Por Carlos Chagas.
Contava Leonel Brizola, com muita graça, o dia em que precisou enganar o cardeal de Porto Alegre, D. Vicente Scherer.
Tendo dado o grito pelo cumprimento da Constituição e a posse do vice-presidente João Goulart, o então governador do Rio Grande do Sul mandou cercar o palácio Piratini de metralhadoras e sacos de areia, lá instalando a Cadeia da Legalidade. Soube que a Aeronáutica recebera ordens para bombardear a sede do governo. A Brigada Gaúcha sugeriu que uma metralhadora pesada fosse instalada na torre da Igreja Matriz, ao lado do palácio. Brizola supôs que o cardeal se negaria a permitir a instalação e, sem consultá-lo, mandou subir a metralhadora. Minutos depois vieram avisá-lo que D. Vicente estava na calçada, pretendendo ser recebido. Vinha protestar. Como ninguém entrava no Piratini sem sua licença, recomendou que deixassem o prelado do lado de fora. Pela janela, viu que devido à idade D. Vicente sentara num saco de areia, disposto a esperar. Foi quando teve a idéia: pediu para avisarem a imprensa que o cardeal queria ser recebido pelo governador para aderir à causa da legalidade. Indagado, D.Vicente não conseguiu negar, tamanho o entusiasmo dos populares ali reunidos. Voltou para a catedral bufando, mas a metralhadora só saiu da torre quando o Exército aderiu e a ameaça de bombardeio passou. O cardeal jamais o perdoou...
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