quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ENTRE GETÚLIO E LULA

Por Carlos Chagas.
Deixando as comparações para outro dia, acontece com o Lula aquilo que sessenta anos atrás aconteceu com Getúlio Vargas: quanto mais as elites se organizam para bater, mais eles crescem junto às massas. Inclua-se nas elites, como sua Comissão de Frente, os principais veículos de comunicação.
Tome-se dois atos públicos, um realizado ontem, outro previsto para hoje, ambos em São Paulo. Nas Arcadas, estranhamente ao meio-dia, demonstrando falta de experiência em marketing, um grupo de intelectuais posicionou-se contra o autoritarismo e os espaços cada vez maiores ocupados pelo Executivo, quer dizer, contra o presidente Lula. Povo, mesmo, faltou à manifestação, ainda que respeitáveis nomes da inteligência nacional emprestassem sua biografia ao documento divulgado. Por ironia, não apenas conservadores, mas até expoentes como Helio Bicudo e D. Evaristo Arns. Aceitaram subscrever o texto, também, Leôncio Martins Rodrigues, Arthur Gianotti, Celso Lafer, Carlos Velloso, Boris Fausto e outros. Registrou-se sofisticada cobertura pela imprensa, mas faltou a voz rouca das ruas.
Para hoje à noite, na sede do Sindicato dos Jornalistas paulistas, espera-se muita gente convocada pelo PT, a CUT, o MST, a UNE e outras entidades, precisamente em revide à parte da imprensa acusada de sabotagem e má vontade diante do presidente Lula e sua candidata, Dilma Rousseff. O rótulo para a manifestação é “ato contra o golpismo da mídia”. Certamente um exagero.
Noves fora a emissão de juízos de valor a respeito da contenda, a verdade é que dividendos eleitorais, mesmo, só virão favorecer o governo. É isso o que as elites de ontem e de hoje teimam em não entender: descer tacape e borduna no lombo de Getúlio Vargas e de Luiz Ignácio da Silva só transformou aquele em santo e, Deus nos livre, poderá transformar este.
Não é por aí que mudarão os ventos da corrida sucessória, de resto já decidida por antecipação. Acusar o presidente Lula de autoritarismo e de participação indevida na campanha não acrescentará um voto sequer para José Serra. Também será injustiça debitar toda a culpa da derrota ao candidato tucano. Ele errou, é verdade, desde a demora em se lançar até a hesitação diante da escolha de seu vice, no final aceitando um desconhecido silvícola. Também perdeu tempo e espaço preciosos sem apresentar projetos concretos e ordenados para energia, transporte, habitação, saúde, educação, combate à pobreza e demais propostas que poderiam ter levado o eleitorado a meditar. Limitou-se, como se limita até hoje, a sugestões pontuais e desencontradas, à maneira de conceder o décimo-terceiro salário aos beneficiados pelo bolsa-família.
O erro maior das elites, porém, está na essência do comportamento dos jornalões e sucedâneos, empenhados em denegrir e desconstruir o Lula e seu governo, como seus avós fizeram com Getúlio, em vez de apresentarem alternativas para beneficiar o povão. Em 1954 obtiveram sucesso através do golpismo de que agora são até injustamente acusados. É que naqueles idos freqüentavam o palco atores hoje retirados, os militares. Para má sorte de Getúlio e felicidade do Lula.

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