terça-feira, 2 de agosto de 2011

A ANEMIA

JUROS ESGOTAM O FÔLEGO FISCAL DO PAÍS E LIMITAM O INCENTIVO AO DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA - A indústria brasileira está perdendo fôlego: entre maio e junho, o nível de atividade caiu 1,6%. A anemia é generalizada e atingiu 20 dos 27 série pesquisados pelo IBGE. Na frente externa, o setor industrial acumula um déficit de 35% entre embarques e importações de manufaturados. O Brasil é o que hoje –e tem a classe operária que tem, com as implicações políticas inerentes a isso, entre elas a eleição de Lula-- por se distinguir entre os países em desenvolvimento como aquele que possui um parque industrial completo. A herança do 'populismo intervencionista' da era Vargas --que FHC quis sepultar-- foi preservada e ampliada até pela ditadura militar. O ciclo neoliberal e a armadilha rentista atual juros siderais que inibem o investimento, valorizam a moeda e impulsionam as importações- ameaçam esse trunfo do desenvolvimento e da democracia. O programa 'Brasil Maior' lançado hoje pelo governo (leia matéria de André Barrocal, nesta pag) tenta enfrentar os riscos de um processo de desindustrialização em curso com acertos aprisionados por claras limitações. Um ponto positivo, por exemplo, é a preferencia dada a empresas brasileiras nas licitações e compras do governo federal. A partir de agora, desde uniformes do exército a equipamentos de alta tecnologia em informática, quando produzidos no país terão a preferência nas aquisições do Estado brasileiro mesmo a um preço até 25% superior ao similar importado. Utilizar o poder de compra estatal como instrumento de política econômica nunca foi bem visto pela ortodoxia mercadista, embora seja crucial para incentivar setores industriais emergentes, ou contrastar o dumping social embutido nas importações de mercadorias asiáticas. Logo depois do 11 de setembro, os EUA não hesitaram em lançar mão do mesmo instrumento. Em pleno governo Bush, foi criado o Buy American Act. Mas se o ‘Compra Brasil’ entusiasma, os incentivos à desoneração de investimentos e à contratação de mão-de-obra (desoneração da folha de pagamento através de cortes na alíquota da Previdência) ficam a dever e causam apreensão nos sindicatos. O circulo vicioso se fecha: o governo economizou $ 55,5 bilhões no primeiro semestre deste ano para pagar juros aos rentistas da dívida pública. É o dobro do valor registrado em igual período de 2010. Ao esgotar o fôlego fiscal no sumidouro rentista, o Estado não dispõe de folga orçamentária para deflagrar uma política industrial contundente que desonere as empresas, aumente o investimento e amplie a competitividade sem prejudicar os trabalhadores. Em resumo: a origem do problema -- intocada-- limita o alcance dos esforços a sua mitigação. (Carta Maior; 3ª feira, 02/08/ 2011)

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