sexta-feira, 3 de setembro de 2010

BISCOITO FINO E A MASSA

Desde que a campanha eleitoral começou, nunca houve uma tarde com tantos boatos: pelo twitter, pelo telefome, pelo e-mail… Sobram boatos. 1 -  “Veja” e “Época” trariam matérias (de capa?) sobre Amaury, o jornalista que investigou as estranhas relações empresariais da família Serra (seria uma forma de manter o “escândalo” vivo, apesar de tudo apontar para Minas, e não mais para Brasilia?); 2 -  o “JN” da Globo estaria preparando materia especial, para retroalimentar o escândalo; uma fonte do Jardim Botânico confirmou ao blog “Doladodelá” que a reportagem em preparação incluiria até ataques a blogueiros (será mesmo?); 3 - Quem andou hoje pelos corredores da Polícia Federal de São Paulo (onde o contador Atella foi interrogado) ouviu a informação de que as investigações levam a um “secretário de governo” (do governo mineiro? de alguma Prefeitura?). Boatos e fatos. Que, por hora, não mexem nas pesquisas. Serra só cai. A pesquisa diária Vox/Band/IG apontou hoje Dilma 52% e Serra 24%.
Estranhei hoje quando ouvi o comentário de Merval Pereira, na CBN. O tema era o vazamento na Receita Federal – claro. Pensei: lá vem bomba na Dilma! Que nada. Pegou leve. Preferiu uma crítica institucional à falta de controles mais rígidos na Receita Federal.
Uai, diria o mineiro (e vocês logo entenderão porque o sotaque mineiro grudou hoje em mim), mas a turma dos colunistas da Globo/Veja/Folha não acha que a culpa foi da Dilma e que caminhamos para um Estado policial no Brasil, ou para o “stalinismo” como disse hoje a tal Eliane na “Folha? De repente, mudaram o foco?
Êta trem doido.
Mais tarde, li o Cláudio Humberto. Ele não é propriamente um jornalista simpático ao PT. Vejam o que escreveu o Cláudio Humberto (ex-porta-voz de Collor) em seu blog: Na verdade, nos últimos dois dias, não se fala de outra coisa nos bastidores do jornalismo: o fogo amigo tucano teria deixado um cheiro de pão de queijo no ar. Como agora a imprensa amiga de Serra vai sustentar a tese do “Estado policial” a serviço de Dilma?
“A investigação sobre a violação do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato José Serra, atribuída a “aloprados” do PT, pode revelar a surpresa de ter sido obra dos próprios tucanos. Na época, setembro de 2009, havia uma guerra interna pela indicação do PSDB para a disputa presidencial. Aliados de Aécio Neves atribuíam à turma de Serra a produção de dossiês contra o então governador de Minas. E vice-versa.”
Seria esse o motivo de o principal assessor de comunicação de Serra andar doido atrás de Amaury Ribeiro Junior, jornalista que investigou as privatizações e as estranhas relações de Serra e Verônica com certo empresário, e vai transformar isso tudo em livro? Por que o Marcio Aith, assessor de Serra, andou telefonando à procura de Amaury? O jornalista acaba de ser contratado pela TV Record de São Paulo, e
tem preferido manter distância dessa barafunda eleitoral. O Amaury, com sua típica fala entrecortada, já disse a vários colegas: “vou publicar meu livro assim que passar a eleição, e aí, com documentos e tudo, ficará muito clara a relação de Serra com aquele empresário”.
Sobre o cheiro de pão de queijo no ar, recomendo também o texto imperdível de Idelber Avelar, no “Biscoito Fino e a Massa”. É uma fábula apenas. Trata-se de uma conversa entre dois homens de imprensa de Minas. Eles falam sobre personagens poderosos, uns tais de Ecim, Careca e Rick. Diálogo pontuado pelo inconfundível sotaque mineiro. A história acaba por comprovar a velha frase que Nelson Rodrigues atribuía a Otto Lara Resende: o mineiro só é solidário no câncer. Confiram…
As aventuras do Careca: Fábula de um país imaginário
Por Idelber Avelar
– Rapaz, eu te falei que esse negócio dos nossos jornais não darem uma linha sobre a história era burrada. A imprensa inteira fazendo o maior auê e a gente dando manchete sobre o aumento da poluição em BH? Foi bandeira demais. Os caras só seguiram a pista.
– Eu disse ao Alvim. Era só repetir a ladainha “o aparelhamento da Receita, o Estado policial, patati patatá”. Mas não. Ficaram no silêncio, deu no que deu. Ficou óbvio demais.
– Uso do cachimbo deixa a boca torta.
– Pois é.
– O negócio já estava agourado lá atrás, quando o Ecim bateu na namorada. Pô, tá achando que Copacabana é Barão de Cocais? Lá vaza mesmo. A moça lá da Folha que é dona da boate contou, mas não deu nome nenhum.
– Quem deu?
– Aquele jornalista lá, do futebol.
– Por que o cara fez isso?
– Ele vive afogado em processos, o Ric o odeia.
– O Rick o está processando também?
– Não, sua besta, esse é outro Ric, o do futebol!
– Ah, sei. Mas o que tem a ver?
– É que o Ric é chapa do Ecim.
– Isso aí foi antes ou depois daquele recado do careca, o pó pará?
– Depois. O Ecim já sabia que o chumbo era grosso. Mas aí o Ecim já estava com a galera nossa aqui, já tinha chamado o Yruama. Quando o careca descobriu que o Rick estava processando o Yruama, endoidou. Ele é feio e desengoçado, burro ele não é. Mas aí Inês já era morta, tinha que continuar com a ladainha de que era o partido dos barbudos. Como réu, o Yruama tinha acesso aos autos. Imagina, o Yruama, repórter, macaco velho, com aquela papelada toda. O sujeito até salivou. Um franguinho assado no colo.
– O que tem na papelada?
– Toda a história de Lilliput nos anos 90. Como venderam tudo, as negociatas, tudim, tudim. O careca entrou em pânico.
– O lance é que o careca tentando fingir de indignado não convence nem minha vovozinha. É mais fácil ele aprender a dançar forró que se fingir ultrajado. Aí fodeu mesmo.
– Mas o plano não era incriminar o partido dos barbudos com o material do Yruama, aproveitando que era sigiloso?
– Tentaram. Foram lá em Brasília com aquele delegado. O sargentão estava lá também. Não conseguir
nem um aloprado pra arrastar.
– Mas a Óia não deu a matéria assim mesmo, dizendo que era o partido dos barbudos?
– Os caras foram lá, mas a história era tão fantasiosa que nem o Quaresma achou que dava pra vender.
– Mas a matéria saiu.
– Saiu, porque ali sacumé. Até o cruzamento da mandioca com o rinoceronte eles já inventaram.
– E aí, o que rolou?
– A matéria saiu na internet num sábado. Veio o domingo e nada de repercussão. Veio a segunda, nada. Não sei o que rolou na segunda, mas na terça A Esfera entrou solando, publicou matéria repercutindo. O rapaz da Folha até contou que eles nem iam pegar essa história, era vexame demais, mas como A Esfera já tinha publicado, eles tinham que seguir.
– Nem com a matéria eles conseguiram algum bobo do partido dos barbudos pra pegar um dado sigiloso e depois ser incriminado?
– Nem um. Filhos da puta. Os barbudos estão ficando espertos.
– Como é que eles descobrem a relação disso tudo aí com a cidade do Visconde?
– Internet, meu filho. Lilliput em 2010 não é Lilliput em 1989. Não sei quem foi, mas às 15 h o trem já estava pegando fogo na internet.
– Qual foi a besta quadrada que saiu da reunião dizendo “a internet já descobriu que foi o Ecim”?
– Não sei quem foi, mas vazou isso também.
– Como é que está Ecim?
– Ecim está tranquilo. Agora, o careca está em pânico.
– E o nosso esquemão aqui?
– Complicado. Descobriram as matérias clandestinas feitas à noite aqui, pra não sair no jornal e vazar pra outros.
– Como descobriram? Porra, estamos no oitavo andar!
– A meia dúzia de quarteirões do Ecim. Eu já te falei, Lilliput em 2010 não é Lilliput em 1989.
– Como se chama este bairro aqui?
– Bairro da Serra.
– Avenida Getúlio Vargas no bairro da Serra?
– Eu sei, pode rir.
– E o careca agora?
– Ficou doidão. Não pode revelar o esquema, começou a brigar com os blogs.
– Blogs?
– É uma turma suja que escreve na Internet.
– O cara quer governar Lilliput e está brigando com os blogs?
– Desespero, mô fio. O Ecim é que é esperto. O careca odeia o Ecim até mais que ele odeia o barbudão. Do barbudão ele tem é inveja.
– E o barbudão?
– Estava lá em Porto Alegre quando vazou tudo. Sendo beijado pelo povo, aquela nojeira.
– Tem perigo disso sair na imprensa?
– Tem não. Morrem de medo, rabo preso, sacumé. O lance é que dá na mesma, está todo mundo migrando pra internet.
– O Yruama está se cuidando?
– Aquele ali é doido de pedra. Você sabe, ele voltou pra Minas depois que levou aquele tiro em Brasília.
– Nosso esquemão aqui sobrevive?
– Claro. Minas é tranquilo.
– Então a mulher vai ganhar mesmo?
– De lavada.
– E o careca?
– Se fodeu.
– Acho que é até melhor pra nós.
– Com certeza.
– O careca ficou sozinho então?
– Ficou sozinho.

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