É comum e compreensível que em momentos simbólicos na política as pessoas tentem adivinhar o que provocou este ou aquele comportamento para além do que os fatos autorizam supor. E isso acontece quer se queira, quer não. Por exemplo: a visita de um chefe de Estado simboliza apoio e deferência ao anfitrião. Ninguém visita quem desaprova.
Por outro lado, a ausência de um ícone político como Lula em um encontro entre chefes de Estado, como acontece quando o ex-presidente abre mão de se encontrar com Obama no âmbito da agenda diplomática para a visita do presidente norte-americano, pode de ter mil significados.
A política, no entanto, é feita de simbolismos. A presença ou a ausência de políticos em eventos está entre os mais evidentes. A ausência de Lula no almoço com Obama, para o qual foi convidado pelo cerimonial juntamente a outros ex-presidentes, certamente será vista como “desfeita”.
A menos que houvesse explicação oficial mais convincente do que ir a festa de aniversário de um familiar. Como não houve outra explicação, a que foi dada soa como desculpa. É meramente lógico, portanto, extraírem desaprovação da hipótese, ainda por se confirmar, de Lula vir a ser o único ex-presidente a não se encontrar com Obama durante a sua visita ao país.
A hipótese de o ex-presidente não querer ofuscar Dilma, não cola. Apesar de ser mais popular do que os outros ex-presidentes, seria grosseria de Lula se diferenciar dos colegas achando que sua presença, diferentemente das dos outros, seria a única a ofuscar a anfitriã oficial. Por mais que essa seja a verdade.
Mesmo que exista alguma razão insuspeita, que não a de Lula desaprovar Obama ou a maior aproximação comercial do Brasil com os Estados Unidos, se a razão que não se imagina não for explicada, o simbolismo da ausência ilustre permitirá ao cidadão comum inferir desaprovação do gesto do ex-presidente.
A possibilidade de desaprovação de Lula é muito séria e sobre ela não pode pairar dúvida. Se existisse, denotaria um abalo nas relações com a sucessora – que parece pouco provável, no âmbito das conjecturas. Ou que deveria ser pouco provável…
Urge, pois, que seja oferecida ao público uma explicação convincente para Lula ter sido o único ex-presidente do período pós-redemocratização a não se reunir com o presidente dos Estados Unidos. Isso se realmente for o único, se todos outros comparecerem mesmo.
Este não é um juízo de valor, é uma constatação. Não importa o que pensa o blogueiro. Importa o que a ausência de Lula parecerá. Parece-me pouco provável que ele não saiba disso ou que ao menos alguém em seu entorno não lhe tenha dito. A menos que não contassem com a mídia ressaltar tanto o fato.
Seja como for, repito que agora há um fato inescapável com o qual haverá que lidar: a ausência de Lula, devido à publicidade que tal ausência está recebendo da mídia, deixa a impressão de que há uma desaprovação do ex-presidente não só ao visitante ilustre – ou ao que ele representa –, mas à decisão de recebê-lo daquela que governa o país.
Só para que se tenha uma idéia, o porteiro do prédio, o frentista do posto e uma enfermeira relataram que acham que Lula não gosta de Obama e que estaria “puto” com Dilma por recebê-lo. Se não foi essa a mensagem que se quis passar, a versão terá que ser desmentida e a mídia terá que repercutir.
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