quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

OS POLÍTICOS E AS PESQUISAS

Por Marcos Coimbra, em CartaCapital
Uma das coisas que seria bom mudarem em nossa cultura política é o modo como alguns candidatos se relacionam com as pesquisas. Talvez não seja um tema prioritário na agenda do País nem um problema que exija mudança urgente em nosso sistema político e eleitoral. Mas é relevante, ainda assim.
Por mais que se brigue contra elas, é difícil imaginar a política moderna sem as pesquisas. A opinião pública acostumou-se com elas, a mídia ficaria de mãos atadas se não as tivesse, as campanhas eleitorais não saberiam o que fazer na sua ausência. Elas estão aí e vão ficar.
É claro que os políticos não são iguais na sua relação com elas. Há os que lidam com as pesquisas de maneira tranquila, seja porque conseguem lhes dar a importância devida, seja porque não lhes dão nenhuma. Políticos mais contemporâneos são capazes de usá-las de maneira serena, tendo ingressado na vida eleitoral sob sua égide. Mas um velho dinossauro como Leonel Brizola tampouco se preocupava com elas, preferindo apenas ignorá-las.
Neste ano, dois episódios são típicos dos problemas que precisam ser resolvidos. No primeiro, um candidato a governador de um grande estado conseguiu proibir a divulgação de pesquisas por um bom período, usando todos os recursos legais. De subterfúgio em subterfúgio, teve êxito até que as decisões da Justiça Eleitoral de seu estado foram reformadas pelo TSE.
O segundo foi mais visível, pois aconteceu na eleição presidencial. Um candidato, insatisfeito com os resultados das pesquisas de alguns institutos, resolveu usar das prerrogativas da candidatura para atacá-los de maneira ofensiva, tanto às empresas quanto a seus responsáveis.
O primeiro caso aconteceu no Paraná e envolve o governador eleito Beto Richa. O segundo ocorreu com José Serra.O que teria levado Beto Richa a querer ser o árbitro do que os eleitores do estado poderiam saber? Será que achava que lhe cabia criar uma nova legislação para proibir que os eleitores fossem “perturbados” pela publicação de pesquisas na reta final da eleição? Ou será que apenas temia que as pessoas fossem informadas?
E Serra, que direito achava que tinha de tratar com truculência e prepotência quem só fazia seu trabalho? Do alto do sentimento de impunidade que os políticos em campanha costumam ter, de que podem tudo e de que nada lhes será cobrado, protagonizou, nesses ataques, mais um capítulo lamentável na sua malfadada candidatura.
A razão de gestos assim está na incapacidade de reconhecer que o eleitor não é bobo, levado de cá para lá pela divulgação de pesquisas. Na dificuldade  de admitir a maioridade das pessoas e parar de temer que elas sejam influenciadas (“dirigidas”) pelas pesquisas.
Políticos desse tipo costumam dar às pesquisas uma importância maior que o cidadão. Para as pessoas comuns, a pesquisa é apenas uma das informações a considerar, raramente uma das fundamentais. Se existem, os eleitores que decidem o que fazer em razão de seus resultados formam uma parcela insignificante.
Vemos isso a cada eleição e suas evidências neste ano foram abundantes. Ou será que Dilma Rousseff teve, no primeiro turno, aquilo que a unanimidade das pesquisas lhe dava? Quanto a Marina Silva, não houve uma só que indicasse a votação que recebeu, mostrando que seus eleitores votaram ignorando os números divulgados na véspera.
Mas há um aspecto a ressaltar nos comportamentos de Richa e Serra: ambos foram relativamente bem-sucedidos no seu intento. Um conseguiu proibir a divulgação por algumas semanas; as imprecações do outro foram ouvidas (ainda que inutilmente).
Isso tem a ver com uma ambiguidade das pesquisas na nossa cultura política. Ao mesmo tempo que o meio político (candidatos, apoiadores, jornalistas) fica galvanizado por elas, é muito comum que seus resultados sejam vistos com desconfiança. Nada mais típico dessa atitude que o Judiciário.
Uma das maneiras de permitir que as pesquisas tenham um papel normal nas eleições brasileiras é os políticos pararem de agir como agem. Quando estão “bem”, abusam delas, chegando a construir candidaturas em razão de vantagens ilusórias. Quando acham que vão perder, fingem que as desprezam e saem distribuindo inverdades contra elas.
Embora menor, seria bom que o tema fosse considerado na reforma política que entra em pauta ano que vem.

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