PARLAMENTO GREGO OBEDECE AOS MERCADOS E APROVA ARROCHO EQUIVALENTE A 1/3 DO PIB - Finanças do mundo eufóricas; caos e revolta nas ruas de Atenas. Greve geral teve adesão de 80% dos trabalhadores. Decisão do parlamento foi tomada com vantagem de 17 votos. O fetichismo da legitimação parlamentar pode iludir. Dificilmente um país que está de pernas para o ar voltará à normalidade porque 155 parlamentares à revelia de 3/4 da população assentiram que a Grécia de agora em diante pode viver fora do chão. A ordem de comando estapafúrdia dos credores já fora dada há vários meses e a resposta das ruas tem sido uma greve atrás da outra; um protesto seguido de outro. Há nisso um aprendizado coletivo de inestimável valor. A greve geral de ontem atingiu todos os setores da economia. Em Atenas, apenas o metrô mantinha-se em atividade por ordem do comando grevista para facilitar o transporte de manifestantes que se concentraram em torno do Parlamento, mas também cercaram portos, paralisando a Grécia por ar, mar e terra. De alguma forma a agonia da Grécia indica um ponto de inflexão na longa e dolorosa mas também pedagógica convalescência da crise mundial: quando o intolerável se impõe como rotina, o que seria extraordinário assume contornos de solução. O intolerável desta crise atingiu um ponto de mutação desconcertante no caso da Grécia. Rumores de defecções na base do governo foram respondidos pela Comissão Européia, ontem, com ameaças das quais só se tem notícias em episódios de ocupação quando as tropas invasoras chegam as portas do palácio e exigem a rendição incondicional dos derrotados. O capital financeiro recolheu o cheque e empunhou a chibata. Na Grécia, a crise financeira mundial assumiu uma transparência vertiginosa. Suas causas e consequencias passaram a ter um novo interlocutor que dificilmente irá silenciar: as ruas. (Carta Maior; 4º feira, 29/06/ 2011)
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