domingo, 14 de agosto de 2011

Sandy, sexo anal e o mundo do espetáculo.
Sandy: pegaram a jovem e bela cantora para Cristo, mas poderia ser outro ou outra
O grupo Folha da Manhã, que edita a “Folha de S. Paulo”, extinguiu o policialesco e sensacionalista “Notícias Populares” (só as viúvas reclamam de sua morte) e criou outros produtos, como o Universo Online, o maior portal brasileiro. Na prática, o UOL é um “NP” mais sofisticado e, portanto, menos desagradável. Mas abre espaço, com frequência acentuada, para notícias do mundo cão (o criminoso que foi reconhecido por conta de sua dentadura), escândalos de celebridades (quem namora quem, quem separou, a apresentadora de televisão que vai ganhar um bebê, neto de Elis Regina), da vida animal (a história do leão paralítico, que por fim morreu, merece destaque). O mundo bizarro tem cadeira cativa. A mulher que fez transplante de rosto — com “direito” a fotografias escabrosas e, ao final, a apresentação do rosto quase perfeito — foi exibida de forma quase obscena. Mas tanto no UOL quanto na “Folha de S. Paulo” nada mereceu mais destaque do que a declaração da cantora Sandy, uma mulher de 28 anos, sobre sexo anal. Os dois veículos, como os outros, transformaram Sandy e sua opinião, aparentemente mal formulada, talvez por não ter o hábito de conceder entrevistas mais longas, como a que deu à revista “Playboy”, que já entrevistou gente mais gabaritada, ao menos intelectualmente. Mas, antes, contava com entrevistadores do porte de Ruy Castro e Humberto Werneck. O fato é que o assunto, sexo anal, parece interessar aos brasileiros, ou pelo menos aos jornalistas, porque a nudez da bela Adriane Galisteu, se chamou a atenção dos homens das ruas, não conquistou a dos jornais e sites. Mas por que certos temas são apresentados como importantes e a sociedade do espetáculo os compra como relevantes?
Talvez as pessoas não avaliam que discutir sexo anal seja uma pauta decisiva. Mas o assunto é imposto à sociedade pelos jornais e portais da internet. A massiva exposição do tema praticamente obriga as pessoas a observar o que está acontecendo e a assumir alguma posição. Como posa de boa moça, a cantora Sandy ficou numa situação difícil, tentando dizer que havia sido mal compreendida. A “Folha de S. Paulo” (terça-feira, 9) convocou psicanalistas para debater o tema, na reportagem “Especialistas comentam declaração de Sandy sobre sexo anal”, assinada por Iara Biderman. O tema é uma suposta declaração de Sandy (que ela não disse, pelo menos não da forma como a revista divulgou): “É possível ter prazer anal”. “Esse auê todo é porque ela tem cara de anjo. Muita gente ainda divide as mulheres entre santas e prostitutas e, inconscientemente, acha que mulher para casar não gosta de sexo”, diz a psicanalista Regina Navarro Lins. “Foi uma declaração honesta sobre uma forma de pra-zer, e as pessoas reagem como se ela tivesse falado algo pornográfico. Julgam-se evoluídas, mas continuam angustiadas com isso”, diz o psiquiatra Joel Rennó Jr., que coordena o Pró-Mulher do Hospital das Clínicas. A cantora replicou, no Twitter: “Não foi bem aquela a minha resposta”. Lucas Lima, marido de Sandy, disse que a cantora “nunca fala-ria aquilo”.
O que está em jogo? O avanço dos costumes? Nada disso. O jornalismo quer chocar, chamar a atenção das pessoas. É a sociedade do espetáculo. Impõe-se um pauta, que é discutida como o máximo de sensacionalismo, para aumentar a audiência, e depois é esquecida. Pegaram a jovem e bela cantora Sandy para Cristo, mas poderia ser outro ou outra.

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