debate da noite passada, na TV-Bandeirantes, como de resto a audiência ínfima dos múltiplos debates realizados no primeiro turno por todas as redes. Um amontoado de chavões. A repetição monótona de respostas para perguntas que não foram feitas. A sucessão de ilusões sobre o passado e de promessas para o futuro.
Falta coragem para os candidatos enfrentarem as grandes emissoras televisivas, demonstrando que elas precisam muito mais deles do que eles, delas, e partirem para cuidar da vida e da eleição de verdade, nestas três semanas que faltam. Torna-se essencial dispensar os estúdios enlatados, o faturamento abusivo dos intervalos comerciais, os rapapés na entrada e na saída, a obrigação de permanecer passivo diante das telinhas, tudo empurrado goela a dentro do eleitor, sem a mínima participação dele a não ser no simples ato de desligar os aparelhos.
Melhores resultados alcançariam Serra e Dilma caso dedicados a comícios, visitas a municípios longínquos, carreatas, diálogo e contacto direto com o público, obrigando o cidadão comum a participar. É falsa a impressão de que assistindo debates, com supostas audiências iguais às das novelas, os eleitores definiriam seus votos. No recôndito de sua casa, de bermudas e chinelos, sem ter feito o menor esforço para ver e ouvir candidatos, o eleitor comum sente-se um rei para desligar o aparelho, ou deixa-lo ligado, sem áudio. É a história da melancia de beira de estrada, que o caminhoneiro despreza, preferindo a fruta do galho mais alto, suculenta mas a exigir esforço de quem a cobiça...
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