Marcos Coimbra, Correio Brasiliense.
Contando hoje, restam quatro dias até a eleição. Tudo o que aconteceu nos últimos dois anos na vida política brasileira e muito do que vai acontecer nos próximos depende deles.
Dilma chega a esta quarta-feira com uma frente razoável nas pesquisas, maior que 10 pontos. Em nenhuma ela está atrás, e sempre acima das margens de erro. Sua intenção de votos, hoje em 49%, segundo a última pesquisa Vox Populi, não foi alcançada ontem, e é de 93% a proporção de seus eleitores que se diz decidida e não pretende mudar de ideia.
Nos 38% que Serra tem, há eleitores um pouco menos firmes. Os decididos, em seu caso, são 86%. Ou seja: enquanto ela teria apenas 7% de eleitores incertos, os dele seriam o dobro.
Os completamente indecisos, aqueles que dizem não saber em quem votar, são 8% na espontânea e 7% na estimulada, o que sugere quão adiantado está o processo de tomada de decisão das pessoas. E há 6% que dizem que vão votar em branco ou anular (no primeiro turno, esses votos somaram perto de 8,5%, sendo preciso lembrar que alguns eleitores anulam seu voto não intencionalmente).
Aceitando esses números pela aritmética (coisa sempre arriscada em se tratando de pesquisas de opinião), o pior cenário possível, para Dilma, seria perder todos seus eleitores incertos e ver a totalidade dos indecisos migrar para Serra. Nessa hipótese, ela ficaria com 46% e ele com 45%. Se, além disso, todos que saíssem de Dilma fossem para Serra, ele iria a 48% e a ultrapassaria, ainda que por poucos pontos, permanecendo a uma distância dentro da margem de erro.
Inversamente, na melhor possibilidade para ela, Dilma poderia somar a seus 49% os indecisos, indo a 56% e, se Serra perdesse o voto de seus eleitores
não firmes, e ela os recebesse, alcançaria uma dianteira de mais de 25 pontos sobre ele.
Pelo que conhecemos de eleições passadas, nenhuma dessas hipóteses extremas deve acontecer. O mais provável é que os dois preservem suas intenções de voto em proporções parecidas e que os indecisos se repartam de forma equilibrada.
Isso, é claro, se a famosa premissa do nada mais se alterando se mantiver. Nas projeções baseadas em pesquisas, é sempre assim que se trabalha. Se um fato novo acontecer, elas precisam ser refeitas. E o que pode acontecer de relevante de hoje a domingo?
Comparando o primeiro turno com a situação de agora, de uma coisa podemos ter certeza: o eleitorado não disporá da opção de um terceiro nome, por meio do qual os descontentes com as duas candidaturas principais se expressem. Em outras palavras, não haverá uma Marina Silva e todos serão obrigados a escolher em função do cardápio oferecido.
Serão, portanto, os quatro dias finais da eleição polarizada que iniciamos há tanto tempo e da qual saímos nas semanas que antecederam o primeiro turno, quando uma parte minoritária mas relevante do eleitorado buscou uma terceira via.
Agora, voltamos às velhas escolhas que cada lado apresenta ao país. Do lado de Dilma, entre continuar o governo Lula ou retroceder aos tempos em que Fernando Henrique era presidente e Serra, seu ministro. Do lado de Serra, entre sua vasta biografia ou a inexperiência eleitoral e o currículo limitado de Dilma. Um puxando para o plebiscito Lula vs. FHC, o outro para a batalha das biografias.
O que vimos no primeiro turno é que nenhum dos dois conseguiu convencer mais da metade do país que a sua era a opção a fazer. No segundo, pouca coisa trouxeram de novo.
De hoje a sábado, são três dias de propaganda eleitoral, o debate na Globo e uma intensa cobertura da mídia. Na propaganda, é pouco provável que tenhamos novidades, talvez apenas a despedida emocional de Lula. Da mídia, podemos esperar o que vimos ao longo da campanha inteira, uma clara preferência (ainda que crítica, em alguns jornais) por Serra. Resta o debate.
É nele que os candidatos mais poderão fazer para convencer os poucos indecisos que existem.
Marcos Coimbra, sociólogo, preside o Instituto Vox Populi e escreve para o ‘Correio Brasiliense’.
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