quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ELEGIA A UM TUCANO MORTO

Sobre a ruína política do Zé (cafetão) Serra que se avizinha, catapultada pelas baixarias e mesquinharias desta campanha de 2010, cito aqui o último poema escrito por Carlos Drummond de Andrade, em 31 de janeiro de 1987, que tem o nome de “Elegia a um tucano morto”.
Vejam trecho do poema, que mostra que a visão de mundo deste poeta maior transcende sua época. Parece que foi escrito para estes tempos, em que a esperança venceu o medo e a verdade vencerá a mentira:
“O sacrifício da asa corta o voo no verdor da floresta. Citadino serás e mutilado, caricatura de tucano para a curiosidade de crianças e indiferença de adultos. Sofrerás a agressão de aves vulgares e morto quedarás no chão de formigas e de trapos. Eu te celebro em vão como à festa colorida mas truncada, projeto da natureza interrompido ao azar de peripécias e viagens do Amazonas ao asfalto da feira de animais. Eu te registro, simplesmente, no caderno de frustrações deste mundo pois para isto vieste: para a inutilidade de nascer.”
É preciso drummondiar a vida, sempre.

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